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Parashá BÔ - completa.


Resumo da Parashá
A Parashat Bô Resumida
D’us fala para Moshê e Aharon irem até o faraó para que este liberte o povo judeu da escravidão, e se assim não o fizer, D’us castigará o Egito enviando a 8a. praga, gafanhotos, que cobrirá toda a terra e acabará com todo alimento e plantações que restaram, após a praga de granizo.
Ao saber que Moshê pretendia levar todo o povo judeu, homens, mulheres, criancas e todo o seu gado, o faraó não permitiu que todos partissem, mas apenas os homens. O faraó volta as costas para Moshê e Aharon e então D’us manda os gafanhotos, dando início a destruição. A praga só é interrompida quando o faraó novamente implora a Moshê que reze a D’us para que interrompa a praga. Mas logo em seguida, assim que desapareceram os gafanhotos, endureceu novamente seu coração não deixando os judeus partirem. D’us então envia a 9a. praga: a escuridão completa. As trevas só afetavam os egipcios que permaneciam no mesmo lugar, sentados ou em pé, sem poder se mover por três dias, e somente para os judeus havia luz.O faraó apela novamente para Moshê, mas permite que partam desde que deixem seu gado para trás. Moshê não concorda, pois o gado servirá de oferta de sacrifícios para D’us. O faraó então não os deixa partir.
D’us envia a última praga ao Egito: morte aos primogênitos. D’us instruiu Moshê e Aharon sobre o mês de Nissan que será para o povo judeu o primeiro dos meses do ano e todos os detalhes envolvendo o Cordeiro Pascal, que seriam preparados para a refeição que precede o Êxodo. O sangue dos cordeiros foi colocado como sinal nas casas dos judeus para que D’us "saltasse" sobre suas casas, ferindo somente os egípcios.
D’us estabelece a comemoração de Pêssach e a proibição de ingerirmos alimentos fermentados. Também nos instrui, através de Moshê e Aharon, sobre a obrigação de todos os anos, nesta data, relatarmos o Êxodo do Egito e os milagres com que Ele nos libertou da escravidão a nossos filhos, em todas as gerações. A parsha termina estabelecendo a mitsvá de Pidyon Haben (Resgate do Primogênito) e da colocação de tefilin.

Mensagem da Parashá
Lições da Parashat Bô

Dedicação ao Tabernáculo
Nessa Porção Semanal lemos que D’us falou a Moshê e Aharon para que transmitissem uma ordem aos filhos de Israel. Deveriam orientá-los para que começassem a preparar alicerces para a futura construção do Tabernáculo de D’us. Esta ordem parece pouco realista e prematura, visto ser dada em meio à escravidão e ao sofrimento.
O objetivo de liberdade de uma nação geralmente encontra expressão em alguma proeminente instituição física ou espiritual. A liberdade do Egito encontrou sua expressão nas pirâmides, as quais nada mais eram que túmulos glorificados para os reis, às custas da miséria de milhares de escravos. A antiga Grécia, após ganhar sua liberdade dos Persas, construiu templos na Acrópole, glorificando o corpo humano.
Israel, ao ganhar sua liberdade, tinha como objetivo o Sinai, onde após lhe ser entregue a Torá, todo o povo se uniu para construir um Tabernáculo onde deveria repousar a Presença Divina. A essa finalidade, todo o Êxodo foi dedicado desde o início. E, de fato, ao estudarmos a história de Israel, após sua entrada na Terra Prometida, encontramos o climax de toda a história judaica, quando o rei Salomão construiu o Templo de Jerusalém.
O significado espiritual da Porção Bô constitui um desafio ao mundo de hoje, onde cada vez mais, pequenas nações conquistam sua independência. Ao nível individual pode ser sentida mais intensamente se levarmos em conta as condições econômicas que tendem a dar-nos cada vez mais tempo livre. O que fazemos com este tempo livre? Há duas chances: ou é tão mal aplicado a ponto de nossos dias tornarem-se uma fonte de aborrecimentos, ou por outro lado, seguindo o exemplo de Israel, utilizamos nossos dias para preparar os "alicerces para o Tabernáculo de D’us".

O livre arbítrio de Faraó

A porção da Torá desta semana, Bo, fala das últimas três pragas que caíram sobre o Egito, e do Êxodo do povo judeu. Começa com D’us ordenando a Moshê que este vá ao faraó para adverti-lo da próxima praga de gafanhotos. D’us, no entanto, declara que o faraó não dará atenção ao aviso: "Pois Eu endureci seu coração… para que vocês digam nos ouvidos de seu filho e dos filhos de seu filho aquilo que Eu fiz no Egito."
Disso aprendemos que os gafanhotos não vieram como punição pela recusa do faraó em considerar o aviso: D’us tinha endurecido seu coração para que ele fosse incapaz de concordar com a libertação dos judeus. Mas se é este o caso, não é injusto D’us punir o faraó com uma praga, quando o Próprio D’us impediu que ele acedesse ao pedido de Moshê?
Os comentaristas explicam que durante as cinco primeiras pragas, o faraó tinha livre arbítrio; ele poderia ter permitido que os judeus partissem. Foi somente depois que o faraó se rebelou contra D’us – "Quem é D’us, para que eu deva ouvir Sua voz?" – que seu livre arbítrio lhe foi tirado. Esta punição claramente se apropria ao crime: o faraó questionou a autoridade de D’us e vangloriou-se de seu próprio poder, portanto foi demonstrado a ele que ele não tinha o poder de tomar suas próprias decisões. O faraó foi então totalmente subjugado à vontade de D’us.
Além disso, o comportamento do faraó durante a praga de gafanhotos sublinhou sua impotência. Quando até seus servos imploraram para que ele libertasse os judeus – "Deixe o povo ir… Não sabe ainda que o Egito está perdido?" – o faraó concordou imediatamente e disse a Moshê e Aharon: "Vão adorar o seu D’us." Mas naquele mesmo instante D’us endureceu seu coração e o faraó foi forçado a renegar sua promessa.
Mesmo com estas explicações, ficamos ainda com um problema de ordem filosófica. Por que Moshê e Aharon tiveram de passar pelas etapas de emitir uma advertência formal se eles sabiam que não havia chance de que o faraó concordasse com o pedido deles?
Está explicado no Tanya, a obra primordial da filosofia Chabad, que mesmo uma pessoa tão mergulhada no mal que "não dispõe dos meios para se arrepender" – mesmo esta pessoa pode superar e encontrar seu caminho de volta à integridade. Até o mais corrupto e abominável pecador pode voltar a D’us.
Se o faraó, totalmente egoísta, perverso e privado de seu livre arbítrio, pudesse ter impedido as pragas finais de cair sobre seu país, fazendo um supremo esforço para superar o endurecimento de seu coração, muito mais ainda é possível para cada judeu dominar os traços negativos de seu caráter.
Uma alma judaica Divina é chamada "uma verdadeira parte de D’us", e está sempre em sua posse; a alma permanece fiel a D’us, mesmo se o corpo comete um pecado. Um judeu sempre tem o poder de fazer teshuvá, de retornar a D’us e viver em harmonia com sua verdadeira essência. D’us aguarda o retorno de um e todo judeu, pois ele pode pecar apenas externamente, e sua natureza íntima é intocada e sagrada. Adaptado das obras do Rebe.
Seleções do Midrash
Midrashim Sobre a Parashat Bô

A Oitava, Nona e Décima Praga
A Oitava Praga: Gafanhotos
Desde que Moshê e Aharon foram ao faraó com a mensagem de D’us para libertar os judeus, o faraó havia sido castigado com sete pragas. Todas as vezes havia-se negado a dar liberdade aos judeus assim que a praga havia terminado.
Desta vez, Moshê e Aharon se dirigiram a ele pela oitava vez, com a advertência de um novo castigo: uma praga de gafanhotos.
Quando os criados do faraó escutaram esta advertência, voltaram-se para o rei e disseram: "Por quanto tempo mais deixará que este homem, Moshê, nos cause problemas? Prometa-lhe que deixará partirem todos os homens judeus para servir a D’us. Mas faça com que as mulheres e crianças fiquem no Egito, para ter certeza de que os homens voltarão."
O faraó chamou Moshê e Aharon e perguntou: "A quem quereis tirar do Egito para servir a D’us?"
"Todos os judeus," disseram, "homens, mulheres e crianças. Levaremos também nossos animais."
"Jamais!" gritou o faraó. "Eu poderia deixar os homens saírem, mas de maneira alguma as crianças. Devem ficar aqui, para ter certeza de que os homens regressem. Veja só o que querem! Fugir do Egito para sempre, e não aceitam fazer alguns sacrifícios. Nunca o permitirei!" Com estas palavras, o faraó virou as costas a Moshê e Aharon.
D’us então fez soprar um forte vento que trouxe gafanhotos ao Egito.
Os egípcios haviam visto gafanhotos antes, mas nunca tantos ao mesmo tempo. Havia milhões! O céu estava tão cheio deles que era impossível ver o sol. Os campos cheios de gafanhotos, como uma gigantesca manta de criaturas saltitantes, não deixavam o menor espaço livre.
A praga anterior, o granizo, havia destruído praticamente todo o cereal, a vegetação, e o pasto do Egito. Agora os gafanhotos saquearam e devoraram até as últimas lavouras que restavam. Logo todos os campos e todas as árvores estavam desprovidos de qualquer alimento. Os egípcios se preocuparam: "Morreremos de fome!"
O Faraó apelou então para Moshê dizendo que deixaria o povo partir se a praga parasse. Moshê então saiu do palácio e rezou. D’us fez soprar outro vento levando todos os gafanhotos para for a do Egito. Imediatamente o faraó mudou de opinião e não libertou Bnei Yisrael.
A Nona Praga: Trevas
O faraó não desfrutou do alívio proporcionado pelo desaparecimento dos gafanhotos por muito tempo. Desta vez, D’us disse a Moshê: "Estende sua mão para o céu, e a escuridão descerá sobre o Egito." Moshê obedeceu e a escuridão começou a descer sobre a terra, como pesado manto negro. O dia se tornou mais escuro que a noite, e a noite se fez ainda mais escura! Os egípcios já não podiam reconhecer as silhuetas, pois tudo estava envolto na mais absoluta escuridão. De nada servia acender velas ou tochas, pois as trevas cobriam tudo.
Com três dias de escuridão, a praga imperava. D’us fez com que a nuvem negra ficasse tão espessa que os egípcios não podiam mover-se. Quem estava sentado, não conseguia levantar-se. Quem estava de pé, não conseguia sentar-se. Envolvidos na escuridão, todos os egípcios haviam se petrificado na posição em que se encontravam quando as trevas começaram. Assim, permaneceram imóveis por três dias.
Entretanto, os judeus tinham liberdade para entrar nas casas egípcias sem serem perturbados. Não apenas tinham luz nas suas casas, mas cada vez que um judeu entrava num local egípcio, a luz o acompanhava. Os judeus podiam enxergar, no entanto os egípcios na mesma casa não conseguiam ver absolutamente nada. Tal como D’us havia planejado, os judeus agora podiam abrir armários e baús dos egípcios, onde encontravam valiosos bens. Nenhum judeu tocou num só bem pertencente aos egípcios, simplesmente conferiram os objetos.
Depois, quando Bnei Yisrael saiu do Egito, Moshê os instruiu a pedir aos egípcios: "Dêem-nos ouro, prata e roupas para levarmos!"
Os egípcios afirmavam: "Não temos ouro, prata ou roupa!" E os judeus os contradiziam: "Claro que têm! Vi ouro no baú, e roupa atrás da cama." Os egípcios terminaram por admitir que os judeus estavam certos e deram o que lhes era pedido.
Algo mais sucedeu durante a praga das trevas. Entre os judeus, muitos não acreditavam que Moshê e Aharon haviam sido realmente enviados por D’us para tirar os judeus do Egito. Disseram: "Não cremos que algum dia sairemos desta terra. E mesmo que o fizéssemos, sem dúvida morreríamos de fome no deserto. Preferimos ficar no Egito."
D’us então resolveu castigá-los. Morreram nos dias de escuridão, sem serem vistos pelos egípcios, que se os vissem, teriam falado: "Veja estes judeus que morrem? São tão maus como nós!"
A Décima Praga: Morte dos Primogênitos
Quando terminou a praga da escuridão, o faraó voltou a chamar Moshê e Aharon. Disse-lhes: "Desta vez estou disposto a deixar todos saírem: homens, mulheres e crianças. Porém, devem deixar as ovelhas e o gado para trás, pois precisamos deles."
"Nós também precisamos," respondeu Moshê. "D’us nos pedirá sacrifícios. Temos de levar todos nossos animais quando partirmos."
O faraó gritou: "Fora daqui! Se tiverem a ousadia de pisar no palácio novamente, matá-los-ei!"
Moshê respondeu: "Não regressarei perante ti. Faço agora um aviso sobre a última praga: D’us, Ele próprio, descerá ao Egito no meio da noite e matará todos os egípcios que forem os filhos mais velhos. Depois desta praga, você e sua corte virão a mim e suplicarão para irmos embora."
Em seguida, Moshê partiu.
A primeira mitsvá encomendada ao povo judeu: os juízes de Bet Din (tribunal) sempre devem fixar o começo do novo mês judaico.
Antes que a nova praga começasse, D’us ordenou a Moshê e Aharon que ensinassem ao povo de Israel a primeira mitsvá (preceito). Moshê e Aharon ensinaram então aos judeus a mitsvá de Rosh Chôdesh: (primeiro dia do mês).
Assim que os judeus estiverem estabelecidos em Êrets Yisrael, o Bet Din determinaria todos os meses que dia seria Rosh Chôdesh, o primeiro dia do novo mês judaico. Como o tribunal decidiria quando começar o novo mês?
Vejamos:
Todos os meses a lua "cresce" e se "contrai". No princípio do mês a lua é pequena. Então cresce, até assemelhar-se a uma banana. Até a metade do mês está cheia e redonda, como uma laranja. Logo começa a contrair-se novamente. Volta a diminuir mais e mais, até desaparecer no fim do mês. No próximo mês, volta a aparecer.
Todo judeu que visse a pequena lua nova no começo do novo mês, deveria apresentar-se ao Bet Din. Ali informava: "Vi a lua nova no céu." Os juízes então aguardavam que chegasse outro judeu e afirmasse o mesmo. Logo formulavam às testemunhas numerosas perguntas para assegurar-se de que diziam a verdade. Se os juízes se sentissem satisfeitos, declaravam publicamente: "Hoje é Rosh Chôdesh, o começo do novo mês."
Hoje através de nosso calendário já determinamos o início do novo mês durante o ano inteiro. Porém, quando Mashiach chegar, os juízes do Bet Din voltarão a estabelecer cada Rosh Chôdesh segundo as testemunhas que viram a lua nova.

D’us Ordena Duas Mitsvot Antes do Êxodo
D’us ordena o cumpriemnto de duas mitsvot antes do Êxodo do Egito
D’us ordenou aos judeus que cumprissem duas mitsvot antes de sair do Egito. Somente assim seriam os judeus merecedores dos grandes milagres com que Ele os libertaria: Cada família judia deveria oferecer um corban Pêssach, um sacrifício de Pêssach; Todos os judeus que não tivessem brit milá (circuncisão) deveriam fazê-la antes de comer o corban Pêssach.
D’us disse a Moshê que ordenara a Bnei Israel: "Quatro dias antes de Pêssach cada família judia comprará um cordeiro ou cabra jovem. Deverá guardá-los em casa por quatro dias. Na tarde do quarto dia, deverá sacrificá-lo como corban Pêssach, uma oferenda de Pêssach."
Por que, diante de todos os animais, justamente o cordeiro foi o escolhido? Os habitantes do Egito consideravam os animais sagrados, especialmente os cordeiros. Era para eles que rezavam. Para mostrar aos egípcios que estavam equivocados, D’us ordenou aos judeus que sacrificassem cordeiros, que eram os deuses egípcios. Ao cumprir esta mitsvá, os judeus demonstraram que confiavam em D’us e que não acreditavam nos ídolos egípcios.
Por que D’us ordenou que o Povo de Israel preparasse os cordeiros antecipadamente, exatamente quatro dias antes de Pêssach?
Duas razões:
1.     Um animal é casher para corban apenas se está perfeito, se não tem defeito sobre o corpo. Durante estes quatro dias, cada família amarrou o cordeiro à cabeceira da cama e examinou o animal minuciosamente para assegurar-se de que era casher para um corban.
2.     D’us ordenou aos judeus que começassem a mitsvá alguns dias antes, para ganharem o mérito de serem tirados do Egito. Imagine que coragem tiveram as famílias judias para pegar um cordeiro – o deus dos egípcios – e prepará-lo para o sacrifício como Corban! Os judeus estavam temerosos, pensando como os egípcios ficariam furiosos quando se inteirassem do que haviam feito. Sem dúvida, matariam todos os judeus! Porém, todos escutaram as palavras de Moshê e obedeceram a ordem Divina. Cada família preparou um cordeiro quatro dias antes de Pêssach. D’us estava orgulhoso dos judeus. Ao cumprirem esta mitsvá, mostraram que já não acreditavam nos deuses egípcios. Demonstraram também que obedeciam a D’us, apesar de todo riso que corriam diante dos egípcios. Agora tinham um zechut (mérito) pelo qual mereciam ser redimidos.
D’us indica aos judeus o que devem fazer com o Corban Pêssach
D’us disse a Moshê que ordenara aos judeus: "Na tarde de 14 de Nissan, cada família deverá sacrificar seu cordeiro. Logo deverão pôr o sangue do cordeiro sobre os batentes em ambos os lados da porta principal, bem como sobre o umbral que se encontra sobre a porta."D’us passará sobre todas as casas do Egito no meio da noite de Pêssach, e matará todos os primogênitos egípcios. O sangue nas casas dos judeus será a prova para D’us que os judeus O obedecem e cumprem Suas mitsvot. Por isso, terá piedade das casas judias e nada matará ali.
"Cada família judia deverá assar seu cordeiro sobre um fogo aberto e comê-lo durante a noite de Pêssach, junto com matsot e maror (ervas amargas). O maror irá lembrá-los da dura e amarga escravidão no Egito.
"Todos deverão comer o corban Pêssach totalmente vestidos e segurando um cajado na mão, prontos para sair do Egito. D’us os tirará do Egito nesta mesma noite. Assim, devem estar prontos!Todos os anos, na noite de Pêssach, comerão um Corban Pêssach, em recordação da saída do Egito."

O Corban Pêssach na Época do Beit Hamicdash
O livro Shevet Yehudá nos conta como se apresentava o Corban Pêssach na época do Segundo Beit Hamicdash.
Em rosh chôdesh Nissan, o rei do povo judeu enviava mensageiros a todos que moravam nos arredores de Jerusalém. Os mensageiros anunciavam: "Tragam todos os cordeiros que tenham para vender, de modo que todo judeu possa comprar um animal para seu Corban Pêssach."
Todo judeu que tivesse um animal para vender o levava às colinas próximas a Jerusalém. Os cordeiros à venda eram conduzidos até um riacho para que fossem lavados cuidadosamente. Tamanha era a quantidade de cordeiros que as colinas não eram mais verdes, mas tornavam-se brancas!
No dia 10 de Nissan, quatro dias antes de Pêssach, todos os judeus que precisavam de um animal compravam um. Os quatro dias que faltavam para Pêssach eram dedicados a intensos preparativos que culminariam com a emocionante chegada do Yom Tov.
Quando chegava Erev (véspera) de Pêssach, soavam trombetas e os mensageiros anunciavam: "Escute, Povo de D’us! Chegou o momento de oferecer o corban Pêssach." Cientes da santidade da mitsvá, os judeus se vestiam com roupas festivas. Ao meio-dia todo o trabalho cessava e a única atividade era a preparação do cordeiro. Todos os judeus dirigiam-se à azará (pátio do Beit Hamicdash) com seus cordeiros.
Fora do pátio havia doze leviim que advertiam as pessoas para não empurrarem-se ao entrar. Dentro, havia outros doze, cuidando para que as pessoas não se empurrassem ao sair da azará. As pessoas entravam em três turnos. Assim que o pátio ficava lotado, os leviim cerravam as portas. Aqueles que ficavam de fora deviam aguardar até o turno seguinte. Todos os cordeiros eram sacrificados na azará. Um cohen recebia parte do sangue da ovelha num recipiente em forma de cone, feito de ouro e prata. Este recipiente cheio de sangue do corban Pêssach devia ser vertido sobre as paredes do mizbeach (altar). Centenas de milhares de recipientes cheios de sangue deviam ser levados ao mizbeach em Erev Pêssach em uma só tarde.
Qual seria a forma mais rápida para que o sangue chegasse ao mizbeach?
Os cohanin formavam filas desde a entrada do pátio até o altar. Com a mão direita, o cohen que se encontrava no começo de uma fila passava o cone de sangue ao cohen que estava ao seu lado, que por sua vez o passava ao que estava junto a ele, e assim sucessivamente até o final da fila, até que o cone chegasse ao cohen que estava junto ao altar. Então, com a mão esquerda, este entregava o cone vazio ao cohen que tinha a seu lado, e assim sucessivamente até chegar novamente ao começo da fila. Cada cohen da fila passava cones cheios com a mão direita em direção ao mizbeach e devolvia cones vazios até chegar ao começo da fila, com sua mão esquerda.
Havia numerosas filas de cohanim. Uma fila usava somente cones de prata e a seguinte, somente de ouro. Era um belo espetáculo! A rapidez com que os cones se moviam em direção ao altar, e de volta dele. Os cones pareciam flechas de prata e ouro que cruzavam os ares!
Agora já sabemos com os cohanim podiam oferecer o sangue de tantos cordeiros numa só tarde. Naturalmente, este ágil manejo dos cones não teria sucesso sem certa prática. Os cohanim começavam a treinar trinta dias antes de Pêssach. Num lugar elevado da azará (pátio) havia dois cohanim com trombetas de prata. Sopravam as trombetas a cada vez que um dos turnos começava a oferecer seus corbanot (cordeiros). Este era o sinal para que os leviim começassem a recitar o Halel com o acompanhamento dos instrumentos musicais. Os judeus recitavam Halel (salmos de louvor) junto com os leviim.
Depois de matar as ovelhas, essas eram desossadas. Nas paredes havia ganchos especiais de ferro, onde prendiam os animais para serem desossados. Depois, os cohanim ofereciam algumas partes das ovelhas sobre o mizbeach, altar.
Cada judeu levava sua ovelha para casa, para assá-la. A maioria dos fornos estava junto à porta principal da casa, para dar caráter público à mitsvá. A oferenda de Pêssach era comida em Jerusalém esta noite, pela família ou pelo grupo que se havia reunido para este corban, como meio de recitar o Halel e louvores a D’us. Durante a noite de Pêssach, os portais de Jerusalém permaneciam abertos devido à quantidade de gente que ia e vinha. As vozes dos judeus louvando a D’us podiam ser ouvidas ao longe.
Que Mashiach venha em breve, para que todos possamos voltar a tomar parte na celebração de Pêssach em Jerusalém!

D’us Ordena aos Judeus que Celebrem Pêssach Todos os Anos
D’us ordena aos judeus que celebrem Pêssach todos os anos
D’us disse a Moshê que ordenara a Bnei Yisrael: "Todos os anos, Bnei Yisrael guardará a festividade de Pêssach durante sete dias. O primeiro e o sétimo dias serão Yom Tov. Os cinco dias intermediários serão chol hamoed.* Durante este período não poderão comer chamets (massa levedada) e suas casas deverão estar limpas de todo chamets. "
Na primeira noite de Pêssach, a mitsvá é comer matsá e relatar na Hagadá Yetsiat Mitsraim, e como D’us nos tirou do Egito. Todo pai judeu deve contá-la a seus filhos, para que os milagres do Êxodo do Egito jamais sejam esquecidos.
Na verdade, desde que fomos liberados do Egito os pais têm relatado aos filhos sobre Yetsiat Mitsraim. Sentados em torno da mesa do Sêder, rodeados de filhos atentos, os pais relatam com todos os detalhes e os milagres .
* Fora de Erets Yisrael, agregamos um dia adicional a cada Yom Tov (festividade). Observamos os dias de Yom Tov, quatro dias de chol hamoed, e outros dois dias de Yom Tov.
O que acontece na noite do seder
Durante a noite do Seder, quando a família se senta em torno da mesa e relata sobre Yetsiat Mitsraim, D’us reúne todos os anjos do céu e lhes diz: "Vamos escutar como Meus filhos contam sobre a redenção do Egito." Todos os anjos se reúnem e escutam. Os anjos sentem-se felizes porque quando os judeus foram libertados do Egito foi como se D’us tivesse também sido redimido. (Quando Bnei YIsrael sofre, é como se D’us também sofresse). Os anjos também começam a louvar D’us pelos milagres que fez durante Yetsiat Mitsraim. Exclamam: "Olha como é santo o povo que D’us tem sobre a terra!"
A Torá chama a noite do Seder de "A noite protegida", pois D’us distinguiu essa noite como noite de milagres para os tsadikim de todas as gerações. Que milagres?
Alguns dos que ocorreram na primeira noite de Pêssach são:

·         Avraham lutou contra os quatro reis que haviam feito Lot prisioneiro e ganhou a guerra.
·         Durante a época do rei Chizkiyahu, o anjo de D’us matou o exército dos assírios que estavam em guerra contra os judeus. Isto aconteceu na primeira noite de Pêssach.
·         Daniel foi jogado à jaula dos leões e salvo durante esta noite.
·         Durante a noite de Pêssach, o rei Achashverosh não conseguia dormir. Fez com que lessem seu diário, e assim a história de Purim teve um final feliz.
·         No futuro, durante esta noite D’us fará milagres por intermédio de Eliyahu e Mashiach, ao final de nosso exílio.

Os Judeus Aceitam o Brit Milá e Oferecem o Corban Pêssach
Exatamente como D’us havia ordenado, Moshê instruiu os judeus a prepararem um cordeiro para Pêssach. Moshê disse também: somente os judeus que tivessem brit milá poderiam comer do corban Pêssach. Muitos judeus não tinham brit milá, pois o faraó lhes havia proibido de cumprirem esta mitsvá.
Moshê advertiu os judeus: "Não poderão comer do corban Pêssach, a menos que tenham brit milá. Podem ver que a milá é uma mitsvá importante, pois quando me encaminhava ao Egito, quase fui morto por um anjo, por não ter realizado e me apressado na mitsvá de brit milá do meu filho."
Os judeus aceitaram que Moshê lhes fizesse a milá e a seus filhos.
D’us disse: Agora Bnei Israel é digno de ser libertado. Cumpriram duas mitsvot: brit milá e a oferenda de corban Pêssach. Foi num Shabat que os judeus levaram seus cordeiros à suas casas para guardá-los como corbanot Pêssach.
Quando os egípcios descobriram que os judeus estavam sacrificar cordeiros, seus deuses, ficaram furiosos! Todos se reuniram para matar os judeus. Mas D’us fez um milagre e nenhum egípcio conseguiu fazer mal a nenhum judeu.

Por que o Shabat Anterior a Pêssach se Chama "O Grande Shabat"
Existem muitas razões pelas quais se dá este nome . Aqui seguem algumas:
Milagrosamente, D’us salvou os judeus das mãos dos egípcios que queriam matá-los por ter usado seus deuses, os cordeiros, para sacrifícios. Como este milagre aconteceu no Shabat antes de Pêssach, ficou sendo chamado de "Shabat Hagadol", o Grande Shabat, para recordar o milagre para sempre.
Neste Shabat ocorreu outro acontecimento: Quando os egípcios viram que os judeus usavam cordeiros para seus sacrifícios de Pêssach, perguntaram: "Por que estão preparando estes cordeiros?" Os judeus replicaram: "Logo D’us trará ao Egito uma praga, que será a morte dos primogênitos, e Ele nos ordenou que oferecêssemos sacrifícios de Pêssach para que fôssemos poupados desta praga."
Quando os primogênitos egípcios escutaram isso, apresentaram-se a seus pais e ao faraó e exigiram: "Deixem os judeus partirem em liberdade. Não queremos perder a vida por causa de uma praga!" Os pais e o faraó se negaram, e por esta razão os primogênitos desembainharam suas espadas. Sobreveio uma batalha na qual muitos egípcios perderam a vida. Para recordar este fato, chamamos ao Shabat em que isso aconteceu Shabat Hagadol.
Shabat hagadol também pode traduzir-se com o significado de "O Shabat dos grandes". Até agora, os judeus haviam sido como crianças pequenas, pois nunca haviam cumprido mitsvot. Neste Shabat, porém, cumpriram sua primeira mitsvá: a preparação de um cordeiro para o corban Pêssach. Este foi o começo da observância das mitsvot e em um certo sentido, agora tornavam-se "grandes", como um menino no dia de seu bar-mitsvá.

A Última Praga; Morte dos Primogênitos
Na primeira noite de Pêssach, no exato instante em que deu meia-noite, D’us desceu sobre o Egito com 900.000 anjos destruidores e matou a todos os primogênitos egípcios, tanto homens como mulheres. Nas casas em que o primogênito já havia morrido, o filho que havia nascido posteriormente a este era morto. Mesmo que um primogênito egípcio tivesse se mudado para outro país, era igualmente morto.
Os animais primogênitos também morriam, pois os egípcios oravam para eles. Se não tivessem morrido, os egípcios poderiam dizer: "Nossos deuses, os animais, causaram esta praga!" D’us também destruiu as imagens dos egípcios. Quando estes entraram em seus templos na manhã seguinte, viram que todos os ídolos de metal se haviam fundido, os de pedra quebrados, e os de madeira, apodrecidos.
Quando D’us passou sobre estas casas e matou os primogênitos, destruiu todas as casas egípcias.
Enquanto matava os primogênitos egípcios, D’us curou os judeus das dores causadas pelo brit milá.
Não pensem que um primogênito egípcio que se escondeu numa casa judia escapou desta praga. Mesmo se estivesse dormindo na mesma cama com um judeu, o egípcio morria, enquanto o judeu era poupado.

O Faraó Consente em Libertar O Povo de Israel
Esta noite o faraó foi dormir como de costume. No meio da noite, foi despertado por gritos e prantos, procedentes de todo o palácio. As esposas, os nobres e os criados do faraó haviam encontrado os primogênitos mortos. Quando o faraó viu gente morta por todos os cantos, viu que tinha que agir imediatamente. "Chamemos Moshê e Aharon agora mesmo!" gritou, em pânico. "Devem tirar até o último judeu daqui!" O faraó temia por sua própria vida também: era um primogênito – seria alcançado pela praga?
Foi uma estranha noite. Estava claro como o dia! D’us iluminou a noite para que todos pudessem ver claramente o castigo que aplicava aos primogênitos.
O faraó estava desesperado atrás de Moshê e Aharon. Mas, onde moravam? O faraó não tinha a menor idéia. Os criados saíram e começaram a bater às portas de todas as casas judias. O faraó falava em cada porta: "Preciso falar com eles AGORA MESMO!"Os judeus não podiam crer em seus olhos. Um rei egípcio que, no meio da noite, ia de porta em porta em busca de Moshê!
Os meninos judeus decidiram pregar uma peça ao faraó. "Moshê vive aqui!" exclamou um menino. "Não, aqui", contradisse outro. Demorou muito ao faraó encontrar a casa que procurava. Rogou a Moshê: "Leva todos os judeus imediatamente – homens, mulheres, crianças, e também os animais. Disseste que somente morreriam os primogênitos, mas não há uma só casa egípcia onde não haja morrido alguém!"
"Por favor, pede a D’us que não me mate também. Sou primogênito e tenho muito medo de que D’us me mate."
Moshê respondeu: "Não partiremos do Egito no meio da noite como ladrões. Iremos amanhã pela manhã, conforme as instruções de D’us!"
O Povo de Israel sai do Egito
Na manhã seguinte, homens, mulheres e crianças judeus saíram da terra do Egito. Junto com eles, foi um grande grupo de egípcios, os erev rav, que se sentiram tão impressionados após verem as dez pragas que decidiram converter-se ao judaísmo e seguir para Erets Yisrael.
Haviam preparado massa para assar e levar na viagem, mas os egípcios os obrigaram a sair com tanta pressa que os judeus não tiveram tempo para que a massa crescesse. Em vez disso, levaram consigo a massa crua, ázima. Logo assaram ao sol dando origem as matsot, pão ázimo. Os judeus também carregaram sobre os ombros a matsá e o maror que sobrara de seu jantar de Pêssach. Não quiseram pôr esses restos sobre o lombo de burros e os carregaram eles mesmos, tamanho o valor que davam às mitsvot de D’us.
Antes que o Povo de Israel partisse, Moshê ordenou: "Peçam ouro e prata a seus vizinhos egípcios." Assim o fizeram, e os egípcios deram aos judeus tudo o que pediam. Assim, D’us cumpriu uma promessa que havia feito a Avraham há mais de quatrocentos anos: "Teus filhos (Bnei Yisrael) morarão em uma terra estrangeira e serão escravos ali. Mas logo irão embora, com grandes riquezas."

Como D’us Libertou Bnei Israel Apesar da Magia dos Egípcios
Os egípcios eram mágicos fabulosos. Sabiam, com seus truques, como impedir que qualquer um saísse do Egito sem sua permissão. Em cada portal do Egito colocaram cães de ouro. Essses cães começavam a latir, assim que um escravo tentava fugir do Egito. Castigavam o escravo que escapasse, para que este não pudesse sair dos limites do país.
Quando D’us libertou Bnei Yisrael do Egito, porém, anulou toda a magia. Nem ao menos um dos cães mágicos sequer abriu a boca contra Bnei YIsrael. Os judeus saíram sem nenhum impedimento. D’us ordenou a Moshê a instruir a Bnei Yisrael em duas mitsvot que os ajudariam a lembrar para sempre como D’us os havia libertado do Egito.
 Na manhã seguinte, homens, mulheres e crianças judeus saíram da terra do Egito. Junto com eles, foi um grande grupo de egípcios, os erev rav, que se sentiram tão impressionados após verem as dez pragas que decidiram converter-se ao judaísmo e seguir para Erets Yisrael.
Haviam preparado massa para assar e levar na viagem, mas os egípcios os obrigaram a sair com tanta pressa que os judeus não tiveram tempo para que a massa crescesse. Em vez disso, levaram consigo a massa crua, ázima. Logo assaram ao sol dando origem as matsot, pão ázimo. Os judeus também carregaram sobre os ombros a matsá e o maror que sobrara de seu jantar de Pêssach. Não quiseram pôr esses restos sobre o lombo de burros e os carregaram eles mesmos, tamanho o valor que davam às mitsvot de D’us.
Antes que o Povo de Israel partisse, Moshê ordenou: "Peçam ouro e prata a seus vizinhos egípcios." Assim o fizeram, e os egípcios deram aos judeus tudo o que pediam. Assim, D’us cumpriu uma promessa que havia feito a Avraham há mais de quatrocentos anos: "Teus filhos (Bnei Yisrael) morarão em uma terra estrangeira e serão escravos ali. Mas logo irão embora, com grandes riquezas."

Pidyon Haben e o Tefilin
O Resgate do Primogênito e os Filactérios
Como D’us salvou todos os primogênitos judeus da morte no Egito, decretou que todo primogênito judeu é santo e lhe pertence. Para tanto, os pais judeus devem redimir seu filho primogênito de um cohen. Como se faz isso? Os pais do filho primogênito pagam ao cohen com dinheiro ou algum objeto que valha cinco selaim (aproximadamente R$ 100,00) aos trinta dias de vida do filho, nascido de parto normal.
D’us também estipulou que cada animal primogênito casher pertence ao cohen, a menos que o proprietário pague para redimi-lo do cohen. Tampouco pode um proprietário judeu utilizar o primogênito de um burro.
A mitsvá de colocar tefilin (filactérios)
D’us ordenou que todos os homens judeus a partir dos treze anos ponham tefilin todos os dias, exceto Shabat, Yom Tov e Chol Hamoed. Os tefilin contém em seu interior um pergaminho, onde estão reproduzidas algumas partes da Torá. Alguns dos pesukim (versículos) que estão nos tefilin referem-se a Yetsiat Mitsraim. Por conseguinte, ao colocarmos tefilim também recordamos os grandes milagres de D’us para nos libertar do Egito.

Artigos
Artigos Sobre a Parashat Bô

O Que Há de Errado Com os Políticos?
Por Elisha Greenbaum
Há muitos homens e mulheres notáveis que se distinguiram no serviço público. O que lhes permite serem bem-sucedidos enquanto outros falham? Para dar uma pincelada geral, pode-se sugerir que há dois tipos diferentes de políticos.
O primeiro tipo é o vilão por excelência, que não tem vergonha de encher o próprio bolso. Eles podem falar bonito em público; podem fazer todos os barulhos certos sobre transparência e responsabilidade enquanto tentam ser eleitos. Mas se os conhecer pessoalmente, você logo verá que não existe uma só fibra de altruísmo neles.
Um subconjunto dessa primeira classe é o sujeito incompetente que é esperto o suficiente para abrir caminho na política apesar de sua incapacidade, e tem astúcia bastante para permanecer lá durante décadas, assaltando o bolso público. Eles jamais sobreviveriam no mundo comercial, onde as pessoas são julgadas pelos resultados e onde o fracasso é recompensado com a demissão, não com uma pensão vitalícia.
O segundo tipo de político falho é o indivíduo honesto, bem intencionado, realmente dedicado, que deseja fazer uma diferença e deixar uma influência positiva no mundo. Eles trabalham bastante pela causa comum, e sacrificam família e saúde em sua dedicação aos constituintes. Certamente são bem intencionados, mas dificilmente atingem a longevidade. Como mariposas consumidas pela chama do próprio altruísmo, eles tendem a se queimar rapidamente e, muito depressa, desaparecem da vida pública, tendo ficado sem ideias e achando impossível manter seus altos padrões.
Um verdadeiro líder está acima da divisão de uma dessas duas opções. Seu foco é servir aos outros, mas não se esquece da necessidade de auto-realização e auto-melhoramento no processo.
Certa vez ouvi o secretário do Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, descrever a rotina do Rebe. Ele enfatizou que juntamente com todos os seus esforços comunitários, estratégias internacionais, pronunciamentos públicos e atenção a indivíduos e grupos, mesmo assim o Rebe reservava a maior parte de seu dia, diariamente, para estudo privado. Fomos apresentados a Moshê, o maior líder da história e o homem que por si só inspirou uma nação e nos levou do sofrimento à oportunidade. A Torá registra que a partir do momento em que ele nasceu, “ele era bom”. Os comentaristas explicam que esta “bondade” essencial poderia ser observada em duas maneiras diferentes: 1) Ele nasceu circuncidado, e 2) quando ele nasceu a casa inteira ficou repleta de luz.
Eu sugeriria que esses dois milagres representam a grandeza que foi Moshê, e demonstram suas qualidades essenciais como líder dos homens. Um líder é uma luminária, enchendo o aposento com a luz de sua personalidade. Liderança é o ato de estar ali para os outros, e causar impacto em suas vidas para o melhor. Mesmo quando jovem, Moshê foi marcado como embaixador da bondade e gentileza, e para sempre seu brilho reluziu na vida de seu povo.
Porém um líder não pode apenas falar com outros; ele tem de se tornar um modelo de excelência por direito próprio. Quando circuncidamos nossos filhos os transformamos em judeus completos, tanto física quanto espiritualmente. O fato de Moshê ter nascido circuncidado demonstra que ele tinha atingido sua própria medida de perfeição, e assim teve o direito de tentar influenciar os outros.
Todos nós temos a capacidade de realização, e a responsabilidade e capacidade de liderar. Nosso maior propósito na vida é fazer contato e levar a luz do Judaísmo ao coração e mente de todos.
No entanto, temos uma responsabilidade concomitante de assegurar que nossa própria casa espiritual esteja em ordem e que façamos jus aos ideais que abraçamos publicamente. Se pudermos operar nessas duas frentes como uma, então correspondemos aos padrões de nosso líder Moshê, e estamos trilhando seu caminho de bondade.

Pidyon Haben
Redimindo o Filho Primogênito
A Torá menciona que todo primogênito é sagrado para D'us. Esta mitsvá é mencionada três vezes na Torá.

O que é

Cada judeu (exceto cohen ou levi) deve redimir seu filho primogênito nascido (de parto natural, sem aborto anterior) de mãe judia (não filha de cohen ou levi) no 31º dia de vida, com cinco shecalim (moedas de prata equivalentes a 101 g de prata pura). Esta quantia de resgate deve ser entregue, em prata, ao cohen durante a cerimônia. Se o 31º dia coincidir com Shabat ou Yom Tov, (que proíbe transações comerciais) deve ser adiada para o dia seguinte.

Origem

Os primogênitos foram inicialmente escolhidos por D'us para exercerem os deveres do sacerdócio (kehuná) em virtude de terem sido poupados quando o Criador matou os primogênitos egípcios. Entretanto, quando os primogênitos judeus executaram os rituais sacerdotais diante do bezerro de ouro, esse chamado sagrado foi transferido para os cohanim.

A fim de libertá-los legalmente dessa obrigação original, eles devem ser resgatados com cinco moedas de prata (shecalim), pagos a um cohen. O procedimento deste resgate não se aplica a um primogênito cujo pai é um cohen ou levi, ou a mãe filha de cohen e levi.

Procedimento

É costume cumprir esta mitsvá à luz do dia; entretanto a festa que se segue pode se estender até a noite. Prepara-se uma refeição (que deve conter pão e carne), em honra ao resgate do primogênito. Esta refeição é considerada seudat (refeição de) mitsvá.

A cerimônia do pidyon é realizada após a bênção sobre o pão antes de servir a refeição.

Se, por alguma razão, o primogênito não foi resgatado no tempo prescrito, isto deve ser feito na primeira oportunidade, mesmo sendo o menino já adulto. (Neste caso, ele próprio deve resgatar-se perante um cohen.)

O pai deve escolher um Cohen observante e bem versado na Lei Judaica para redimir seu filho na frente do qual apresenta o filho primogênito e as cinco moedas de prata as bênçãos específicas.

Bênçãos do resgate

O pai da criança declara:

Ishti hayisreelit yaledá li ben zê habechor.

"Minha esposa israelita deu à luz para mim este filho primogênito."

O cohen pergunta:

Bemai ba'it tefê, bevinchá vechorêcha, o becha-mishá sela'im dimchayávta liten, befidyon binchá bechorêcha zê?

"O que preferes ter - teu filho primogênito ou as cinco moedas de prata que deves [me] dar pelo resgate de teu filho primogênito?"

O pai responde:

Be'iná bivni vechori zê, vehelach chamishá sela'-im befidyon dimchayávna bêh.

"Prefiro este meu filho primogênito e eis as cinco moedas de prata exigidas de mim pelo resgate."

Ao entregar ao cohen a quantia do resgate, o pai recita as seguintes bênçãos:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu al pidyon haben.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou sobre o resgate do filho."

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, shehecheyánu vekiyemánu vehiguiánu lizman hazê.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos deu vida, nos manteve e nos fez chegar até a presente época."

Com um cálice de vinho na mão (contendo no mínimo 86 ml), o cohen recita a bênção sobre o vinho imediatamente após o resgate, bebendo-o em seguida:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam borê peri hagáfen.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que cria o fruto da vinha."

Na conclusão da refeição recita-se o Bircat Hamazon, Bênção de Graças.

Pidyon Bechor

Resgate do primogênito (adulto)

O pidyon haben não deve ser adiado. Porém, um primogênito cujo pai não o redimiu deve resgatar a si próprio, tão logo seja possível, após tornar-se bar-mitsvá.

O primogênito deverá dizer:

Ani bechor pêter rêchem, veha'Cadôsh baruch Hu tsivá lifdot et habechor.

"Sou um primogênito que abriu o ventre materno e o Santo, bendito seja Ele, ordenou resgatar o primogênito."

O cohen pergunta:

Bemai ba'it tefê: yat garmach, o bechamishá sela'im dimchayávta befurcanach?

"O que preferes - a si próprio ou as cinco moedas de prata que deves [me] dar pelo resgate?"

O primogênito responde:

Be'iná yat garmi, vehelach chamishá sela'im befid-yon dimchayávna bêh.

"Prefiro a minha pessoa e eis as cinco moedas de prata exigidas de mim pelo resgate."

Ao entregar ao cohen a quantia do resgate, o primogênito recita as seguintes bênçãos:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech Haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu al pidyon bechor.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou sobre o resgate do filho."

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech Haolam, shehecheyánu vekiyemánu vehiguiánu lizman hazê.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos deu vida, nos manteve e nos fez chegar até a presente época."

Com um cálice de vinho na mão (contendo no mínimo 86 ml), o cohen recita a bênção sobre o vinho imediatamente após o resgate, bebendo-o em seguida:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam borê peri hagáfen.

"Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que cria o fruto da vinha."

Na conclusão da refeição recita-se o Bircat Hamazon, a Bênção de Graças.

Significado

A mitsvá de Pidyon Haben significa que o "primeiro" (o melhor) de todos os nossos bens pertence a D'us. Um homem pode facilmente ser levado a pensar que tem direitos acima de qualquer disputa sobre todas as suas posses.

A Torá declara que o início de qualquer realização, da qual nos orgulhamos em especial, deverá ser para D'us e o Seu serviço, e só então podemos participar e aproveitar do restante. Isto era mais perceptível na época do Templo Sagrado, quando os primeiros frutos tinham que ser trazidos ao Santuário e os primogênitos do gado eram ofertados ao Cohen, o servo de D'us. Entretanto, D'us nos permitiu reivindicar nosso filho primogênito, desde que nos comprometamos a educá-lo nos passos da Torá.

Isto fica nítido através da pergunta retórica que o Cohen apresenta: "O que preferes - teu filho ou cinco moedas de prata?"

Já que o pai é obrigado a resgatar o filho de qualquer forma. A pergunta implícita é: "Estás consciente da tua obrigação de criar teu filho para ser dedicado a D'us, estudar a Torá e cumprir as Mitsvot? Compreendes que para educar uma criança apropriadamente deves estar preparado para fazer sacrifícios materiais se for preciso?"

Ao que o pai responde: "Eu quero o meu filho e aqui estão as cinco moedas de prata", este é o testemunho de que ele entendeu plenamente a responsabilidade e o privilégio de criar seu filho para ser motivo de orgulho de D'us e de todo o povo de Israel.

Carta do Rebe

Baruch Hashem,

Paz e Bênção!

Em resposta ao convite para o Pidyon Haben de seu filho, que tenha vida longa.

Que seja a vontade de D’us que esta seja numa hora boa e propícia, e que, junto com sua esposa, o eduquem para o estudo de Torá, ao casamento e para uma vida de boas ações, em prosperidade, material e espiritualmente.

O preceito de resgatar o primogênito é em troca de D’us ter resgatado os primogênitos israelitas quando houve a praga sobre todos os primogênitos no Egito.

Nossos Sábios nos ensinaram a nos assemelhar com D’us: “Da mesma forma que Ele é bondoso e piedoso seja você também”. Desta mesma forma, cada um e cada uma, tendo a possibilidade, deve salvar filhos e filhas do povo judeu, que sobre todos foi dito “meu filho primogênito, Israel”, para que não se assimilem entre as nações, D’us nos livre, conectando-os com a Torá viva, e desta forma estarão “vivos hoje todos perante Ti”.

Que seja a vontade de D’us que brevemente em nossos dias tenhamos todos o mérito de presenciar nosso Pai Celestial redimindo Seu primogênito, Israel, deste último exílio, e meu sogro, o Rebe, vai nos levar ao encontro do justo Mashiach brevemente. Amen.

Rabino Menachem M. Schneersohn

O Tefilin
E as atarás como sinal na tua mão e serão por filactérios entre teus olhos". ( Deut.VI:8)

O que é

O termo Tefilin é reminescente da palavra Tefilá (prece).

Consiste em duas pequenas caixas quadradas de couro de um animal casher, permitidos para consumo. Devem formar um quadrado perfeito e as tiras de couro devem ser pintadas de preto, sem qualquer falha. Dentro de cada caixa encontram-se escritos em pergaminho (que também é feito de um animal casher), quatro parágrafos da Torá.

A Torá apenas nos diz que devemos "amarrá-los sobre a mão e devem ser como lembrança entre os olhos". Os detalhes de como devem ser escritos, preparados, encaixados foram transmitidos através da Tradição Oral, a partir de Moshê (Moshé) que recebeu todos os detalhes do procedimento diretamente de D'us, até que foram anotados pelos sábios na Mishná, no Talmud e no Shulchan Aruch, para que não fossem perdidos.

As caixinhas são chamadas de "de-cabeça"- shel rosh "e "de-mão"- shel yad.

A caixinha "de-mão" é colocada sobre o braço esquerdo de maneira a ficar encostada junto ao coração, sede das emoções, com a correia de couro suspensa sendo enrolada na mão esquerda, bem como no dedo médio. Tem uma única divisão com as passagens da Torá em um só pergaminho.

A "de-cabeça" é colocada acima da testa, de maneira a pousar sobre o cérebro. Contém quatro divisões com pergaminhos sobre os quais estão escritas quatro passagens da Torá.

A Torá descreve Tefilin como um sinal de envolvimento do indivíduo expressando seus sentimentos básicos de identificação e valores judaicos.

Os Tefilin são colocados no braço, junto ao coração e sobre a cabeça a partir do momento em que o menino completa 13 anos, seu bar- mitsvá. Isto significa a ligação dos poderes emocionais e intelectuais a serviço de D'us.

As tiras, estendendo-se do braço para a mão e da cabeça às pernas significam a transmissão da energia intelectual e emocional para as mãos e os pés, simbolizando sentimento e ação.

Conteúdo

Os quatro parágrafos da Torá que se encontram dentro dos Tefilin são:

• Shemá Israel - Proclama a Unidade Divina, base fundamental da fé judaica: descreve a ordem Divina de colocar os Tefilin sobre a mão e a cabeça.
• Vehayá Im Shamoa - Expressa a promessa de D'us, da compensação que nos advirá da observância dos preceitos da Torá e o aviso da retribuição pela desobediência aos mesmos.
• Cadêsh Li - O dever de Israel de sempre relembrar a redenção da escravidão no Egito.
• Vehayá Ki Yeviachá - Recorda o dever de cada pai judeu de ensinar a seus filhos todos estes temas.

Por que colocar Tefilin

As mitsvot, preceitos judaicos, são mandamentos Divinos que devemos cumprir. Cada mandamento tem uma maneira particular de beneficiar o judeu que a pratica. A Torá diz sobre os Tefilin: "E verão todos os povos do mundo que o Nome do Eterno é invocado sobre ti e te temerão".

O indivíduo deve lutar pela perfeição que só pode ser atingida quando cabeça, coração e mão funcionam juntos, os sentimentos do coração, o entendimento da mente e as ações da mão devem estar em consonância uns com os outros.

O próprio ato de colocar Tefilin fornece uma infusão de força espiritual ao seu usuário, capacitando-o a viver uma vida em harmonia e total equilíbrio da mente, coração e ação. Os Tefilin nos ensinam que os desejos do coração podem e devem ser dominados e elevados por intermédio dos princípios da Torá.

Outros significados

O livro Zôhar diz que atando os Tefilin, "se amarra o instinto maligno" da pessoa. Daí a sua colocação no lado esquerdo, lado mais fraco. Assim o braço não está mais livre para mover-se contra a vontade de D'us. As correias atadas envolvendo o braço com os conceitos enunciados nos Tefilin, são para lograr que o ser humano alcance o nível predisposto de "Amarás a D'us com todo teu coração, com toda tua alma e com toda a tua força", conforme o Shemá Israel, presente nos Tefilin.

As sete voltas

A cabeça deve comandar o coração. O coração é considerado o centro das emoções, que são divididas em sete tipos, dentre as quais amor, temor e piedade.

As três voltas no dedo médio

Um dos simbolismos dos Tefilin é a devoção e afeição entre D'us e Israel, que são citados como noivos. Assim as voltas em torno do dedo simboliza uma aliança, e uma tríplice referência ao noivado de D'us com Israel.

As duas tiras que caem

Significam a influência da cabeça sobre o resto do corpo, em seus lados direito e esquerdo. As duas tiras são a continuidade da tira que circunda a cabeça e que começa a se ramificar a partir de um nó especial na parte de trás, que é o ponto de encontro entre o cérebro e o cerebelo bem como o começo da espinha.

Tudo isto indica que assim como fisicamente o cérebro é o centro nervoso mais vital e que controla o corpo todo, também espiritualmente o intelecto serve para guiar toda a vida do judeu; o corpo, com todos seus membros e órgãos deve estar a serviço dos mandamentos Divinos diariamente.

Campanhas

O Lubavitcher Rebe lançou a Campanha de Tefilin em 1967, um pouco antes da Guerra dos Seis Dias, proclamando, na época, que a situação de Israel estava em perigo e, para evitá-lo, quanto mais pessoas colocassem Tefilin melhor; com isso conseguiríamos acabar com os inimigos "abatendo-os pelo braço e pela cabeça" (Devarim XXXIII:20).

Mais tarde, o Rebe atribuiu os milagres daquela guerra ao grande número de pessoas que colocaram Tefilin. Israel necessita ainda de grandes milagres no setor de segurança e a mitsvá de Tefilin, como sempre, é de grande ajuda.

O Tefilin de-mão deve ser colocado antes do de-cabeça. Isto representa o princípio judaico de que a prática deve vir antes da teoria. Devemos antes obedecer os mandamentos Divinos, sem questioná-los e só então entender e se aprofundar em seu significado. A ação deve estar acima da razão elevando o indivíduo a um grande nível espiritual, mesmo sem sua total compreensão e apenas com seu simples consentimento em querer cumprir um mandamento Divino.

A mitsvá de Tefilin é equivalente a todas as outras mitsvot da Torá (não isentando o indivíduo no cumprimento das demais). No Tefilin da cabeça estão gravadas duas letras Shin (do alfabeto hebraico), sendo que uma tem três pontas e a outra tem quatro pontas. O valor numérico da letra Shin é 300; a soma das duas totaliza 600, sendo que as duas letras juntas formam a palavra Shesh (que significa seis), o que soma 606. Se adicionarmos o número de pontas das duas letras, que é sete, chegaremos ao total de 613 que é o número correspondente aos preceitos da Torá.

Os diferentes compartimentos

Existem duas explicações por que o Tefilin da mão possui as quatro Parshiot em um compartimento único, enquanto o Tefilin da cabeça, em quatro.

1. O Tefilin de-cabeça vem lembrar ao homem de submeter os seus olhos e seus ouvidos a D'us. O Tefilin de-mão vem subordinar apenas um órgão, o coração, fazendo com que as emoções e sentimentos sejam dirigidos a D'us.

2. O Tefilin de-mão tem um só compartimento equivalente ao sentido do tato, enquanto o de-cabeça possui quatro compartimentos, equivalentes aos quatro sentidos encontrados na cabeça: visão, audição, paladar e olfato. Assim a pessoa desperta todos os seus sentidos para o serviço Divino.

Quando o homem coloca Tefilin de manhã, quatro anjos cumprimentam-no ao sair pela porta.

Como se colocam os Tefilin

O procedimento de colocação dos Tefilin (conforme o costume Chabad) é como segue:

1- Retira-se da bolsa primeiramente o Tefilin de-mão.

2- A pessoa deve estar de pé.

3- No caso de um canhoto: se a pessoa nasceu assim e escreve somente com a mão esquerda (mesmo que faça outras atividades com a mão direita), então coloca o Tefilin na mão direita, que é a sua esquerda (sua mão fraca). Porém, se a pessoa apenas aprendeu e acostumou-se a escrever com a esquerda deve seguir o procedimento normal (de colocar na esquerda) a não ser que tenha se acostumado a realizar todas as atividades com a mão esquerda: neste caso deve agir como canhoto. Coloca-se o cubículo do Tefilin sobre o bíceps (músculo) superior do antebraço esquerdo e ajusta-o de maneira que a caixa fique encostada junto ao coração. Deve-se tomar cuidado para que a alça de couro pela qual a tira é passada fique acima da caixa. O Tefilin deve estar um pouco inclinado contra o corpo, de modo que com o braço estendido para baixo, o cubículo esteja realmente voltado para o coração.

4- Deve-se cuidar para que o nó em forma de "Yud" esteja sempre bem encostado à caixa do Tefilin de-mão.

5- Ao iniciar a colocação do Tefilin na mão, deve-se tomar em conta que a passagem por onde a correia atravessa o cubículo esteja na parte superior do braço, estando assim o cubículo abaixo da correia e não ao contrário.

6- Antes de apertar a tira, recita-se a benção:

Baruch Atá A-do-nai, Elo-hê-nu Mêlech haolam, asher Kideshánu bemitsvotav, Vetsivánu Lehaníach tefilin.

Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou colocar tefilin.

7- Após ter dito a benção, aperta-se a correia dentro do nó (cumprindo assim a Mitsvá de "as amarrareis como um sinal em tua mão").

8- Afixa-se o Tefilin de modo que o braço já esteja circundado por uma volta da correia. Nosso costume é de enrolar a correia mais duas vezes sobre a passagem por onde ela atravessa o cubículo (de modo que forme a letra "Shin", a primeira do nome Divino "Sha-dai").

9- Prossegue-se então pelo braço, onde se dão sete voltas (a última delas em forma perpendicular, resultando assim a letra "Dalet", a segunda do nome "Sha-dai", cuidando para que o lado negro das correias fique no exterior.

10- O resto da tira é enrolada na palma da mão.

11- Não se deve fazer qualquer interrupção, seja falar ou gesticular, desde o início da colocação do Tefilin no braço até o final da colocação do Tefilin na cabeça. Caso tenha interrompido, se isso ocorreu após a benção e antes do início da colocação do Tefilin de-mão, deve-se voltar a dizer a benção de "Lehaniach Tefilin"; porém se a interrupção ocorreu após o início da colocação do Tefilin no braço (e somente se esta interrupção não foi por assuntos referentes ao Tefilin), então termina-se a colocação no braço e recita-se a seguinte benção após a colocação do Tefilin de-cabeça, antes de ajustá-lo:

Baruch Atá A-do-nai, Elo-hê-nu Mêlech haolam, asher Kideshánu bemitsvotav, Vetsivánu al mitsvat tefilin.

Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou sobre o preceito de tefilin.

12- Imediatamente a seguir apanha-se o Tefilin de-cabeça, colocando-o de maneira que a caixa descanse acima da testa, o nó pousando logo acima do pescoço, acima da protuberância occipital devendo ser regulada para que o Tefilin fique fixo. A aresta inferior da caixa não deve descer abaixo das raízes dos cabelos; deve ficar centrada num ponto bem no meio entre os olhos.

13- Ajustam-se as correias ao redor da cabeça de modo que o Tefilin fique firmemente ajustado. As duas correias que saem do nó devem ser passadas pelo costado do pescoço para que caiam perpendicularmente por sobre a frente da pessoa que as coloca.

14- Tendo assim ajustado o Tefilin de-cabeça, agora desenrola-se a tira que envolve a palma, para dar três voltas em torno do dedo médio (formando a letra Dalet), a primeira na falange inferior (junto da palma), a segunda na falange do meio e a terceira novamente na falange de baixo. O restante da tira é então enrolado na palma da mão (fazendo um nó no final).

15- O primeiro trecho do Shemá é o mínimo obrigatório que deve ser recitado com os Tefilin. A prece completa encontra-se no Sidur, Livro de Orações.

Como se retiram os Tefilin

O procedimento para a remoção dos Tefilin é como segue:

1- A pessoa deve estar em pé.

2- Primeiro o dedo médio é libertado, desenrolando a tira que o envolve (a extensão da tira resultante deve ser enrolada na palma).

3- Depois o Tefilin de-cabeça é retirado com a mão esquerda, dobrado e colocado na sacola.

4- Então tira-se o Tefilin de-mão. É dobrado e guardado. É costume colocar o Tefilin de-cabeça no lado direito e o de-mão no lado esquerdo da sacola.

Algumas Leis Referentes aos Tefilin

1- Um menino judeu, ao completar treze anos de idade, é considerado uma pessoa adulta. Ele então se torna Bar-Mitsvá, significando que é obrigado a viver conforme todas as leis e costumes de Israel. É costume iniciá-lo na prática de colocar os Tefilin algumas semanas antes da data exata de seu aniversário. Pelo costume Chabad inicia-se a colocação dos Tefilin exatamente dois meses antes do 13º aniversário (de acordo com o calendário hebraico). Depois de praticar um mês sem pronunciar a benção, começa-se a recitá-la.

2- Ao comprar um par de Tefilin, deve-se ter o cuidado de adquiri-lo de pessoa confiável, a fim de ter certeza que os Tefilin foram escritos à mão por um Sofêr, escriba, devidamente qualificado. Aqueles produzidos sem os requisitos especificados pela nossa Lei não devem ser usados.

3- Os Tefilin devem ser colocados nos dias de semana e não podem ser colocados Shabat e Yom Tov (inclusive Chol Hamoêd, pelo costume Chabad).

4- Os Tefilin devem ser colocados antes de começar a Prece Matinal, para que estejam sobre a pessoa ao recitar a leitura do Shemá .

Pode-se colocar os Tefilin a partir do momento que seja possível - numa distância de aproximadamente dois metros e apenas com a luz natural - reconhecer a fisionomia de algum conhecido.

Entretanto, se por algum motivo foi impossível fazê-lo de manhã, ainda podem ser colocados mais tarde durante o dia, mas não após o pôr-do-sol.

5- As tiras tanto do Tefilin de-mão quanto do Tefilin de-cabeça devem sempre ser colocados com o lado preto voltado para cima.

6- Durante o ato de colocar Tefilin é proibido interromper o procedimento por conversa ou gesto. A única interrupção permitida é responder Amên quando ouvir alguém mais fazendo a bênção sobre Tefilin. Se uma interrupção não autorizada fôr feita, a bênção Al Mitsvat Tefilin deve ser dita ao colocar o Tefilin de-cabeça.

7- Os Tefilin devem ser colocados sobre o braço e a cabeça nus, sem obstáculos, sendo que a Kipá e/ou chapéu são afastados um pouco para trás. Quando usar uma camisa de manga comprida, esta deve ser enrolada para cima; assim o Tefilin ficará em contato direto com o braço.

8- Se por algum motivo for impossível colocar o Tefilin de-mão, o Tefilin de-cabeça tem de ser colocado e vice-versa. Em cada um dos casos a respectiva bênção é recitada.

9- Exige-se que a pessoa esteja constante e respeitosamente consciente dos Tefilin quando os estiver usando. Por isto deve-se tocar nos Tefilin, beijando-os em certas partes da Prece Matinal. Toca-se no de-mão ao dizer "E os atarás como sinal em tua mão" e no de-cabeça ao dizer "E serão Tefilin entre os teus olhos".

10- É costume remover os Tefilin somente após a conclusão de todo o Serviço Matinal. De qualquer forma, eles não devem ser tirados antes de terminar a prece Uvá Letsion.

Em Rosh Chôdesh os Tefilin são tirados antes de Mussaf.

11- Quando o Talit é usado durante a prece, deve ser colocado primeiramente, e depois os Tefilin; mas quando a prece é concluída, os Tefilin são tirados em primeiro lugar e o Talit, por último.

12- Em Tish'á Beav, data da destruição do Primeiro e Segundo Templos de Jerusalém, os Tefilin não são colocados para a Prece Matinal, mas sim para a Prece Vespertina (Minchá).

13- Os Tefilin devem ser manuseados com a devida reverência. Se caírem acidentalmente, uma expiação é requerida na forma de jejum ou tsedacá, caridade. Neste caso, um rabino deve ser consultado para saber como proceder.

14- Disseram nossos Sábios: "Aquele que observa cuidadosamente o mandamento de Tefilin todos os dias, merece vida longa e a Futura".

Verificação dos Tefilin

Os Tefilin usados diariamente são considerados casher, aptos. Contudo pode ocorrer que os trechos escritos contidos nas caixinhas se estraguem pelo suor e portanto é recomendável proceder uma verificação de vez em quando. Para tanto os Tefilin devem ser encaminhados a um Sofêr, escriba especializado e competente. É recomendável fazer uma verificação uma vez por ano, de preferência no mês de Elul.

Se os Tefilin ficarem em lugar úmido deve ser verificado antes da próxima vez que fôr colocado.

Artigos Sobre a Saída do Egito
Artigos Sobre Pêssach

Você é Um Quadrado ou Um Círculo?
A verdadeira humildade leva a pessoa à verdadeira grandeza.
Por Simon Jacobson
Há alguns anos dei um curso introdutório sobre misticismo judaico (também conhecido como Chassidut ou Cabalá) a uma classe de sêniores do Ensino Médio.
Em um dos testes escritos pedi a eles para descreverem usando as próprias palavras a diferença entre várias entidades: entre corpo e alma; entre a força animal e a força Divina; entre as necessidades materiais e transcendentais; entre o secular e o sagrado; entre céu e terra; entre egoísmo e altruísmo.
Fiquei abalado pelo grande número de respostas que distinguiam entre todas essas categorias simplesmente com as palavras “mal” e “bem”. O corpo é mau e a alma é boa. O material é mau, e o transcendente é bom. Vinte em cada 30 perguntas foram respondidas com uma única palavra: “bom” ou “mau”.
Crianças pensam em termos de preto e branco; bom e mau; doce e azedo; claro e escuro. Mentes jovens e não desenvolvidas ainda não apreciam as nuances da vida; as áreas cinzentas; o ambíguo e o ambivalente.
Há pureza na inocência da simplicidade. E muitos adultos fariam bem em não perder esse encantamento. Porém, a vida também é complexa.
O pensamento ocidental é criticado frequentemente por ser linear, especialmente quando relacionado com o pensamento oriental. O linear define uma maneira muito estruturada e organizada de olhar as coisas. Causa e efeito incessantes estão na base dos fenômenos. No pensamento ocidental é visto num estado amorfo; as coisas não têm definições claras. O pensamento linear, lógico, é limitado, e o paradoxo é a reflexão mais próxima sobre a verdadeira natureza da existência.
Na verdade, para apreciar realmente a vida em sua totalidade precisamos abraçar ambas as dimensões em um todo integrado.
Na moderna Física, por exemplo, sabemos agora que no nível macroscópico (o mundo que percebemos e experimentamos com nossos cinco sentidos) grande ordem e desenho impulsiona a máquina do universo. A Física de Newton – definindo os fenômenos em termos do efeito “bola de bilhar” – permanece com a maneira dominante de olhar para o mundo. Porém, num nível microscópico, tem sido claramente demonstrado que a realidade funciona bastante num “estado de probabilidade” amorfo. No mundo interior as coisas não são bem definidas na mesma maneira que é estruturada do mundo exterior.
Na verdade, no pensamento cabalístico há a distinção cósmica entre “círculos” (igulim) e “linhas” (yosher). Uma linha é formada por pontos definidos, estruturados numa ordem clara de mais alto e mais baixo. Em contraste um círculo é um fluxo contínuo, sem topo ou base. Tudo na existência é formado com linhas e círculos: o mundo exterior é impulsionado por ordem e organização – a estrutura linear, que evolui numa sequência ordenada. Porém, abaixo da superfície, na “sala de máquinas” do universo, a força propulsora é a energia “circular”.
Na Cabalá existe até uma metáfora do “quadrado dentro do círculo” e do “círculo dentro do quadrado”, porque o linear e o circular da existência estão interligados em um todo sem fim.
Assim, vivemos num mundo que é tanto ordenado quanto paradoxal.
Quando crianças podemos perceber a vida em termos de preto e branco. Quando amadurecemos aprendemos que a vida é muito mais repleta de nuances e complexa.
Quando é feita a pergunta: “Como é a sua vida?” uma criança geralmente responde “boa” ou “ruim” baseada em suas emoções do momento. Um adulto (não apenas no sentido cronológico) responderia: “Algumas coisas são ótimas; outras nem tanto; algumas mais ou menos; e o restante está no meio, e pode ir para qualquer um dos lados.” Em outras palavras, a vida é complexa. Não existe isso de bem sem mal, e vice-versa.
O desafio é apreciar o fluxo e equilibrar-se nas ondas.
A Festa de Pêssach celebra o paradoxo da vida – a estrutura e o não-estruturado; o definido e o indefinido. Não lembramos apenas o êxodo mas também o exílio. Não recriamos apenas o júbilo, mas também o sofrimento. Bebemos vinho, mas também comemos ervas amargas. Respeitamos o processo – o processo inteiro – dos pontos mais baixos até os mais altos, e reconhecemos como ele se manifesta hoje em nossas vidas.
O Seder de Pêssach gira em torno das três matsot e dos quatro copos de vinho. Matsá é o “alimento do pobre”; o vinho é a bebida da realeza. Comer matsá simboliza a nossa humildade; o vinho demonstra nosso senso orgulhoso de liberdade.
Somos reis ou mendigos na noite de Pêssach?
A resposta é: os dois.
A verdadeira humildade leva a pessoa à verdadeira grandeza.
Esta é a suprema verdade da vida.

A Consciência da Liberdade
Por que os filhos se rebelam?
Por Yosef Y. Jacobson

Depois de uma série de pragas que devastaram o país e subjugaram seu rei, o faraó finalmente se rende. Após torturar impiedosamente, abusar e assassinar os hebreus durante décadas, eles são libertados. No dia 15 do mês hebraico de Nissan, o povo judeu, enfim, vive um êxodo em massa de um regime genocida e uma monarquia tirânica. Eles embarcaram no caminho da liberdade.
Mais de três milênios se passaram desde aquele dia. É muito tempo. Porém, os filhos e netos dos escravos que partiram do Egito ainda comemoram esse evento anualmente. Até hoje, Pêssach continua sendo a festa judaica mais largamente observada e celebrada. Muitos judeus que se consideram afastados da tradição e religião ainda se sentem compelidos a participar em alguma celebração do Seder de Pêssach.
A importância disto não pode ser exagerada. É fácil celebrar o milagre da liberdade quando você é livre, Porém, na maior parte da história a nação judaica se viu exilada, oprimida, dominada – física, emocional e religiosamente – por tiranos e ditadores de todos os tipos.
Se Pêssach representa a jornada da escravidão para a liberdade, o que aconteceu com ela depois da destruição babilônica do Primeiro Templo e o subsequente exílio de Israel?
O que aconteceu com ela depois da conquista pelos gregos e então pelos romanos da terra judaica e o exílio de seus habitantes? O que houve com a celebração da liberdade após a destruição do Segundo Templo, da falha da rebelião de Bar Kochba, as horríveis perseguições de Adriano e da longa e trágica série de eventos que levaram ao maior exílio na história judaica? Os judeus podiam celebrar a emancipação sob circunstâncias opressivas? Eles ainda poderiam se sentar anualmente e declarar com sinceridade: “Fomos escravos do faraó no Egito e D'us nos libertou?”
Esta questão foi levantada por um dos maiores pensadores judeus do Século 16, que ele próprio esteve sujeito a horríveis perseguições por parte de autoridades cristãs. Rabi Yehuda Loew (1512-1607), conhecido como o Maharal de Praga, era Rabino Chefe da cidade, e uma das personalidades judaicas mais influentes de seu tempo, autor de muitas obras importantes sobre pensamento judaico. Durante sua época, os judeus sofreram terrivelmente com os infames libelos de sangue, sendo acusados de matar crianças cristãs antes de Pêssach a fim de usar seu sangue para a matsá de Pêssach, e diz a lenda que Tabi Loew criou um Golem, um homem criado por meio de poderes cabalísticos para combater os libelos de sangue afligindo a comunidade judaica de Praga.
O Maharal de Praga se perguntava como o povo judeu poderia ter celebrado sua liberdade do Egito durante tempos em que estavam sendo atirados às trevas do exílio e perseguição? Poderia um judeu palestino no Século 2 realmente celebrar Pêssach? E um judeu iemenita do Século 8? Um judeu espanhol no Século 14? Um judeu polonês no Século 17? Um judeu alemão em 1938? Ou um judeu russo na década de 1960?
Porém, eles celebraram. Durante 3.300 anos, a cada vez que Pêssach chegava, uma nação teimosa estava determinada a reviver a liberdade. Sob os olhos vigilantes da Inquisição, no Arquipélago Gulag de Stalin, até no Gueto de Varsóvia, você podia ouvir a mesma pergunta sendo feita todo ano: “Por que esta noite é diferente de todas as outras?” E a resposta : “Porque nesta noite fomos libertados!”
Como eles conseguiam fazer isso?
O Novo Homem
A resposta apresentada pelo Maharal de Praga é profunda e comovente. O Êxodo do Egito, sugere ele, não foi meramente um evento político e geográfico, no qual trabalhadores escravos tiveram permissão de deixar um país e construir o próprio destino. Foi também uma mutação, na qual o presente da liberdade foi “conectado” à própria psique de um povo. Com a Divina libertação do cativeiro egípcio, um novo tipo de pessoa foi criado – o Homem Livre: o individuo que nunca fará as pazes com a opressão e que para sempre ansiará pela liberdade. O Êxodo implantou dentro da alma do judeu uma repulsa inata pela subjugação e a busca inerente pela liberdade.
Então, todo o drama que levou ao Êxodo do Egito, ao diálogo com o faraó, os milagres realizados por Moshê e Aharon, o rei se tornando mais obstinado, as dez pragas sem paralelos que subjugaram o Egito, e finalmente a refinada cerimônia do Seder realizada enquanto os judeus ainda estavam no Egito. Numa era em que opressão era a norma, quando acreditava-se que os reis tinham poder divino e interminável, e o ser humano comum estava à mercê de líderes caprichosos, o Êxodo egípcio foi para revolucionar a paisagem da imaginação humana para toda a eternidade. Os judeus iriam descobrir – e seriam responsáveis por partilhar essa descoberta com toda a humanidade – que a principal responsabilidade de toda sociedade é preservar a liberdade e dignidade de todo ser humano sob a soberania de um D'us livre que desejava libertar os seres humanos.
Assim, mesmo se subsequentemente conquistado e oprimido, rotulado para abuso, caçado como animais, o judeu jamais cessaria de ver a si mesmo como um homem livre. Ele nunca concordaria emocionalmente com a perseguição, e jamais chegaria a termos com a realidade da supressão. Ele nunca deixaria de ver a escravidão e o exílio como suprema aberração da realidade e a maior distorção da sociedade humana, Seu próprio ser iria clamar em protesto contra a tirania e a crueldade, e ele ficaria para sempre obcecado com a crença de que o futuro deve ser diferente, que a redenção ainda vai chegar e que uma sociedade na qual o mal e a corrupcão predominam não pode durar.
Isto, declara o Maharal, é o que judeus celebravam todo ano em seus Sedarim de Pêssach, apesar das difíceis circunstâncias. Eles não estavam vivendo numa terra de sonhos. Sabiam muito bem que estavam exilados, porém, agradeciam a D'us pelo Êxodo antigo, porque implantou neles para sempre a consciência da liberdade, o anseio por ela, e a convicção de que é o direito inato de todo e cada um deles. Se – como disse brilhantemente o Baal Shem Tov – “Você está onde sua vontade está”, isso significa que você é essencialmente livre. Se anseia por liberdade, você na realidade é livre.
Um Presente Divino
Os mestres chassídicos levaram essa ideia um pouco mais além. Para alguns pensadores religiosos a busca do homem pela liberdade é sintomática de seu anseio por autoindulgência frívola e emancipação do jugo da responsabilidade. Porém, no Chassidismo, nossa busca pela liberdade é uma das nossas qualidades mais divinas, entranhada em nós por causa da consciência divina embebida no espírito humano. O homem anseia por refletir a D'us. Assim como D'us é totalmente livre, o homem criado à Sua imagem anseia por ser totalmente divino, então totalmente livre. É essa Divindade inerente num ser humano que nos impele ao desafio constante e a transcender os limites impostos sobre nós, incluindo até os da nossa própria natureza.
Por que eles se rebelam?
A ideia do Maharal de que o Êxodo egípcio fez com que a liberdade fosse “implantada” na psique judaica contém profundas ramificações no campo da educação contemporânea.
Como a liberdade é uma propriedade intrínseca da alma humana, uma manifestação de sua natureza Divina, devemos ser extremamente cautelosos para encorajar, e não ser ameaçados, pela sua expressão completa e intensa.
Se isso é verdadeiro sobre cada pessoa, muito mais então com crianças e adolescentes, que têm um profundo anseio pela liberdade, para a expressão individual, pela liberdade de fazer as próprias escolhas e de construírem a própria existência. Isso não é pecado; é uma qualidade nobre que pode ser realizada para produzir as maiores bênçãos. Se suprimirmos sua liberdade, ou seu anseio pela liberdade, isso pode obrigá-los a expressá-la de maneiras indesejáveis.
Então, por exemplo, quando pais e educadores impõem sobre os filhos e alunos valores e tradições por meio somente de autoridade e coerção, muitos desses jovens ao chegar na vida adulta poderiam rejeitar esses valores. Isso não é por desdém pelos valores em si, tanto quanto é sua maneira de provarem a si mesmos e ao seu ambiente que são realmente livres.
Educação, obviamente, exige autoridade e disciplina. Crianças que podem fazer tudo que quiserem, com frequência terminam tendo vidas infelizes, sem estabilidade, direção e segurança.
A longo prazo, as crianças são infelizes quando lhes é dado poder demais. Por outro lado, quando valores morais e religiosos são passados aos jovens apenas em nome da autoridade, e não com uma voz de compaixão, quando a fé é sobre o dogma e não sobre profundidade, quando a paixão é completamente substituída pela obrigação, o amor pelo hábito, a voz da alma suplantada pelo fardo da tradição, os valores que consideramos tanto podem ser percebidos como instrumentos de opressão aos olhos de nossos filhos.
Em sua desesperada necessidade de liberdade, às vezes não lhes damos opções exceto dizer adeus a tudo aquilo que tentamos lhes ensinar.
Um delicado equilíbrio entre anarquia e supressão deve ser mantido. Os jovens devem ser ensinados por que os valores tradicionais, morais e religiosos de seus pais e avós são meios de auto-realização, autodescoberta – e a suprema liberdade. E eles devem ter sábias oportunidades de vivenciar a alegria de ter a liberdade de escolher aquilo que constitui o caminho para uma vida digna e profunda; a liberdade de escolher a liberdade.

Multiplicando as Pragas
…e como os seres humanos afetam seu meio ambiente
Por Tzvi Freeman
Terminamos de contar a história do Êxodo, vamos começar a cantar Dayenu, e iniciar a refeição – e aqui estão Rabi Eliezer e Rabi Akiva discutindo sobre estatísticas. Para ser preciso, sobre a contagem da praga no Egito:
Rabi Eliezer: 10 x 4 = 40
Rabi Akiva: 10 x 5 = 50
Conte as pragas à medida que ocorrem na história, e há dez delas. Mas afinal sobre o quê estes rabinos estão discutindo? A verdadeira questão é: que diferença isso faz?
A diferença é grande. Bem grande. Porque a discussão é profunda. A discussão é sobre o quanto o estado humano pode afetar nosso meio ambiente.
Não, não estou falando de atirar produtos químicos venenosos nos oceanos e encher a atmosfera com gás carbônico. Estou falando sobre agir injustamente, obedecendo aos nossos hormônios em vez de aos nossos cérebros, ao dinheiro e não à nossa alma, e em geral abandonar nosso propósito e papel como seres humanos. Isso, também, polui o ar que respiramos e o alimento que nos nutre – com maior toxicidade que qualquer outro veneno.
As paredes de uma casa onde existe raiva reverberam com palavras furiosas. Dinheiro ganho por meios ilícitos é manchado e prejudicial àquele que o tem. O ar de um escritório onde fofoca e maledicência se espalham se torna pútrido e sufocante.
O mundo é sua câmara de ressonância
Mas como isso funciona? Como seres humanos podem afetar a natureza dos objetos que nos rodeiam? O que meu mundo caloroso, pessoal, interior, tem a ver com o frio mundo exterior que me cerca?
Tudo. Porque o mundo inteiro fora de você foi projetado como palco para o mundo dentro de você. E o mundo dentro de você foi projetado para transformar o mundo fora de você. Os dois nasceram num só pensamento do Criador. E assim, os dois estão intimamente ligados.
O ser humano, escreveu Rabi Yehudah Moscato, um cabalista do Renascimento Italiano, é o solista de um grande concerto. Toca sua parte, e então a orquestra a toca de volta para ele – mais alta, maior, mais rica. Se ele errar e tocar com dissonância, aquela feia acrimônia volta ruidosamente para ele, amplificada por ordens de magnitude. Se ele tocar como um verdadeiro músico, trazendo à vida a beleza de cada nota, ele consegue que o cosmos inteiro toque em magnífica harmonia.
Os antigos egípcios que nos escravizaram tocavam mal e feio. Embora estivéssemos dominados pelos seus chicotes, muito mais estávamos aprisionados pelo ambiente pútrido que eles criaram. Não podíamos sair dali sem que aquele ambiente fosse limpo. É por isso que tinham de ser dez pragas. Dez ciclos de lavar e enxaguar, para limpar aquilo que a Torá chama de tumá – impureza – a atmosfera escura e terrível do Egito.
A água se transformou em sangue. A terra em piolhos. O céu se transformou em bolas de fogo e gelo. Como uma profunda lavagem purificadora, as pragas trouxeram os venenos malignos das entranhas do ambiente que eles tinham poluído, para a superfície, onde serviram a um objetivo – e então desapareceram.
Lave bem para libertação
Quão profunda aquela lavagem teve de ser?
Rabi Eliezer sabia que tinha de ser muito mais profunda que na superfície. Mais profunda que a água quando é água. Tinha de descer até a natureza fundamental da água. A natureza de cada coisa surge a partir de seu equilíbrio particular das quatro naturezas fundamentais. Os antigos chamavam de fogo, vento, água e terra. Poderíamos chamar de positivo, negativo, matéria e antimatéria. Palavras diferentes, mesma ideia.
Os egípcios, por exemplo, veneravam o Nilo. A água do Nilo tinha se tornado poluída pelos pensamentos, palavras e atos humanos. Não apenas a água, mas os elementos da natureza que davam origem à água. Uma praga teve de transformar aquilo, descer até a natureza fundamental daquela água e purgar a contaminação de sua fonte.
Rabi Akiva foi ainda mais fundo. No âmago de cada coisa existente há uma centelha de seu Criador, A quintessência, chamada – a “quinta essência” não tem substância ou forma, nem natureza, massa ou tamanho, nenhuma dimensão, portanto tudo que se pode dizer sobre ela é que não existe. A quintessência é onde o Criador sopra vida na criação.
Isso explica bastante. Explica por que, logo após nos dizer quantas centenas de pragas tinham se abatido sobre os egípcios (250, para ser exato), Rabi Akiva exclama: “Se é assim, então quantos níveis e mais níveis de favores Ele faz por nós!” e irrompeu numa canção, entoando: “Dai-dayenu, dai-dayenu!”
Se Ele queria nos fazer um favor, D'us poderia simplesmente ter nos tirado de lá e nos colocado na Terra Prometida. O que há de tão bonito e maravilhoso sobre pragas, que cantamos e agradecemos ao Criador por permitir que elas destruíssem Suas criações?
Mas agora entendemos: as pragas nos libertaram. Não apenas limparam o palco para que pudéssemos sair. Elas transformaram o mundo num lugar no qual a liberdade era possível, e a Torá agora podia entrar.
Hoje não precisamos de pragas para fazer isto. Hoje precisamos apenas de palavras faladas de Torá, e mitsvot lindas e brilhanes. Onde quer que vamos, quando pronunciamos palavras de Torá, as ondas de som que criamos limpam a atmosfera; e quando cumprimos mitsvot, transformamos a própria natureza das coisas ao nosso redor. Até, que em breve, tenhamos purificado e limpado o mundo inteiro.
Para tamanho poder de transformação, para tamanha ferramenta de libertação, precisamos cantar e dar graças toda noite e todo dia.

Curando Um Povo Dividido
Tributo ao 110º aniversário do Rebe
Por Yosef Y. Jacobson
Aficoman
Para as crianças, é o ponto alto do Seder. No decorrer dos anos elas descobriram que como o Seder não pode ser concluído até que este último pedaço de matsá seja ingerido, elas podem “roubá-lo” a fim de forçar seus pais exaustos, desesperados para dormir, a conceder-lhes quaisquer pedidos que façam, por mais ridículos que pareçam, e vem daí a ideia americana de “presentes do Aficoman”. Para os adultos, parece um truque engenhoso para dar às crianças um “recesso” autorizado, uma chance de correr por aí, se divertir e ao mesmo tempo mantê-las envoldidas naquilo que está ocorrendo à mesa.
O que é o Aficoman?
Uma das primeiras coisas que fazemos no Seder de Pêssach, após o Kidush e carpás, é “Yachatz”, a quebra da matsá. Tipicamente uma matsá se quebrará em dois pedaços diferentes. O maior, o Aficoman, que literalmente significa “deserto”, é guardado, para ser usado mais tarde, e o pedaço menor é colocado à nossa frente. É sobre este pedaço menor que agora recitamos a Hagada inteira. Muitas das partes mais cruciais e integrais da experiência do Seder são prefaciadas com a instrução: “Descubra a matsá quebrada” ou “levante a matsá quebrada”. Esta matsá, exatamente porque é pequena e quebrada, representa nosso “Pão da aflição” e o “alimento da pobreza”. É a matsá que por excelência, desempenha um papel importante no decorrer do drama do seder. Se o seder fosse uma peça teatral, este seria um dos atores principais. Finalmente, após concluir a recitação da Hagada inteira, é a primeira coisa a ser comida e com isso cumprimos nossa obrigação bíblica de comer matsá.
Enquanto isso, o pedaço maior está escondido, reservado e ausente; deve esperar pacientemente até seu retorno muito mais tarde da noite. Somente após recitar a Hagada, após comer matsá, maror, korech, o ovo e toda a refeição festiva, nos lembramos dele e o retiramos de seu esconderijo, e se torna nossa “sobremesa”. De preferência, é a última coisa a ser comida nesta noite, assim dormimos com o sabor da matsá perdurado em nossa boca e em nossa memória. Embora aparentemente relegada a uma parte secundária na peça e tendo uma espécie de papel secundário, o Aficoman é tão importante e necessário à experiência do Seder quanto seu “irmão mais jovem”. Nossos Sábios nos dizem “ain maftirin ad acharei hapesach afikoman”, que significa “O Seder não pode ser concluído sem o aficoman”. Também substitui e representa aquele que foi o destaque bíblico do Seder: o sacrifício pascal.
Um Conto de Duas Matsot
A história de Pêssach – escravidão seguida de liberdade – é a eterna história do judeu. “Pois não apenas eles ficaram contra nós para nos destruir, mas em toda geração eles tentaram isso novamente. E somente D'us nos salva das mãos deles”, declaramos na Hagada.
É fascinante observar o lugar de prestígio que o Seder desempenhou e continua a desempenhar na vida de tantos judeus. Mais judeus conduzem alguma forma de Seder de Pêssach do que frequentam os serviços das Grandes Festas. O Seder toca uma corda profunda dentro de nós. Muitas das nossas lembranças mais calorosas e prezadas da nossa infância foram criadas à mesa do Seder de nossos pais e avós. De alguma forma, o judeu sente que não pode ignorar a história do Seder; é nossa história pessoal como indivíduos e como um povo.
Agora podemos entender o simbolismo mais profundo por trás da quebra e separação da matsá. Talvez a matsá represente o povo judeu, a Congregação de Israel, que no decorrer da história tem continuamente sido esmagada, achatada e humilhada (como a matsá), e recebeu o “pão da pobreza e da aflição”. Muitas e muitas vezes não pudemos esperar até a massa crescer, tivemos de pegar o bastão de caminhante e partir sem nada além da “matsá”, tanto de maneira literal, quanto figurativa.
A Divisão
Mas por um longo tempo agora, nossa matsá tem sido dividida; somos um povo dividido. Uma parte do nosso povo, o pedaço menor de nossa matsá, ainda se senta teimosamente à “mesa do Seder”, ao redor da mesa de seus ancestrais, seguindo as tradições, continuando os rituais, estudando as leis e contando a história. Esta é a parte menor da matsá, a minoria do nosso povo, que se recusa a abrir mão da mesa de Pêssach e encontrar outras alternativas para a vida e para a felicidade. Sim às vezes eles se sentam ali de olhos fechados, meio adormecidos, mas estão presentes. Estes são os judeus que acordam toda manhã se lembrando que fazemos parte de uma longa narrativa – começando com Avraham, culminando com Mashiach – e devemos levar nossa vida inspirado por essa narrativa. Eles usam um talit, colocam tefilin, vão à sinagoga, rezam a D'us, e enviam os filhos para escolas judaicas para receberem uma intensa educação de Torá. Estes são os judeus que celebram o Shabat, comem casher, não fazem uma refeição fora de uma sucá, nem usam uma roupa feita de lã e linho.
A parte maior da matsá – a maioria do nosso povo – se afastou da mesa do Seder, para campos estranhos. Encontraram alternativas para a Torá. Na verdade, a maior parte da nossa nação permanece ignorante e de muitas maneiras apática ao nosso legado e nossa sabedoria, milhões de nossos irmãos se sentem alienados de nosso povo e sua história. E podemos identificar o momento na história em que a matsá foi “partida”.
Há cerca de 250 anos, com a Revolução Francesa, e o que ficou conhecido como “O Iluminismo” ou a “Idade da Razão”, os muros do shtetl ruíram e muitos, na verdade a maior parte dos judeus, disse adeus à sua ideologia antiga e partiu para as ideologias liderantes da época. Voltaire substituiu Moshê, Rousseau substituiu Rashi. Kant e Nietzsche suplantaram Abaye e Rava. Na França e na Alemanha, o iluminismo levou à alienação de centenas de milhares de judeus da tradição. Algumas décadas depois, na Europa Oriental, milhões de judeus deram adeus à Torá para uma profusão de novos “ismos” que pareciam mais promissores que o antigo Judaísmo.
O nacionalismo sionista secular, por exemplo, captou a imaginação de incontáveis judeus jovens, substituindo um D'us transcendente por um país concreto. Na Rússia, judeus em massa apoiaram o Marxismo, comunismo e socialismo. Na América, mais de um milhão de judeus se assimilaram entre 1840 e 1930. Nas últimas décadas nos Estados Unidos, perdemos mais um milhão dos nossos filhos.
E a quebra da matsá continua. Ainda somos um povo dividido. A parte pequena da matsá com frequência olha com desdém para o pedaço maior da matsá. “Eu estou à mesa do seder; você está perdido e afastado”; enquanto a parte maior da matsá frequentemente olha para a parte pequena com espanto e piedade, perguntando-se como ele consegue manter-se tão isolado e afastado da modernidade e do mundo novo.
Aqui iremos descobrir o segredo do Aficoman. Abra seu coração…
O Chamado do Rebe
Celebramos o aniversário de nascimento do Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson (1902-1994), ocorrido em 11 de Nissan em 1902, na Ucrânia, poucos dias antes de Pêssach. Crescendo no auge da revolução que varreu o mundo e capturou corações e almas de milhões de judeus, o Rebe observou em primeira mão a “matsá” sendo fragmentada e quebrada, e então quase completamente consumida pelas chamas do Stalinismo e Nazismo.
A Providência fez a alma do Rebe agraciar nosso mundo poucos dias antes do Seder, talvez porque a mensagem de sua vida captava a grande história do Aficoman.
Qual a mensagem do Rebe para a nossa geração?
Que a parte maior da matsá pode estar ausente da nossa mesa do Seder, mas é o nosso Aficoman; que nossa matsá pode estar dividida, mas ainda somosuma matsá. Milhões de judeus podem estar ausentes da mesa do Seder, mas eles jamais serão esquecidos. E o mais importante, não podemos concluir nosso Seder se não trouxermos de volta o pedaço maior da matsá que foi levado da mesa do Seder.
O pedaço pequeno de matsá jamais será capaz de atingir o auge de seu Seder se não atingirmos nosso irmão-matsá e o trazermos de volta à mesa do Seder, reconhecendo a verdade de que somos um povo e cada um de nós tem um lugar de dignidade na mesa eterna da história judaica e sua consciência.
Isso, o Rebe acreditava, foi a missão do nosso tempo. O Seder está quase completo, a história quase terminada. Mashiach está no limiar da porta. A refeição foi consumida, e temos nossa cota de maror, ervas amargas e sofrimento. E agora devemos nos lembrar do Aficoman. Devemos procurar o Aficoman e com muito amor e sensibilidade levá-lo de volta à mesa, e deixá-lo se reunir com sua essência, com sua história, com sua própria alma.
Às vezes o Aficoman é difícil de localizar, o judeu assimilado é difícil de identificar. Às vezes ele se esforça para identificar a si mesmo. Mas no final da noite, ao final do seu exílio, ele retornará, para ouvir a história do Êxodo, participar da mitsvá e passá-lá aos seus próprios filhos. Pois nenhum judeu será deixado para trás.
Somente então poderemos concluir nossa jornada e verdadeiramente estar “No próximo ano em Jerusalém”.

Matsá Shmurá
Qual a diferença entre a Matsá "redonda" e a "quadrada"?
Pergunta:
O que é Matsá Shmurá?
Resposta:
Shmurá em hebraica significa “assistida”, “cuidada”, e é uma descrição apropriada que define esta matsá. Seus ingredientes (farinha de trigo e água), são observados desde o momento da colheita, fabricação até o produto final, devidamente embalado com selo sobre seu status.
O dia escolhido para a colheita do trigo é um dia claro e seco. No momento em que é colhido, o trigo é inspecionado para garantir que não há absolutamente nenhuma mistura. A partir de então, um olhar cuidadoso é mantido sobre os grãos até serem transportados ao moinho. A usina de moagem é meticulosamente inspecionada por rabinos e profissionais de supervisão para assegurar que cada peça do equipamento está absolutamente limpa e seca. Após o trigo ser moído, a farinha é novamente acompanhada de perto em seu transporte para a padaria. Assim, a partir do momento da colheita, transporte e chegada a padaria a farinha é cuidadosamente observada para assegurar que não teve nenhum contato com água.
A água também é cuidadosamente guardada evitando qualquer contato com trigo ou outro grão. Ela é filtrada na noite anterior, e mantida pura até o momento em que é misturada a farinha para assar a matsá Shmurá.
Também na padaria as matsot ficam sob estrita supervisão para evitar qualquer possibilidade de fermentação durante o processo de cozimento. Este processo intenso e de cuidadosa guarda confere à matsá shmura um ingrediente adicional de fé e santidade – como de fato ocorre, quando a matsá está sendo feita, todos aqueles que estão envolvidos no processo repetem constantemente, “ "L'shem matzot mitzva" - "Estamos fazendo isso para o bem da mitsvá da matsá ".
As matsot shmurot são redondas, amassadas e moldadas à mão, semelhantes as matsot que foram assadas ​pelos Filhos de Israel na saída do Egito. É portanto apropriado utilizar matsá shmurá ao menos nas duas noites do Sêder de Pêssach. Conforme o costume Chabad, ela é a única matsá consumida durante todo o Pêssach.

Uma Escravidão Chamada Liberdade
Por Adin Steinsaltz
Entrelaçado na magnífica tapeçaria de símbolos, costumes e cerimônias do Sêder de Pêssach está o insuperável tema da liberdade.
Embora a liberdade possa ser expressa em cerimônias simples como reclinar à maneira dos homens livres, bebendo quatro taças de vinho e repetindo o mantra "nós somos homens livres", o profundo conceito de liberdade realmente envolve e permeia nossa essência.
A liberdade é percebida com mais freqüência como a ausência de escravidão – assim como a escravidão pode ser definida como a ausência de liberdade. Mas na realidade, a ausência de escravidão em si não cria uma condição de liberdade.
A escravidão é uma condição na qual a pessoa é para sempre forçada a agir de acordo com a vontade de outro. Liberdade é a capacidade do ser humano de agir e expressar-se.
Para que o homem possa agir independentemente, deve querer expressar sua singularidade. Aquele que não possui o desejo da auto-expressão e realização independente – seja porque seu espírito foi alquebrado ou jamais se desenvolveu – não pode ser considerado um homem livre. Ele não é livre, apesar de não estar mais sendo fisicamente escravizado; é meramente um escravo abandonado – um escravo sem amo.
O milagre do Êxodo não foi completado com o Êxodo em si. O povo judeu precisava ser de homens livres, não meramente escravos fugitivos.
Avraham Ibn Ezra descreve assim a situação: "Nas praias do Mar Vermelho, os judeus quiseram genuinamente escapar do fardo da escravidão; porém, tendo passado a vida toda como escravos, não podiam simplesmente jogar fora a afinidade que tinham desenvolvido em relação a seus feitores. Somente depois que a geração nascida no cativeiro tinha falecido, o povo judeu pôde entrar na Terra de Israel e construir uma nação de homens livres."
Um escravo carrega um duplo fardo – é forçado a obedecer ao amo e não tem vontade própria. Assim, uma pessoa que esteja ciente de sua singularidade e individualidade jamais pode ser escravizada. E no outro extremo, quem não possui uma auto-imagem positiva jamais pode considerar-se realmente livre.
Os mesmos princípios que escravizam um indivíduo podem se ampliar a uma nação inteira, no nosso atual galut, ou exílio. A verdadeira redenção envolve mais que sair do exílio. Está implícito no estado de exílio a destruição e subjugação da vontade de um povo e sua concessão coletiva aos ditames de um país estrangeiro.
Um grupo de pessoas que deixa sua terra de livre e espontânea vontade, que determina seu estilo de vida segundo seus próprios valores, não pode ser considerado como vivendo no exílio. Estão apenas vivendo numa terra estrangeira. Desde que estejam em liberdade para expressarem sua essência, não são realmente exilados. O exílio é escravidão somente quando inibe e abafa a auto-expressão e a autodeterminação.
Como a escravidão, o exílio é até certo ponto uma condição física, mas sua qualidade essencial é a do espírito. É rendição e abdicação – aceitar um conjunto de valores, atitudes e costumes que são contrários ao "eu" privado ou coletivo.
O judeu perseguido tem estado no exílio por incontáveis gerações, durante as quais precisou mudar sua maneira de viver. Uma nação que era basicamente agrícola tornou-se um país de mercadores; um povo independente foi reduzido à escravidão e curvou-se a um governo estrangeiro, jogado para lá e para cá. Mas com tudo isso – desde que o povo judeu mantivesse seu legado e seus princípios espirituais, seu modo interior de vida e comportamento – ele não foi um povo escravizado.
O judeu em todos esses anos de exílio e perambulação tinha de viver em paz com sua incapacidade de dirigir seu próprio destino em muitas áreas da vida. Porém seu exílio jamais foi completo, porque o judeu não se considera desprezado ou inferior. Assim, desde que retivesse o âmago de seu ser interior, sua conexão com D’us não somente o consolou, mas também serviu como seu país nativo, uma entidade que o exílio não poderia danificar ou diminuir.
O exílio completo, tanto espiritual quanto físico, começou com a assimilação. Sempre que o judeu assimilado perde seu excepcional senso de si mesmo, perde sua independência. Mesmo que tenha liberdade pessoal, seu exílio nacional é completo. Seu verdadeiro eu não dirige mais seu estilo de vida. A vida do judeu assimilado é estabelecida e determinada por influências alienígenas, tanto na vida espiritual quanto na física.
Mesmo quando o judeu assimilado mora num país onde os estrangeiros não mais ditam de que maneira ele deve se conduzir, vive num estado de exílio. Leva consigo a condição de exílio em seu sentido mais profundo. Está privado de seu verdadeiro eu, o eu que o conduz à liberdade. Culturas alienígenas talvez não o escravizem fisicamente, mas continuam a governá-lo espiritualmente e a roubá-lo de seu legado.
Um famoso ditado chassídico declara: "É mais fácil tirar o judeu do exílio que tirar o ‘exílio’ do judeu.

Uma Experiência Única
Por Tzvi Freeman
As pessoas compartilham coisas. Idéias, histórias, experiências – tudo que faz parte da aventura de ser uma pessoa. É por isso que fico um tanto descrente assim que as pessoas começam a dizer: "Você sabe o que há de único em nossa fé, que ninguém mais tem?"

A verdade é que, se é filosofia, alguém já pensou na mesma coisa por si mesmo, pediu emprestado algumas partes e a remontou, ou então roubou mesmo a coisa toda e alegou ser sua própria concepção do mundo. Ainda mais se é uma lenda ou um mito – sobre criação, sobre heróis, sobre como as coisas ficaram como são – em algum lugar, algumas pessoas no mundo têm alguma outra história com muitas fortes semelhanças. Afinal, estamos todos falando sobre o mesmo mundo, de dentro dos mesmos corpos. E tendemos a partilhar as coisas, também.
Exceto uma história, bastante enigmática.

Desafio qualquer um a encontrar qualquer povo em qualquer lugar do mundo em qualquer época – esquimós ou indonésios, mitologia nórdica ou lendas dos navajo, gregos ou romanos – que tenha uma história parecida com esta. As pessoas contam numerosas lendas fantasiosas. Há nações que descendem de deuses, de anjos, de peixes e de águias. Até mesmo de macacos(!). Há pessoas que chegaram aonde estão com a ajuda de ursos ou dragões, barcos mágicos ou vulcões. Porém fale-me sobre outro povo que conte a seus filhos: "Fomos escravos de um terrível tirano numa terra poderosa, e nosso D’us, Mestre de Todo o Universo, tirou-nos de lá com uma mão poderosa e um braço estendido."

Ninguém, em lugar algum. Se eles contarem a história, falam sobre os judeus. Mas ninguém pensou em pedi-los emprestados por si mesmas.

Talvez a maior prova de que isso realmente deve ter acontecido – porque ninguém poderia ter inventado uma história assim. A prova é que ninguém mais o fez. E por que o desejariam? Quem deseja ser descendente de escravos? E quem deseja dar todo o crédito a seu D’us, sem nenhum heroísmo deixado para seus ancestrais? Não apenas eles jamais inventariam algo assim – ninguém jamais desejou usá-lo por empréstimo.

Mas mesmo sem a parte da escravidão e a falta de batalhas heróicas e assassinato de monstros, a história tem uma tal irrealidade que parece contrariar a intuição humana. E é por isso que existem pessoas (e livros) atualmente negando que tudo aquilo pudesse sequer ter acontecido. Mesmo que você acredite num Criador, esta história é difícil. Foi exatamente isso que Moshê quis dizer quando declarou: "Pergunte às gerações anteriores, desde o tempo em que o mundo foi formado… já houve algo assim no mundo… D’us libertando uma nação de outra nação com sinais e maravilhas e todos os tipos de milagres…?"

Em outras palavras, era para parecer impossível. Não porque a imaginação humana é limitada demais para imaginar os milagres mais fantásticos possíveis. Mas porque isso vai contra todo o tipo de coisas que a mente humana gosta de imaginar. É contra-intuitivo. Dissonância cognitiva.
A mente humana gosta dos sistemas simples, organizados. Alto e baixo, antes e depois, simples e complexo, poucos e muitos. É uma questão de sobrevivência: uma vez que você tenha organizado seu mundo dessa maneira, ele fica muito mais administrável. Portanto, onde podemos criar a ordem, nós a criamos. Onde a ordem nos desafia, nós a impomos. E se ela se recusa a obedecer, simplesmente ignoramos os dados e nos iludimos imaginando que ela está lá, assim mesmo.

Essa é a maneira na qual a filosofia humana funcionou durante a maior parte da história, chegando apenas a uma ruptura parcial com o moderno empirismo científico. Como protestou Einstein: "Sim, as coisas deveriam ser tornadas tão simples quanto possível – porém não mais simples!" O bom e velho Albert estava apenas ecoando os sábios do legado judaico que, de tantas maneiras diferentes, declararam o mesmo chamado ao empirismo. Como disse Maimônides: "As opiniões não afetam a realidade. A realidade faz opiniões."

Porém pela maior parte da história, a intuição humana tornou as coisas muito mais simples que a realidade.

Como aconteceu quando se tratava de deuses e da ordem natural. As pessoas presumiram que deveria haver uma hierarquia. O Supremo, Grande D’us que fez tudo, para começar, tinha de estar no topo, muito afastado de tudo aquilo, de modo a não misturar Sua supremacia pura com este mundo confuso que veio d’Ele. Os deuses ainda podiam cuidar das forças da natureza, e até os inferiores podiam lidar com as crises humanas mundanas – se os humanos chegassem com um suborno suficientemente bom.

Ordeiro, intuitivo. O plano material está na base, o infinito no topo, e uma complexa hierarquia no espaço entre eles. O problema de você não poder realmente transpor do infinito ao finito – nenhuma hierarquia pode levá-lo tão longe, não importa o quanto demore – não foi uma preocupação. Afinal, o infinito, supremo, estava tão elevado, de qualquer forma, que não importa.
Foi assim que o faraó viu as coisas, e todos seus conselheiros. Até Moshê apareceu e apresentou o faraó a algo radical: que quando se trata do Infinito Ser Supremo, não há hierarquia. O Infinito está em toda parte – apenas porque é infinito e ilimitado. No rio, nos animais, no vento, no fogo, no granizo, no sol, na vida e na morte. O Infinito está inteiramente além das limitações do mundo, e ao mesmo tempo, intimamente envolvido nele. Assim envolvido, o Infinito será até encontrado fazendo milagres para redimir uma turba de escravos de seu opressor.

Foi assim que nascemos e é assim que somos: Na contra-intuição a tudo aquilo em que a mente humana deseja acreditar.

O judeu é aquele que diz que o Infinito não está "sobre o mar ou lá acima nos céus" – não é algo intangível que não pode ser tocado, etéreo demais para ser real, elevado demais para fazer parte de nossas vidas. O Infinito está aqui e agora, em qualquer ponto da vida que você possa estar, em qualquer situação em que você seja colocado, sempre há um ato simples que você pode fazer para se conectar com o Infinito. De fato, isso é um judeu. O ponto da consciência humana onde o mundo material e finito e a infinitude da Divindade se encontram. E isso é uma mitsvá: o ato de fusão.

Eis por que eles nunca nos entenderam. Somos contra-intuitivos para eles. "Por que" – reclamam ele – "vocês estão procurando D’us naqueles lugares estranhos? Não sabem que D’us pode ser encontrado no universal, no celestial, naqueles assuntos tão gerais a ponto de envolverem toda a humanidade? Por que esta obsessão de vocês com as minúcias do material ritual e objetos físicos?"

Mas isso somos nós. Eles procuram D’us no alto. Nós encontramos D’us nos cordões de lã que pendem de nossas roupas, na luz de uma vela de cera e um copo de vinho, no som das vozes infantis lendo Sua Torá, ao morder e engolir uma matsá da noite de Pêssach. Encontramos D’us numa história simples de um grupo de escravos libertados de uma país poderoso.
Encontramos D’us.

A Ciência da Sobrevivência Judaica
Por Dov Greenberg
Há mais de três mil anos, um grupo de escravos judeus foram libertados do Egito. Desde então, nessa época do ano, revivemos sua história em Pêssach, a Festa da Liberdade.

Imagine que pudéssemos viajar de volta no tempo e dizer ao Faraó: "Temos boas e más notícias. A boa é que um dos povos que estão vivos hoje sobreviverá e mudará a paisagem moral do mundo. A má notícia é: não será o seu povo. Será aquele grupo ali de escravos hebreus, que estão construindo seus gloriosos templos, os Filhos de Israel."

Nada poderia ser mais ultrajante. O Egito do tempo dos faraós era o maior império do mundo antigo, brilhante em artes e ciências, formidável na guerra. Os israelitas eram um povo sem terra, escravos indefesos. De fato, já na antiguidade, aqueles no poder acreditavam que os israelitas estavam em vias de extinção. A primeira referência a Israel fora da Bíblia é um obituário do povo judeu. Está inscrito numa pedra grande de granito, que hoje se encontra no Museu do Cairo: Ali diz: "Israel acabou. Sua semente não existe mais."

A história da sobrevivência judaica é tão excepcional, vasta e sem paralelos que desafia a imaginação. Em nosso próprio século, as duas grandes potências que anunciaram: "Israel acabou" – o Terceiro Reich de Hitler e a União Soviética – foram esmagados e desmantelados. Porém o povo de Israel vive.

Muitos pensadores e cientistas sociais tentaram, e ainda estão tentando, entender a sobrevivência de um povo, uma fé e um legado durante três milênios de condições históricas praticamente impossíveis. Blaise Pascal, o notável pensador, matemático, teólogo, físico francês do Século Dezessete, escreveu:

"Em algumas partes do mundo podemos ver um povo peculiar, separado dos outros povos do mundo, chamado de povo judeu… Este povo não apenas é de impressionante antiguidade como também tem perdurado por um tempo singularmente longo… Pois enquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas, Roma e outros que surgiram muito depois pereceram há tanto tempo, este ainda existe, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que tentaram uma centena de vezes acabar com ele, como seus historiadores atestam, e como pode ser facilmente julgado pela ordem natural das coisas no decorrer de tantos anos. Eles sempre foram preservados, no entanto, e sua preservação foi prevista… Meu encontro com esse povo me surpreende…"1

Este é um tributo comovente, mas exige explicações.

A Ciência da Sobrevivência

Talvez possamos encontrar nossa resposta nos grandes pensadores empíricos de nosso tempo, os cientistas. Eles nos dizem que quando um cientista procura determinar as leis que governam um determinado fenômeno, ou descobrir as propriedades essenciais de um elemento da natureza, deve fazer uma série de experimentos sob as mais variadas condições para descobrir aquelas propriedades ou leis sob as quais todas as condições são as mesmas.

O mesmo princípio poderia ser aplicado à sobrevivência judaica. É um dos povos mais antigos do mundo, começando sua história nacional com a revelação no Sinai há mais de três mil anos. No decorrer desses séculos, os judeus viveram sob condições extremamente variadas. Foram dispersos pelo mundo. Tiveram múltiplos idiomas, possuíram uma diversidade de culturas. Por exemplo, Rashi viveu na França cristã. Maimônides nasceu na Espanha islâmica. Rabi Akiva viveu sob o governo romano; os sábios talmúdicos sob a hegemonia babilônica. Suas sociedades foram totalmente diferentes. Tudo que os ligava no espaço e tempo eram uma fé, o estilo de vida de Torá.
Nenhum outro povo sobreviveu durante tanto tempo sob tais circunstâncias. Se quisermos descobrir os elementos essenciais que formam a causa e a própria base da existência de nosso povo e sua força singular, devemos concluir que não foi sua terra, idioma, cultura, predisposição racial ou herança genética. O único fator constante que preservou nosso povo durante todas as vicissitudes é o tenaz apego ao nosso legado espiritual.

Foi isso que tornou nosso povo indestrutível apesar de milênios de investidas contra o corpo e alma judaicos por bandidos e monstros de todas as espécies.

O que a História Judaica nos diz é que a força do nosso povo como um todo, e de cada indivíduo, está num compromisso fiel à nossa herança espiritual, a base e essência de nossa existência.

O peixe e a raposa

Ninguém expressou isso melhor que Rabi Akiva, o grande sábio do Segundo Século. O Talmud relata como Rabi Akiva ensinava Torá em público na época em que o governo romano, sob o Imperador Adriano, proibiu essa atividade. Outro sábio, Pappus ben Judah, advertiu-o de que estava arriscando a própria vida. Rabi Akiva respondeu com a seguinte parábola:

Uma raposa certa vez caminhava pela margem de um rio, quando viu peixes pulando de um local para outro. "Por que estão fugindo?" perguntou ela aos peixes. "Para escapar das redes do pescador." “Neste caso", disse a raposa, "venham viver na terra seca junto comigo."

"Você é aquele que descrevem como o mais esperto dos animais?" disse o peixe. "Você não é esperta, mas tola. Se estamos em perigo dentro da água, que é onde vivemos, imagine em terra seca, onde certamente morreremos."2

A Torá é para a sobrevivência judaica, disse Rabi Akiva, como a água para o peixe. Sim, estamos em perigo, mas se deixarmos a Torá, que sustenta nossa identidade, para entrarmos na terra seca dos Romanos, certamente morreremos.

Esta não era meramente a convicção pessoal de um certo Rabi Akiva. É a própria história de Pêssach. Deixar o Egito foi apenas o início da liberdade, não o fim.

Mas o que seria Pêssach sem sua conexão íntima com Shavuot? O que seria a liberdade israelita sem a Revelação no Sinai? 3 Imagine a Bíblia como a narrativa de um mero grupo cultural ou étnico. Leríamos sobre a escravidão dos israelitas no Egito. Continuaríamos a ler com entusiasmo sobre como eles conquistaram sua liberdade e foram levados a uma terra própria. Depois leríamos sobre como eles se mesclaram à paisagem ao redor, casaram-se com canaanitas, jebusitas e os outros povos do antigo Oriente Próximo, e se evaporaram com o tempo, irrevogavelmente.
Sobrevivemos porque levamos a Torá conosco até Israel. Somos quem somos por causa de uma fé importante, fé que se provou mais forte que os maiores impérios da história.

O Antigo Egito e Roma construíram grandes monumentos para sobreviverem aos ventos e às areias do tempo. Aquilo que eles construíram está de pé e em alguns aspectos jamais foi superado. Porém somente a arquitetura permanece, não a civilização que uma vez lhes deu vida.

O Antigo Israel se tornou construtor, também, mas não de monumentos em pedra. Em vez disso eles foram chamados ao Sinai para construírem um mundo de justiça, digno de ser a morada da Divina Presença. Suas pedras seriam suas ações sagradas, e sua argamassa o estudo de Torá e compaixão. Ao ensinar os israelitas que o Arquiteto desse mundo é D'us, os construtores são todos que desejam se tornar Seus "parceiros na obra da criação". Moshê transformou um grupo de escravos num povo eterno.

Notas:

1 - Pascal, "Pensees".

2 - Talmud, Berachot 61b.

3 - Perante o Faraó, Moshê não exigiu simplesmente em nome de D'us: "Deixa Meu povo ir", mas "Deixa Meu povo ir; para que eles Me sirvam. (Shemot 7:16). veja também Sefer HaChinuch (Mitsvá 306), que a razão de ser do Êxodo foi entrar num pacto com D'us que é nossa força de apoio. Então, Shavuot é a única festa que não tem data marcada no calendário. A Torá o designa como o 50º dia após Pêssach. Como Shavuot é o complemento de Pêssach, o propósito do Êxodo foi concretizado somente no dia em que ficamos no Sinai.

O Êxito do Êxodo
Pêssach é um feriado judaico de origem bíblica com oito dias de duração. Marca o nascimento dos judeus como um povo há mais de 3.300 anos, e também seu surgimento como nação, sob a liderança de Moshê (Moisés), devotada a cumprir a vontade de D'us.

Pêssach celebra a liberdade dos filhos de Israel da escravidão e, ao mesmo tempo, a libertação do antigo sistema egípcio e seu modo de vida. Dessa maneira celebramos liberdade espiritual, juntamente com liberdade no sentido físico.

O êxodo foi um evento histórico real, que ocorreu e foi documentado para a posteridade. Entretanto, além do significado histórico de Pêssach, devemos entender os conceitos de escravidão e redenção em termos metafóricos e espirituais, intensificando nossa compreensão desses eventos até que possamos realmente nos sentir partindo do Egito nos dias conturbados que vivemos hoje.

Porém, como é possível para um indivíduo que nunca esteve no Egito ou sofreu escravidão entender Pêssach (não se preocupe, em estatística, você pertence à maior "fatia")? Como pode o povo, jamais tendo passado por algo semelhante à provação sofrida por nossos ancestrais, identificar-se pessoalmente com o milagre da redenção?

Nossos Sábios enfatizaram a relevância contemporânea com a qual devemos considerar o Êxodo: "Em cada geração, uma pessoa é obrigada a pensar em si mesma como se tivesse pessoalmente deixado o Egito." Tudo que gira em torno das duas primeiras noites de Pêssach segue uma seqüência, uma ordem, denominada sêder. Esta ordem está descrita em detalhes em um livro especial lido nesta ocasião chamado Hagadá, que significa "narrativa". Nela se encontra o relato da escravidão, colocações de nossos sábios, canções, e uma orientação, passo a passo, de como devemos proceder.

O principal objetivo da Hagadá, "Narração" é relatar a nossos filhos a história do Êxodo e tornar públicos os milagres e maravilhas que ocorreram. A pessoa que dirige o sêder deve explicar seu conteúdo de forma clara e em linguagem que todos possam compreender.

O pensamento judaico explica que o Egito é mais que uma localização geográfica, e que existem outras formas de servidão além de escravidão no sentido físico (você já ouviu falar de "escravo do tempo", "escravo do dinheiro" ou "escravo de preconceitos", etc? Existem centenas de "escravidões".

As duas primeiras noites de Pêssach servem para reunir a família em torno de uma mesa farta de símbolos colocados sobre uma travessa que envolve a todos em torno de perguntas e curiosidades que irão surgir ao longo da noite. Terá início uma viagem mística e ímpar de todos os membros pela história, desde a escravidão no Egito à conquista da liberdade, física e espiritual até os dias de hoje.

Cada um é "sócio majoritário" de seu próprio "Egito" e nestas noites ganhará outros sócios. Juntos aprenderão lições do passado que servirão como "ferramentas de marketing" para lançar no mercado um novo produto: você, pronto para trabalhar em seu auto refinamento e ganhar sua verdadeira liberdade.

O sêder nos proporciona a oportunidade de reviver, não apenas recordar, o Êxodo do Egito. E o êxito desta noite, só depende de você

Livros que Revolucionaram o Mundo
Por Yaakov Paley
Suponho que cada um de nós tenha seus próprios candidatos para livros que nos mudaram e nos ensinaram a ver o mundo de maneira um pouco diferente.

Minha escolha seria a Hagadá, o livro que os judeus em todo o mundo estarão lendo em Pêssach, a história do Livro de Shemot que relata como nossos ancestrais, há 33 séculos, foram libertados da escravidão e começaram aquilo que Nelson Mandela chamou de "a longa caminhada para a liberdade". Obviamente, não apenas o lemos, nós o revivemos, comendo o pão ázimo da aflição e as ervas amargas da opressão, e tudo isso tem início com perguntas feitas por uma criança.

E embora pensemos nela como uma história judaica, foi adotada por outros como sua. Quando os americanos conseguiram conquistar sua liberdade dos ingleses, Thomas Jefferson comparou-a ao Êxodo. Quando os afro-americanos marcharam pela liberdade, cantaram as palavras de Moshê: "Deixe meu povo ir." É uma das grandes narrativas de esperança e realmente ajudou a mudar o mundo.
Por quê?

Porque foi a primeira vez que a religião entrou na situação humana como uma voz revolucionária. As religiões do mundo antigo, como seus substitutos seculares de hoje, eram justificativas do status quo. Explicavam por que os ricos e poderosos tinham de ser ricos e poderosos. O Êxodo disse o contrário. O poder supremo entra na história para resgatar os indefesos. O D'us de toda a humanidade nos pede para garantirmos liberdade e dignidade para todos os seres humanos. Acima de tudo Ele nos ordena a amar o estrangeiro, porque nossos ancestrais certa vez foram estrangeiros numa terra que não era a deles.

O que me assombra neste Pêssach é como a humanidade está se saindo mal no Século XXI. A religião ainda hoje está sendo usada como uma desculpa para a violência e derramamento de sangue. Mesquitas, sinagogas, templos hindus e santuários budistas ainda são atacados. As pessoas ainda odeiam em nome do D'us do amor, matam em nome do D'us da vida, e praticam a crueldade em nome do D'us da compaixão. Pergunto-me se o próprio D'us não chora ao ver as maldades cometidas em Seu Nome.

Pêssach tem início com estas palavras: "Este é o pão da aflição que nossos ancestrais comeram no Egito. Venham todos que estão famintos e comam."

A liberdade começa quando partilhamos nosso pão com outros. Uma história simples, porém ainda com o poder de mudar o mundo.

Meu Faraó de Plástico
Por Tzvi Freeman
Aqui estou eu, tentando tirar as migalhas do teclado ergonômico de meu computador, enviando por fax a minha ":Procuração Para Venda de Chamêts" e baixando uma nova Hagadá. Em outras palavras, Pêssach está chegando. Logo estarei sentado à mesa do Sêder com a família e amigos, quando surgirá a mesma pergunta de todos os Dias Festivos: "O que estamos celebrando? Por que estamos todos aqui?"

Meus filhos dizem que não há o que questionar: Estamos aqui para celebrar nossa liberdade. É por isso que o feriado é chamado "A Festa de Nossa Libertação". Éramos escravos no Egito, agora somos livres. Portanto, vamos à refeição e à celebração.

Estou contente por eles se sentirem tão livres. Quanto a mim, ainda sou um escravo e o Faraó, rei do Egito, nunca morreu. Trabalho para ele a semana toda. Ele me levou a isto: Primeiro, ele me deixa possuir todas estas coisas boas que eu realmente queria sem pagar nada. Depois ele começa a exigir dinheiro em troca delas. Quando, certa vez, não paguei todo o dinheiro, ele exigiu ainda mais dinheiro. Precisei então trabalhar ainda mais para dar a ele todo o dinheiro que exigia.
Levo uma foto do Faraó em sua atual encarnação na minha carteira. Há um nome assustador gravado sobre ela. Ele se chama "MasterCard".

Mas meus filhos não pensam assim. Eles dizem que na Hagadá está escrito que o Faraó nos deixou ir embora, livres. Bem, conheço a Hagadá um pouquinho melhor que eles. A verdade é que a Hagadá, como qualquer outra parte da Torá, está repleta de enigmas e contradições aparentes, para que perguntas sejam feitas. Se você ler qualquer parte da Torá, especialmente a Hagadá, e não fizer alguma pergunta, obviamente não está lendo como deveria. (É por isso que o "Filho que não sabe fazer perguntas" é colocado no final da mesa. Não o Filho Perverso. Não o Filho Simples. "O Filho que não pergunta". Não apenas porque não perguntar é bastante não-judaico, mas também porque significa que simplesmente você não está prestando atenção ao que está acontecendo.

Voltando ao assunto: Acabamos de fazer o Kidush, no qual chamamos isso tudo de "Festa de Nossa Libertação". O que dizemos em seguida? "Este é o pão do pobre… Agora somos escravos, no próximo ano seremos homens livres."

Ora, isso é uma contradição! Somos livres ou somos escravos?

Então meus filhos me dizem que estamos celebrando porque antes éramos escravos e nos libertamos e portanto estamos celebrando. O fato de termos entrado numa confusão e nos tornado escravos outra vez, bem, azar nosso. Ainda podemos comemorar o passado. Desde que o jantar seja bom.

Deixe-me dizer-lhe uma coisa: Não estou comemorando o passado. Se tenho de passar por tudo isso no ano 5764, 3316 anos depois para limpar minha casa para Pêssach e fazer um belo Sêder, isso precisa ter mais significado que comemorar algo que de qualquer forma cancelou-se com a história.

O problema de ser um escravo com todas estas contradições, associado ao estresse da limpeza para Pêssach, realmente me aborreceu. Portanto, fui ver um psicoterapeuta. Ele ouviu, tomou notas e então disse-me que MasterCard não é o Faraó. Eu sou o Faraó. Mais especificamente, minhas exigências absurdas comigo mesmo são o Faraó.

Eu disse a ele que minha única exigência comigo mesmo é que eu não deveria ser um escravo. Ele disse que eu não deveria usar esta palavra, "deveria". A palavra "deveria" significa que estou fazendo uma exigência absurda a mim mesmo. Isso provoca estresse. O estresse, na Hagadá dele, é escravidão.
Aparentemente, os Hebreus no Egito estavam realmente estressados. Construir pirâmides não era nada. O pior era o estresse que eles sofriam.

"Então" – perguntei – "o que eu deveria fazer? Não quero ser um escravo."

Ele disse que eu não deveria fazer coisa alguma. Só desejar já está bem. Eu posso desejar não ser um escravo. "Deveria" não é bom. É irracional.

Então fiquei realmente confuso. Eu sempre entendera que "Eu deveria" era meu libertador, e que "Eu quero" era justamente quem tinha me colocado naquela situação. Mas a hora terminou e ali estava eu no consultório, mostrando minha foto do Faraó para a secretária do psicoterapeuta.
"Em resumo" – pensei – "eu não deveria dizer deveria." Eu precisava de outra consulta com o espremedor de crânios para perguntar se eu deveria ou não dizer que eu não deveria dizer deveria. Mas, com o preço que estes profissionais cobram, eu não acreditava que meu pequeno Faraó me permitiria fazê-lo.

De qualquer modo, decidi, não preciso de um psiquiatra para conseguir me libertar. Afinal, a libertação é uma forma de esclarecimento. Quando foi a última vez que você falou com um psicoterapeuta espiritualmente esclarecido?

O que eu precisava era de um guru. Uma alma elevada, transcendente, que fosse essencialmente liberada e pudesse me tirar de toda esta confusão.

Sentei-me então e digitei uma carta explicando tudo ao Rebe de Guadalajara, enviando-a em seguida para o endereço esclarecimento@guadalajara.guru.

Permaneci online aguardando minha resposta. Neste ínterim, paguei eletronicamente as contas que devia por ficar tanto tempo online para conseguir uma resposta rápida. Meu pequeno Faraó foi-me útil novamente.

Então a resposta chegou. Exatamente assim:

"Somos todos prisioneiros. O ato da existência é nosso crime. O universo é nossa prisão. Nosso corpo e nossa pessoa é nossa cela. As chaves para a libertação estão firmemente guardadas nos punhos de nosso próprio ego."

Em seguida uma pequena nota dizia: "Veja o Tanya, capítulo 47. Leia também "Aproximando o Céu da Terra", por Tzvi Freeman.

Meditei, beberiquei chá, meditei um pouco mais, e entendi. Mastercard não é o Faraó. "Eu quero" não é o Faraó. "Deveria" também não é. Não se trata do quero ou do deveria, mas sim do "EU".

Consultei o Tanya, a clássica obra chassídica do Rabi Shneur Zalman de Liadi, capítulo 47. Ali ele afirma que quando D'us nos deu a Torá, deu-nos a infinitude. Conectamo-nos a Ele por intermédio da Torá e somos livres porque então somos infinitos e livres como Ele. E ele escreve: "… e portanto não há nada impedindo ninguém, exceto sua própria vontade, pois se uma pessoa não deseja…"

Mais uma vez, a mesma idéia. Somos todos livres. Porém nosso ego segura firmemente as chaves. Como faço para que meu ego solte as chaves?

Para a filosofia você pode procurar um tsadic esclarecido em algum lugar do México. Para uma libertação prática, em tempo real, eu preciso do Rebe. Do Lubavitcher Rebe.

Este é o conselho prático do Rebe, numa palestra proferida num Pêssach:

"Torne uma parte de sua vida uma ação que o leve além de seus limites, ajudando pessoas que não são parte de sua família ou círculo de amigos, fazendo alguma coisa que não se encaixe em sua própria auto-definição. Convide alguém com quem você não se sente à vontade para seu sêder. A princípio, talvez você não se sinta muito bem. Mas você se libertou."

Portanto, mais uma vez este ano, chego ao meu sêder. Deixo meu pequeno mundo particular do meu minúsculo eu e passo pela porta rumo a algo infinito, intemporal e eterno, porque está conectado ao infinito, intemporal e eterno D'us. Não faço mais parte de mim. Sou parte de nós e parte de Sua Torá, e portanto, parte d'Ele.

E para prová-lo, eu digo: "Que todos aqueles que precisam venham e se juntem ao nosso sêder..."

Eu me libertei. Este ano, devemos todos nos libertar. Não apenas no sêder, mas em todos os momentos da nossa vida. Para sempre.

Este ano em Jerusalém!

Escravidão Mental
Por Yoel Spotts
"E se D’us não tivesse tirado nossos antepassados para fora do Egito, nós, nossos filhos, e os filhos de nossos filhos ainda estaríamos como escravos do faraó no Egito" (Hagadá de Pêssach).

Muitos comentaristas perguntam-se como o escritor da Hagada pôde ser tão atrevido a ponto de predizer que, "se D’us não nos tivesse tirado do Egito há mais de 3300 anos, ainda estaríamos lá" nos dias de hoje. Afinal, nenhuma nação, não importa quão poderosa seja, pode reinar para sempre. Certamente, em certo ponto durante estes milhares de anos, os egípcios poderiam ter se distraído, dando ao povo judeu uma chance de escapar da escravidão. Como então podemos entender esta afirmação aparentemente não realista de que ainda seríamos escravos, se D’us não tivesse nos levado para fora na época do Êxodo?

Uma solução fascinante para esta dificuldade é apresentada pelo Beis Halevi em seu clássico comentário da Hagada. A explicação da passagem problemática enfatiza que existem, de fato, dois níveis de escravidão – escravidão do corpo e escravidão da mente – e a pessoa pode achar-se em uma situação em que não esteja escravizada nos dois níveis ao mesmo tempo. É possível para alguém permanecer num estado de liberdade física, com domínio total sobre seu corpo, mas mentalmente estar absolutamente limitado por forças externas que o deixam sem nenhum controle sobre sua própria mente.Tal pessoa terá grande dificuldade em levar uma vida normal.

De fato, lemos a respeito dos grandes obstáculos encontrados pelos escravos libertos no Sul dos Estados Unidos após a Guerra Civil, pois embora estivessem fisicamente emancipados, mesmo assim possuíam a "mentalidade de escravo."

O povo judeu foi escravizado no Egito por 210 anos. As condições em que viveram provaram-se ser tão severas que os egípcios conseguiram controlar não apenas seus corpos, como também suas mentes. O povo judeu sentiu-se tão dominado pelos amos egípcios que não conseguiam imaginar-se servindo a outro amo, ou seja, D’us. Assim, mesmo se o povo judeu tivesse conseguido libertar seus corpos em alguma ocasião nestes séculos, suas mentes ainda teriam permanecido escravizadas no Egito.

Por esta razão, D’us interveio e forneceu a solução definitiva, a redenção miraculosa, que permitiu aos judeus reconquistar o controle de suas mentes também. A partir daí, podiam tornar-se o povo de D’us. Agora podiam aceitar as leis de D’us.

A redenção do Egito, portanto, provou ser o pré-requisito para o evento mais importante na história judaica – o recebimento da Torá. Assim, a Hagada está na verdade declarando a verdade inegável: se D’us não tivesse nos tirado para fora do Egito, ainda seríamos escravos. Pois embora nossos corpos pudessem estar livres, mesmo assim permaneceríamos mental e espiritualmente escravizados ao faraó, sem nenhuma esperança.

Com esta profunda percepção, podemos prontamente entender outra declaração intrigante na Hagada. "Em toda geração, uma pessoa deve ver-se como se ela própria tivesse deixado o Egito." Graças a D’us, vivemos num país onde podemos praticar nossa religião em liberdade. Não somos perseguidos ou oprimidos. Somos homens livres. Como então poderemos simular a experiência de deixar o cativeiro?

Na realidade, podemos pensar que somos livres, mas esta liberdade representa apenas metade da equação. Embora possamos ter o controle total sobre nosso corpo, infelizmente nossa mente não está totalmente sob controle. A tensão provocada pela família, amigos e trabalho, bem como outras pressões no ambiente que nos rodeia, pode perturbar nosso bem-estar mental, impedindo-nos de servir adequadamente a D’us. Nossa mente fica atulhada pelas preocupações e problemas diários, não deixando espaço para pensar no cumprimento das mitsvot.

Pêssach é a hora de deixar todas nossas preocupações para trás. Representa a oportunidade de nos libertar do mundano, e chegarmos a platôs mais elevados, mental e espiritualmente. Dessa maneira, podemos sentir como se tivéssemos deixado o Egito, libertando nossa mente da escravidão e dando um novo sopro em nossa vida.

Uma Luz Sobre os 4 Filhos
Por Manis Friedman
Todo ano, fazemos o Sêder de Pêssach. Todo ano, temos os Quatro Filhos fazendo suas perguntas. Todo ano, o Filho Perverso faz a pergunta amarga no Sêder e recebe uma resposta desagradável. Por que ele não aprende?

O Filho Sábio certamente tem algo de bom: todo ano, ele faz uma pergunta inteligente, recebe aplausos e elogios dos pais, depois volta no ano seguinte e faz a mesma pergunta. Porém o Filho Perverso é mau, não idiota. Por que ele faz a mesma pergunta maldosa todos os anos, sabendo que será repreendido?

O Filho Inteligente sabe que precisa conseguir a aprovação dos pais. Esta é sua sabedoria; como filho, ele é sábio. Portanto o Filho Perverso sabe que ao fazer a mesma pergunta outra vez, ele receberá a desaprovação dos pais. Esta é sua maldade; ele é perverso como filho.

Porém o Filho Perverso não pode continuar sendo perverso. Ele terminará por entender que sem a aprovação dos pais, não tem um alicerce sobre o qual construir sua própria vida. Não pode tornar-se ele mesmo se não tiver preenchido uma necessidade básica; a necessidade de conseguir a aprovação dos pais e ser o tipo de pessoa que eles desejam que ele seja.

O sucesso de um filho – de fato, o sucesso da filiação – depende de conseguir proporcionar orgulho aos pais. Devemos ensinar nossos filhos a honrar os pais, não por egoísmo ou porque nós "queremos respeito", mas para dar-lhes a oportunidade de conseguirem aprovação. Devemos mostrar a eles que conseguir aprovação é um ingrediente necessário, saudável, e que faz parte do crescimento.

Assim, se você não quer criar o "Filho Perverso", há uma resposta simples. Faça seus filhos colocarem a mesa. Peça-lhes que carreguem as sacolas de compras. Que recolham a roupa lavada. Todas as tarefas que você, como pai ou mãe, faria por si mesmo, peça aos seus filhos que façam em seu lugar.

Não faça isso por sua própria conveniência ou engrandecimento do ego, mas porque ao fazê-lo, você os honra. Dê aos seus filhos a oportunidade de expressarem sua honra por você. Dê-lhes a chance de conseguir sua aprovação e quando o fizerem, diga isso a eles.

Afinal, criar filhos não deveria incluir encorajar o filho a ser bem-sucedido na tarefa de ser filho? Na nossa época, isso é fácil de esquecer. Empurramos nossos filhos para o "crescimento". Nós os incentivamos a estudar muito para que entrem em boas escolas. Queremos que consigam diplomas sofisticados porque "precisarão deles para arrumar um bom emprego".

O Filho Perverso não apenas sofre a indignidade de jamais crescer – ele também nunca sentiu a reverência de ser um filho. Eis por quê, antes de empurrarmos nossos filhos para o sucesso, devemos primeiro ajudá-los a ter sucesso como filhos. A maneira de fazer isso é, curiosamente, seguir a liderança deles.

O Rebe Anterior contava uma história que ajuda a esclarecer as coisas. Certo dia, quando tinha sete anos, perguntou ao pai por que tinha dois olhos. O pai respondeu que nossos olhos são como os dois pingos sobre as letras hebraicas "shin" e "cin". Quando o pingo está acima do lado direito, a letra é "shin", e tem uma pronúncia forte. Quando está à esquerda, a letra é "cin" e tem uma pronúncia mais suave. O lado direito é forte, o esquerdo é suave. Assim nosso olho direito, forte, é para ser usado quando olhamos nosso próximo, ao passo que o olho esquerdo, mais fraco, é para olhar brinquedos e doces. Por isso, concluiu o pai, é que D’us nos deu dois olhos.

O Rebe ficou tão impressionado pela resposta que escreveu em seu diário que ela mudou sua vida. Como resultado, ele desenvolveu um inesgotável fluxo de amor e preocupação pelos outros, e basicamente perdeu o interesse pelas guloseimas.

Ora, este é um ponto de vista simpático, uma resposta interessante e inteligente, mas por que provocou tamanho impacto?

O pai usou um fato simples – precisamos dois olhos para perceber a profundidade – e deu a ele um maior significado. Não mudou o assunto, apenas colocou-o num contexto relevante para uma criança daquela idade. Poderia aparentemente ser uma resposta engraçadinha e simples, mas era produto de reflexão e raciocínio. Quando o menino fez aquela pergunta inocente, o pai decidiu que aquele era o momento de partilhar uma lição. O fato de ser uma mensagem premeditada causou uma forte impressão.

Quando reagimos a nossos filhos por impulso, como uma reação reflexa a uma pergunta infantil ou a uma explosão de temperamento, a criança sabe, consciente ou inconscientemente, que nosso comportamento é temporário e irrelevante. Quando nossa mensagem não é uma reação brusca àquilo que está acontecendo no momento, mas sim um cuidadoso processo de seguir a deixa deles, então eles prestam atenção.

Por que isso tem importância? Ao dedicar seu tempo para preparar uma lição, você demonstra que está levando o assunto a sério e assim, seu filho o leva a sério. E ainda melhor, ele se sente elogiado pelo simples fato de que você utilizou seu desenvolvimento, seu crescimento, sua educação tão seriamente que dedicou seu próprio tempo a pensar nela.

Porém o pai do Rebe não começou simplesmente a doutrinar o filho um dia depois da escola; ele esperou que o filho viesse a ele. E assim aprendemos uma lição também do pai do Rebe: somente podemos ensinar nossos filhos quando eles são receptivos às nossas idéias. O Filho Perverso é tão frustrante porque ele parece subverter nossas boas intenções. Devemos esperar pacientemente por uma brecha em seu coração e aproveitar o momento quando ele chegar. Toda nossa preparação, senso de oportunidade e atenção reforçam o desejo da criança de buscar a aprovação paterna ou materna. Isso representa a maneira mais profunda de honrar nossos filhos.

No Deserto, Tudo Dava Certo
A história de Pêssach é bem conhecida: o povo judeu era escravo do Faraó no Egito... Moshê (Moisés) o libertou da servidão para receber a Torá no Monte Sinai... e, após quarenta anos no deserto, entrou na Terra Prometida.

No deserto, aliás, tudo dava certo: era uma vida repleta de milagres e maravilhas. Você mesmo já parou para pensar como o povo sobreviveu no meio do nada? Pois saiba que aconteceu um verdadeiro "show" de milagres. As roupas que as crianças vestiam cresciam junto com elas. Lavanderia? Nem pensar! Ao passar entre nuvens, a sujeira sumia! Estavam brancas com aquele "branco total", de dar inveja até às melhores multinacionais fabricantes de sabões em pó deste século. A comida, chamada maná, caia do céu e tinha o sabor do alimento que a pessoa desejasse. Na sexta-feira, véspera de Shabat, caia em dose dupla. Imagine se fosse com a gente... Uma fonte de água jorrava constantemente de uma rocha. Uma nuvem em torno do acampamento do povo de Israel agia como escudo e durante a movimentação do pessoal no deserto.

Nada de sustos, tínhamos seguro contra tudo. Aliás, estávamos com tudo. Quem poderia querer mais? Mas o que significa o Êxodo nos tempos atuais? O que nos ensina a festa de nossa liberdade e como sentir a futura Redenção de toda a humanidade na Era Messiânica?

Sem Egito

Para os judeus, Egito representa muito mais do que apenas um ponto no mapa. Egito é um estado de espírito. Em hebraico, Mitsráyim (Egito) relaciona-se com a palavra metsarim (limites e fronteiras). Para o povo judeu, "escapar do Egito" significa ultrapassar os limites naturais que impedem a realização de seu potencial.

A essência da alma é uma pura faísca da Divindade - infinita e ilimitada. Mas a alma está no exílio, no "Egito"- intrinsecamente restrita ao mundo material e finito. O "Egito" para uma pessoa pode estar em seu egoísmo e em seus desejos impulsivos; para outra, o "Egito" pode estar em seu isolamento ou seu apego a conquista de apenas sucesso material ou reconhecimento pessoal.

Pêssach é uma oportunidade de transcender as limitações e realizar o infinito potencial espiritual em cada aspecto da vida. Pêssach chega e através da Hagadá narra nossa trajetória para que afinal, possamos buscar nossa vitória individual e coletiva, e sair de nosso próprio mitsráyim.

Verdadeira liberdade

Nossa libertação não foi completa até recebermos a Torá no Monte Sinai.

A Torá e os mandamentos de D'us são a chave-mestra para se atingir a verdadeira liberdade - liberdade não apenas da escravidão física, mas de todas as crenças e condutas limitadas. A Torá mostra como evitar as armadilhas que a vida apresenta e ensina como fazer deste mundo um lugar de paz, harmonia e felicidade para todos os seres humanos.

Matsá e chamêts

Pêssach é conhecida como "A Festa das Matsot". Devemos comer somente matsá a partir da primeira noite de Pêssach e nos livrar de todo o chamêts - todo pão e produtos levedados - durante todos os oito dias da festa. Este importante mandamento oferece uma ampla visão da verdadeira natureza da liberdade.

A diferença entre pão levedado e matsá é óbvia: enquanto se deixa crescer a massa de pão, a das matsot de Pêssach não pode subir de modo algum. Nossos sábios explicam que a natureza "inchada" do chamêts simboliza o traço de caráter da arrogância e vaidade. É como aquela pessoa que sobe ao palanque para discursar para que todas a olhem e a admirem.

A matsá, plana e não levedada, representa a absoluta humildade. Como uma pessoa que sempre ajuda a outras sem deixar pistas de seu bondoso ato, ficando sempre no anonimato.

Humildade é o princípio da libertação e o pilar de todo crescimento espiritual. Somente alguém que reconhece suas próprias falhas e se submete a uma sabedoria mais elevada pode se libertar das próprias limitações.

Em Pêssach é proibida até mesmo a mais ínfima quantidade de chamêts. Devemos nos livrar da arrogância e do egocentrismo de nosso coração até não sobrar uma "migalha" sequer. Ao comer as matsot de Pêssach, internalizamos a qualidade de humildade e de auto transcendência que é a essência da fé.

A Divisão do Mar

No sétimo dia de Pêssach comemoramos o milagre da Divisão do Mar Vermelho, que finalizou o Êxodo do Egito. Com as carruagens egípcias em seu encalço, os judeus pularam no mar; D'us "transformou o mar em terra seca", criando paredes de água em ambos lados e permitindo que Seu povo atravessasse. Em seguida, as águas retornaram a seu estado normal, afogando os egípcios.

A Divisão do Mar simboliza mais uma jornada espiritual rumo à liberdade verdadeira. Assim como as águas do mar cobrem e escondem tudo o que se encontra nelas, do mesmo modo o mundo material oculta a força vital Divina que mantém sua existência. A transformação do mar em terra seca representa a revelação da verdade oculta de que o mundo não é separado de D'us; de fato, é unido a Ele.

Freqüentemente, após "sair do Egito" passamos por um despertar brusco. Podemos ter trabalhado o Egito em nosso interior, mas a vida em termos de valores materiais, ainda continua aqui. Devemos buscar então maior empenho para estarmos cientes da presença e influência de D'us em nossas vidas, pois hoje em dia é realmente um milagre sobreviver a cada dia, e não nos damos conta disto. Devemos aguardar mais um pouco, até que "o mar se divida" e a liberdade seja completa.

Eu lhes mostrarei maravilhas

Nas palavras do profeta Michá, D'us proclama: "Como nos dias de tua saída do Egito, Eu lhes mostrarei maravilhas." O Êxodo do Egito é o protótipo da Redenção Final quando Mashiach (Messias) virá e escravidão e sofrimento serão banidos para sempre da face da Terra.

Nossos sábios perguntam: "Por que 'nos dias de tua saída', se o Êxodo ocorreu num só dia?"

A resposta é que a verdadeira liberdade é um processo contínuo. Os primeiros passos fora do "Egito" são apenas o início. E assim diz o Talmud: "A cada geração e em cada dia, cada um é obrigado a se ver como que se ele próprio estivesse saindo do Egito naquele mesmo dia."

Todas as lições de Pêssach devem ser aplicadas diariamente: devemos nos livrar da arrogância e nos tornar humildes; devemos aprofundar nossa consciência de D'us, como se o mar se abrisse; e devemos nos esforçar para aperfeiçoar nossa conduta, como convém à nação que recebeu a Torá no Monte Sinai. Cada passo que damos em direção a Torá e mitsvot nos conduz mais próximo às revelações de uma Era de paz e harmonia.

The End... Happy End!

O oitavo dia de Pêssach está associado à esperança da vinda de uma época sem guerras, sem desemprego e miséria, sem mais sofrimento. A época de Mashiach (Messias). A Haftará (leitura dos Profetas) daquele dia contém as famosas profecias de Yesha'yáhu sobre a Era Messiânica: "O lobo habitará com o cordeiro, o leopardo com o cabrito... não farão nenhum mal nem destruirão... pois a Terra ficará repleta do conhecimento de D'us assim como as águas encobrem o leito do oceano."

Maimônides cita a crença em Mashiach como um dos treze princípios básicos da fé judaica. Ele explica em sua codificação da Lei Judaica que Mashiach é um sábio que irá liderar todo o povo judeu no fiel cumprimento do guia de vida que é a Torá. Finalmente, reconstruirá o Templo Sagrado em Jerusalém, reunirá os exilados em Israel e trará uma época com final feliz, na verdade, o início de uma nova era!

Atitude positiva

Ao olhar as manchetes dos jornais ou escutar sobre um incidente ocorrido com um amigo ou vizinho, o mundo se apresenta hoje mergulhado em um verdadeiro caos. Como então podemos aceitar a idéia da Redenção iminente vendo tudo isto acontecendo frente a nossos olhos, a todo momento e sem aviso prévio, invadindo nossas vidas e a de nossos filhos? Entretanto, podemos ficar tranqüilos com o exemplo da história de Pêssach. Lá no Egito, apesar do desprezível jugo nas mãos da nação da qual nenhum escravo escapara antes - a redenção veio rapidamente, como "num piscar de olhos" e estávamos livres.

Em tempos recentes, por outro lado, presenciamos acontecimentos tão notáveis que até mesmo líderes leigos classificaram como milagrosos: a queda do comunismo, a Guerra do Golfo, o Êxodo em massa e a absorção em Israel de judeus provenientes de países anteriormente opressores.

Hoje, a riqueza das nações está sendo desviada da produção de armas de destruição para meios de construção e cooperação - concretizando-se o provérbio de "espadas em arados". Tal progresso - já há muito profetizado como arauto da Era Messiânica - fortalece a crença na sua chegada iminente.

O último dia de Pêssach é uma ocasião propícia para externar a espera sincera pela chegada de Mashiach: "...mesmo que ele demore, ainda assim espero por sua vinda a cada dia".

A Era Messiânica será uma época de paz e abundância para toda a humanidade... uma época quando, como Maimônides continua, não precisaremos mais lutar pela sobrevivência. "Os luxos serão tão abundantes como o pó da terra, e todos nós estaremos livres para nos ocupar com buscas espirituais - para aprofundar nosso conhecimento de D'us."

Que possamos comemorar Pêssach fora de nosso Egito e mais próximos de um mundo onde tudo dará certo outra vez.

Uma Mensagem de Liberdade
Adaptado de uma carta do Rebe – 11 de Nissan de 5713
Com a aproximação de Pêssach, podemos novamente rememorar aquele grande evento no alvorecer de nossa história. Nosso povo foi libertado do cativeiro egípcio a fim de receber a Torá como homens e mulheres livres.
A memória e a imaginação nos dão a capacidade de nos associar a um acontecimento no passado, e reviver as emoções que forão sentidas por ocasião do evento. Estamos limitados pelo tempo e pelo espaço, mas apenas fisicamente.
Em nossa mente, podemos viajar sem limites, e quanto mais espirituais nos tornamos, mais perto chegamos do passado, e mais intensamente podemos vivenciar sua mensagem e inspiração.
Lembrar é uma conquista espiritual. Ao comentarem sobre o versículo "E estes dias serão lembrados e feitos" (Esther 9:28), nossos Sábios ensinam que tão logo estes dias sejam relembrados, são espiritualmente revividos. A Divina benevolência que trouxe milagres no passado é redespertada por nosso ato de lembrança.
Pêssach é a "Festa de nossa libertação". Celebra um evento histórico: o Êxodo do povo judeu do Egito. No entanto, nossos Sábios nos ensinam que em toda geração, e em todo e cada dia, devemos nos ver como se tivéssemos acabado de ser liberados do Egito. A implicação é que a liberdade não foi atingida de uma vez por todas. Requer constante vigilância. Cada dia, e cada ambiente, encerra seu próprio Egito – um poder de minar a liberdade de um judeu. Talvez a maior ameaça venha de dentro. A convicção que determinadas realizações estão além de nós – a crença forte, confortável, de que a pessoa não nasceu para atingir o auge da vida espiritual. Acreditar nisso é colocar barras ao redor de si mesmo, deixar-se aprisionar por uma ilusão.
Pêssach, assim, é um processo contínuo de auto-libertação. A festa e suas práticas são símbolos de um conflito constantemente renovado num judeu: criar a liberdade de viver seu potencial espiritual. Esta é uma das razões pelas quais somos conclamados a lembrar nossa libertação do Egito em toda geração e todos os dias. Devemos pessoalmente "sair do Egito" todos os dias. Escapar de seus limites, tentações e obstruções que nossa existência física coloca no caminho de nossa vida espiritual.
A manifestação de nossa libertação do Egito é a liberação de nossa alma Divina das restrições de seu ambiente físico. E quando esta é conseguida – com a ajuda de D’us que nos libertou do Egito, e através de uma vida de Torá e mitsvot – termina uma grande angústia espiritual. O conflito interior entre aquilo que é físico e o que é Divino na natureza de um judeu é transcendido.
Podemos então desfrutar a verdadeira liberdade, o senso de serenidade e harmonia, que é o prelúdio à liberdade e paz no mundo em geral.

Caçadores de Liberdade
Por Chana Kroll
O fato que mais odiamos sobre os chavões é que geralmente são verdadeiros, especialmente aqueles que gostaríamos que fossem o oposto da verdade…
Há um velho ditado dizendo que é mais fácil tirar um escravo da escravidão que tirar a escravidão do escravo, ou o equivalente judaico – que é mais fácil tirar um judeu do exílio que tirar a sensação de exílio do judeu.
Entendendo muito bem a psicologia humana (óbvio, pois Ele a criou), D'us jamais deixou a tarefa de tirar o exílio de nossas psiques inteiramente em nossas mãos. Ele construiu determinados estágios no ano que nos tiram de nossas restrições ao tirar nossas restrições para fora de nós.
Há milhares de anos, às vésperas de deixarmos o Egito, um país onde tínhamos sido brutalmente escravizados (os historiadores, baseados em diários e outros registros, notaram que Hitler copiou deliberadamente os atos dos egípcios contra os judeus), nossos ancestrais sacrificaram cordeiros e os comeram junto com matsá (pão ázimo) e maror (ervas amargas). Durante as gerações posteriores, continuamos a comer o cordeiro de Pêssach juntamente com matsá e maror em conexão com aquela última noite no Egito. Isso terminou quando o Segundo Templo foi destruído. Incapazes desde então de levar o sacrifício de Pêssach todo ano, em vez disso mantemos sua memória viva comendo matsá e ervas amargas e recitando determinados versículos numa refeição festiva chamada "sêder", na véspera de Pêssach.
O sêder inteiro, e até os objetos na travessa do sêder, contam a história de nossa escravidão e como D'us nos libertou. Porém há algo que parece fora de lugar sobre o alimento mais associado ao sêder.
O motivo fundamental para a matsá ser comida no sêder não está conectado à matsá que nossos ancestrais comeram naquela última noite de cativeiro. Também não está conectada à maneira maravilhosa com que fomos tirados do Egito. Ao contrário, está conectada a uma estranha série de eventos ocorridos depois que fomos libertados, depois de já termos observado aquele primeiro sêder no Egito, e depois que os egípcios nos imploraram para partir.
Fizemos alguma massa para servir de alimento durante a jornada, e então fugimos. Tendo testemunhado um ano de pragas contra nossos inimigos e milagres ao povo judeu, tendo visto o próprio faraó vir correndo para nós, vestido em trajes de dormir, implorando-nos para aceitarmos nossa liberdade e partirmos, corremos rumo ao deserto como gazelas assustadas.
E nos sentamos para nosso sêder todos os anos, um evento repleto de costumes projetados para nos fazer sentir como reis (comemos reclinados, cobrimos a mesa com lindos utensílios e prataria reservados exclusivamente para esta ocasião), e dizemos: "Eles assaram bolos de matsá com a massa, porque esta não crescera. Pois eles foram levados para fora do Egito e não podiam demorar."
Em outras palavras, a matsá que comemos hoje celebra 1) um engano culinário – não havia tempo para deixar os pães crescerem, portanto tivemos de assá-los achatados, e 2) nossa pressa devida ao medo.
Isso não parece combinar.
Do quê, exatamente, temos medo? E o que mudou entre o momento que o faraó nos pediu para partir imediatamente, e Moshê, respondeu que partiríamos pela manhã, de maneira digna – e o momento em que pegamos alguma massa crua e corremos?
A Hagadá (o texto que recitamos no sêder, contendo instruções para a condução do sêder, bem como histórias selecionadas) começa sua explicação sobre por que comemos matsá dizendo que a massa não teve tempo de crescer antes que D'us Se revelasse a nós, e que este é o momento no qual fomos realmente redimidos.. Este é o momento em que devemos fugir.
Veja, no fim não era do Egito que estávamos fugindo. Não era o temor de sermos capturados e forçados a ser escravos novamente. Foi o medo de nunca nos tornarmos realmente livres. Foi o medo de nos colocarmos voluntariamente na escravidão.Estávamos fugindo de nós mesmos.
Quando D'us escolheu revelar-Se, entre o pôr-do-sol e o alvorecer, nossos ancestrais foram suficientemente inteligentes para perceber que esta revelação não era permanente e que o desejo pela liberdade verdadeira que despertou dentro deles não duraria. Então eles fugiram, o mais depressa possível, da tentação de evitar irem adiante. Tiveram um momento de inspiração, e o aproveitaram.
E quando celebramos a Festa da Liberdade a cada ano, comemos as matsot que mal assadas nos lembram de capitalizar os momentos de inspiração que tivemos e construí-los em dias, meses e anos de genuíno crescimento, como pessoas e como judeus.
No âmago disso tudo, comemos matsá para nos ajudar a interiorizar o desejo Divinamente inspirado de sermos livres.
A matsá da pressa foi um resultado da revelação Divina. Ela nos lembra que nossa liberdade é um presente de D'us, e portanto ninguém – nem mesmo nós – pode realmente levá-la embora. Quando nosso ser físico parece encurralado, mesmo se estivermos sofrendo, mesmo que pareça que estamos na escravidão, jamais podemos ser realmente escravos outra vez. Porque somos judeus, pertencemos a D'us, e somos livres.
Uma vez ao ano, revivemos os eventos que realmente nos destacam como uma nação especial – unidos uns com os outros, e a D'us, mas não limitados por este mundo. Uma vez ao ano, recontamos os primeiros mandamentos que nos foram outorgados, e a incrível fé e coragem com as quais nossos antepassados os cumpriram. Uma vez ao ano, comemos esta matsá para nos lembrar a querer a liberdade que recebemos, e a pegá-la e viver com ela.

O Nasi
O Santuário portátil construído pelo povo de Israel no deserto do Sinai - conhecido como Mishcan, ou o "Tabernáculo" - foi inaugurado no primeiro dia do mês de Nissan do ano 2449 desde a criação. A partir desse dia e durante os próximos doze primeiros dias de Nissan, cada um dos líderes das Tribos - o "Nasi" - de Israel trazia uma oferenda inaugural representando sua tribo.
Costumamos celebrar a inauguração do Tabernáculo a cada ano, através da leitura, em cada um desses doze dias, de versos da Torá, que descrevem as ofertas de Nasi do dia. Estes versos são tradicionalmente lidos após Shacharit, Oração da Manhã, mas pode ser recitado a qualquer hora durante o dia.
A leitura é seguida de uma breve oração, na qual recitamos: "Que seja Tua vontade, meu D’us e D’us de meus pais ... que se eu, o teu servo, da tribo de [nome da Tribo a qual ele pertencia] cuja seção do Nasi tenho lido hoje em Tua Torá, possam todas as centelhas sagradas e luzes sagradas que estão imbuídas dentro da santidade desta tribo brilhar sobre mim, para me fornecer compreensão e inteligência em Tua Torá e temor por Ti, para cumprir com a Tua vontade todos os dias da minha vida."
No 13º dia de Nissan, lemos sobre todos os sacrifícios, e, em seguida, sobre o acendimento da Menorá do Tabernáculo - a contribuição da tribo sacerdotal de Levi (que não foi contado entre as Doze Tribos de Israel). O trecho "Que seja Tua vontade ..."não é recitado neste dia.

Moshê
Maimônides chama Moshê de "o mais perfeito ser humano", e nossos Sábios dizem sobre ele que: a Presença Divina falou da sua garganta". Porém a Torá também atesta que o homem que tirou os Filhos de Israel do Egito e recebeu a Torá de D'us foi o homem mais humilde sobre a face da terra".
Moshê nasceu no Egito em 7 de Adar de 2368 (1393 AEC), numa época em que os israelitas eram escravos dos governantes do país e sujeitos a muitos decretos duros. Foi o último dos três filhos de Yocheved e Amram – Aharon era mais velho que ele três anos, e sua irmã Miriam, seis anos mais velha.
Quando tinha três meses de idade, Moshê foi escondido no Nilo para escapar do decreto do Faraó, de que todos os recém-nascidos hebreus do sexo masculino deveriam ser afogados; foi retirado do rio pela filha do Faraó, Batya, que o criou no palácio. Aos 20 anos, Moshê fugiu do Egito após matar um egípcio que viu espancando um judeu e foi para Midian, onde desposou Tsipora, filha de Yitrô, e teve dois filhos, Gershon e Eliezer.
Quando contava 80 anos de idade, Moshê estava cuidando do rebanho de seu sogro. D'us revelou-se a ele numa sarça ardente no Monte Horev (Sinai) e instruiu-o a libertar os Filhos de Israel. Moshê tirou os judeus do Egito e anunciou diversos milagres que D'us realizou: as dez pragas no Egito, a abertura do mar, a água que Ele permitiu fosse extraída de uma rocha, o maná que fez cair dos Céus, entre inúmeros outros.
Moshê recebeu a Torá de D'us e ensinou-a ao povo, construiu o Mishcan (Morada Divina) no deserto, e liderou os Filhos de Israel durante 40 anos, enquanto eles viajavam pelo deserto; porém D'us não permitiu que ele os levasse à Terra Santa. Moshê faleceu em seu 120º aniversário no Monte Nevo, de onde avistou a terra na qual ele ansiava conhecer.
Moshê, como está escrito, foi o mais humilde dos homens.
Obviamente, ele sabia quem era. Sabia que de todos os homens, somente ele foi escolhido para realizar as maiores missões da história – levar uma nação inteira para fora do cativeiro e levá-los até a maior revelação que jamais haveria. Ele foi o mais elevado de todos os profetas, que falava diretamente com D'us sempre que desejava. Ele sabia tudo isso e ainda assim era humilde.
Moshê disse a si mesmo: "Esta não é minha própria realização. Isso é o que fiz com os poderes que D'us me concedeu. Se outra pessoa tivesse recebido os mesmos poderes, talvez tivesse feito um trabalho melhor."

Como Surgiu o Sanduiche?
Um dos lindos rituais do sêder (refeição de Pêssach) é o consumo de um sanduíche único, feito com dois pedaços de matsá (pão ázimo) com maror (ervas amargas, como raiz forte, ou alface romana) dentro.
A tradição parece estranha. A essa altura no sêder, já comemos um pedaço grande de matsá, seguido por uma quantidade significativa de maror. Por que a necessidade de combinar os dois num único sanduíche?
Para explicar este enigma, tradicionalmente dizemos estas palavras antes de consumir o sanduíche, explicando o significado do ritual: “Isso foi o que Hilel fez, na época em que o Templo existia. Ele embrulhou um pedaço da oferenda de cordeiro de Pêssach, um pouco de matsá e maror e os comeu juntos…”
Qual foi o motivo para o cardápio de Hilel? Ele foi um sábio da era do Segundo Templo que nasceu na Babilônia (conhecida hoje como Iraque) e em 31 AEC, 40 anos antes da destruição do Templo pelos romanos, tornou-se o líder do Sanhedrin (a Suprema Corte Judaica localizada em Jerusalém) Por que ele inventou este envoltório?
O Processo da Tradição Judaica
A Torá foi originalmente escrita de uma maneira que se prestava a várias, e com freqüência contrastantes interpretações, todas elas legítimas, desde que aderissem à metodologia e fórmulas do estudo e interpretação bíblica transmitida desde Moshê de geração em geração.
Isso esgotou a discussão da Torá sobre a refeição de Pêssach. Os sábios da era do Segundo Templo discutiram o significado do versículo a seguir, sobre o menu do sêder: “Eles comerão a carne [da oferenda de cordeiro] assada sobre o fogo, e matsot; sobre ervas amargas eles a comerão.”
Hilel, o presidente do Sanhedrin, tomou estas palavras ao pé da letra: eles devem simultaneamente, na mesma mordida, comer o cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror. Assim, foi inventado o primeiro sanduíche judaico. Consistia não de baguel e salmão, mas de matsá, carne e ervas amargas, e uma mordida deveria captar todos os três itens.
Os colegas rabínicos de Hilel discordaram. Eles acreditavam, que a Torá queria dizer que estes três itens deveriam ser comidos na mesma refeição de Pêssach, não necessariamente no mesmo sanduíche e ao mesmo tempo.
As Decisões
Geralmente, nestes debates, (houve milhares deles, a maioria dos quais registrada na Mishná e no Talmud), as opiniões divergentes eram apresentadas ao Sanhedrin, 71 membros da Suprema Corte Judaica formada por homens de extraordinária erudição e impecável integridade.
Como a Torá claramente instrui, a opinião majoritária da corte é estabelecida como Halachá, ou lei Judaica, sancionada pela própria Torá.
No entanto, sobre este debate em particular – se era ou não necessário um envoltório de Pêssach – jamais foi atingida uma conclusão legal. Assim, incorporamos as duas perspectivas em nosso menu anual do sêder: Primeiro consumimos a matsá e o maror independentes um do outro, seguindo a perspectiva dos colegas de Hilel. Então consumimos as três juntas num sanduíche, seguindo a tradição de Hilel. Como atualmente não temos a oferenda de cordeiro de Pêssach, aquele terceiro alimento não faz parte do nosso sanduíche. Esta é uma breve e incompleta sinopse da origem haláchica do sanduíche do sêder.
A Dimensão Espiritual
Sabe-se bem que toda lei, tradição e debate judaicos contêm, além do significado físico e concreto, uma camada psicológica e espiritual que torna a lei ou debate específicos eternamente relevante à jornada interior da alma humana.
Qual é, então, o profundo significado espiritual por trás da insistência de Hilel, de que a mitsvá bíblica de comer o cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror somente poderia ser cumprida se for feito um sanduíche com todos os ingredientes juntos? D’us realmente Se importa se você separar a carne do pão?
Mais uma pergunta deve ser feita. Durante o sêder, quando nos engajamos em vários rituais, não recitamos antes de cada um o motivo por trás do seu desempenho. Por que o ritual do sanduíche é diferente de todos os outros rituais? Por que nós, antes do consumo do sanduíche, recitamos explicitamente a explicação para este costume específico?
Os Mistérios do Rei Shelomô
A resposta a essas perguntas está numa fascinante tradição midráshica sobre uma declaração enigmática feita pelo Rei Shelomô: “Três coisas são maravilhosas para mim: e quatro eu não conheço.”
A que três coisas Shelomô estava se referindo? O Midrash explica que ele estava mistificado pelos três alimentos principais do seder de Pêssach: o cordeiro, a matsá e o maror. “Quatro eu não conheço,” explica o Midrash, refere-se aos quatro tipos de vegetação, a cítrica, o ramo de palmeira, o galho de murta e salgueiro, levado pelos judeus durante a Festa de Sucot.
Qual o significado por trás deste estranho Midrash? O que era tão misterioso sobre estes itens?
Três Modelos
O cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror não são apenas três itens de alimento físico consumidos no seder. Como ocorre com qualquer outra tradição no Judaísmo, eles simbolizam três perfis humanos: o judeu inspirado, o judeu “normal” e o judeu amargo. O sabor e aroma deliciosos da carne tostada simboliza o ser humano inspirado, apaixonado e revigorado, cujo coração está em fogo perante a Divindade. O sabor suave e simples da matsá representa a simplicidade do judeu médio que não está desligado, mas não está necessariamente ligado; o maror amargo reflete a pessoa que é amarga e está ressentida por sua história, tradição e religião, e com a vida em geral.
Em um nível mais sutil, os três alimentos representam a pessoa como um todo, o indivíduo em conflito e a fraqueza do ser humano.
O cordeiro de Pêssach era uma oferenda sagrada, ofertada no Templo Sagrado de Jerusalém, com um sabor delicioso e maravilhoso aroma. Isso simboliza o tsadic, o sagrado, o indivíduo “delicioso”, cuja vida inteira está permeada de santidade e deleite espiritual. Através de imensa labuta, a identidade consciente do tsadic se tornou permeada com a luz e majestade de sua alma Divina. Como resultado, a vida do tsadic é um prato de “gourmet”, um pedaço de beleza, uma fragrância deliciosa.
A matsá, o pão simples e sem fermento, com freqüencia sem sabor e jamais delicioso, representa o benoni, a “pessoa bondosa” intermediária que leva uma vida moral, porém confronta muitos momentos insípidos. Enquanto o tsadic está sempre inspirado e apaixonado por D’us e pela verdade, o benoni deve lutar com muitos momentos de tédio, entorpecimento e apatia.
O maror (as ervas amargas) reflete o ser humano fraco que não consegue corresponder à sua verdadeira identidade humana e espiritual. Nas muitas vicissitudes e pressões da vida, e na presença de poderosas tentações e desafios, ele ou ela cede à imoralidade, promiscuidade, pecado e ao vício. Um sabor amargo e ácido invade os dias e noites dessa pessoa.
Três Caminhos Divergentes
Cada um destes três modelos, que ainda podem ser subdivididos em muitas categorias, está incluído na experiência de Pêssach. Cada qual, ao seu próprio modo, deve aspirar à libertação; cada um deles recebe nesta noite a oportunidade especial de libertar a si mesmo e ao seu ambiente das amarras que o impedem de atingir seu potencial máximo e deixar este mundo um passo mais perto da Redenção.
Cada um dos três tipos de pessoas – o cordeiro, a matsá e o maror – tem seu momento e seu lugar na mesa do sêder. Porém, as três categorias permanecem distintas. Três caminhos divergem no deserto da vida, buscando a liberdade. A busca pela liberdade mais profunda na vida do tsadic (sábio) não pode ser comparada com os conflitos e aspirações do modelo matsá ou maror de personalidade. São mundos à parte; cada qual vê a realidade e interpreta o significado da vida em maneiras muitos diferentes.
Porém Hilel escolheu o caminho menos percorrido. Ele insistia que se o cordeiro, a matsá e o maror não fossem consumidos juntos, o sêder estaria invalidado. O que ele estava dizendo era que se os três tipos de pessoas acima mencionadas não aprendessem a experiência de Pêssach como uma entidade integrada e holística – como um “sanduíche” – nenhuma delas poderia interiorizar a visão da liberdade de Pêssach. Para sentir a libertação em toda a sua majestade, dignidade e profundidade, sugeria Hilel, devemos aprender a unir a carne, a matsá e o maror num único sanduíche.
A Maravilha da Unidade
Mas como o impossível poderia ocorrer? Como poderia o judeu semelhante à carne unir-se com o judeu do tipo maror sem comprometer seus ideais? Como o judeu amargo e o inspirado podem caminhar juntos? Como podem pessoas de esferas e ideologias tão diferentes se juntarem? Isso era um mistério. Até o Rei Shelomô, o mestre da lógica e da sabedoria racional, declarou: “três coisas são maravilhosas para mim!” Shelomô estava se referindo ao envoltório único do cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror. Como estes três perfis humanos podem se unir?
Este é também o significado as palavras de Shelomô: “Quatro eu não conheço.” Os quatro tipos de vegetação usados em Sucot – o etrog, o ramo de palmeira, murta e salgueiro – representam quatro tipos de pessoas. Há pessoas que, como a cidra, têm um sabor delicioso e um aroma adorável; existem aquelas que, como a palmeira, possui um ótimo sabor, mas nenhuma fragrância; aquelas como a murta, que tem um odor delicioso mas não tem sabor e aquelas, como o salgueiro, que carecem tanto de sabor quanto de aroma. Como, perguntava-se o Rei Shelomô, estas quatro categorias podem se unir?
Porém, apesar do desafio e do mistério, Hilel exigia exatamente isto. Por quê? Porque sua personalidade singular e sua história de vida incorporavam o método através do qual este feito aparentemente impossível pode ser conquistado.
História de um Nudnik e um Sábio
O Talmud declara: “A pessoa deve se esforçar sempre para ser humilde como Hilel, e não rigoroso como Shamai. (Shamai era amigo e colega de Hilel, e discutia com ele sobre muitas idéias e leis na Torá. Shamai era mais severo em sua abordagem.)
Para explicar essa declaração, o Talmud oferece uma história bem humorada sobre um homem que fez uma aposta de 400 zuz (uma quantia respeitável) de que cpmseguiria fazer Hilel perder a calma e ter um ataque de fúria. Certa sexta-feira à tarde, quando Hilel, presidente da Suprema Corte, o corpo mais importante do Judaísmo, estava ocupado se lavando para o Shabat, o homem caminhou pela frente da casa dele, gritando: “Há um Hilel aqui? Há um Hilel aqui?” Hilel vestiu uma capa, saiu para cumprimentar a pessoa e perguntou: “O que você quer, meu filho?”
“Tenho uma pergunta a fazer,” respondeu o homem. “Por que os babilônicos têm a cabeça redonda?”
Hilel respondeu reconhecendo que esta era uma questão profunda e continuou explicando que as parteiras da Babilônia não eram muito peritas em seu trabalho.
O homem se afastou um pouco e em seguida retornou, infernizando Hilel com as perguntas mais irrelevantes: “Por que os pés dos africanos são largos? Por que os olhos dos tarmodianos são redondos?”
A cada vez que o homem voltava, Hilel cessava seus preparativos para o Shabat, vestia a capa e saía para responder ao homem com profundo respeito, sempre reconhecendo que era uma questão profunda. O homem era o que se chama em yidish um clássico nudnik (chato), porém a tolerância de Hilel com ele era brilhante. A certa altura Hilel disse ao homem: “Sinta-se à vontade para fazer qualquer pergunta que desejar.”
Finalmente, quando o homem percebeu que não havia maneira de fazer Hilel perder a calma, declarou: “Que não haja muitos como você entre Israel.”
“Por quê?” perguntou Hilel.
“Por sua causa eu perdi 400 zuz!” respondeu o homem. Hilel disse: “É muito melhor você perder 400 zuz, e ainda mais 400 zuz, que Hilel perder sua calma.”
Três Convertidos
O Talmud continua a relatar três histórias de como Shamai se recusou a ensinar três potenciais convertidos que fizeram pedidos absurdos (“Converta-me, com a condição de que você me ensine a Torá Escrita”; “Converta-me com a condição de que você me ensine a Torá inteira enquanto fico sobre um pé só”; e “Converta-me com a condição de que você fará de mim um Sumo Sacerdote”).
Shamai sentiu que estes não-judeus estavam consumidos pelos próprios desejos, e não estavam preparados para abraçar o Judaísmo pelo que realmente é, e sim pelo que eles queriam que fosse. Eles subseqüentemente procuraram Hilel, que os aceitou, e de maneira gradual e correta mostrou-lhes que estavam errados em sua abordagem ao Judaísmo. Eles se converteram da maneira adequada.
Um dia, relata o Talmud, os três se encontraram e disseram: “A firmeza de Shamai procurava nos afastar deste mundo; a humildade e gentileza de Hilel nos trouxe para debaixo das asas da Divina Presença.”
Qual era o segredo da paciência e tolerância de Hilel? Ele estava mentindo quando disse a eles que suas perguntas eram profundas? Por que Hilel estaria preparado para lidar com convertidos que aparentemente estavam zombando de sua religião? Hilel foi um paradigma do homem politicamente correto?
Hilel não era ingênuo, nem era um rabino piegas e covarde, temeroso de um confronto. Ele foi um dos maiores líderes e eruditos do seu tempo; entendia algo sobre a natureza humana que muitos não conseguem entender.
Respeito à Diversidade
Algumas pessoas têm muita dificuldade em lidar com opiniões e atitudes que diferem das suas. Quando se defrontam com uma perspectiva drasticamente oposta à sua própria, podem se desintegrar emocionalmente. Sucumbem ao ódio e sentem-se obrigados a desmerecer completamente seu adversário.
Outros, no entanto, são bem melhores para lidar com idéias, estratégias e caminhos muito diferentes, ou até opostos, aos seus. Isso não ocorre porque são relativistas morais e acreditam que não há verdades absolutas que valham a pena buscar e pelas quais lutar. Não! Talvez eles professem convicções profundas e ideais aos quais são profundamente fiéis. Porém, apesar disso, eles podem escutar e refletir sobre estas idéias opostas às suas sem sucumbir à furia ou ressentimento.
Qual o motivo para essas reações contrastantes à oposição? Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador da Escola Chabad de psicologia e misticismo (1745-1812), sugere que é uma questão de espaçamento. Alguns cérebros simplesmente carecem do “espaço” para permitir que perspectivas diferentes ali residam juntas. Quando uma opinião oposta abre caminho até um cérebro desses, eles temem que este substituirá e superará sua própria identidade. O cérebro deles não pode conter simultaneamente duas noções contrastantes. Para eles, ouvir realmente e refletir sobre um ponto de vista contrastante seria uma forma de morte mental. Conseqüentemente, eles devem por instinto tornar ilegítimo toda a teoria do seu oponente ideológico a fim de manterem a sua. Se ele tem algo a dar, isso significa que os outros não têm.
Outros cérebros, diz Rabi Shneur Zalman, possui mais espaço dentro deles e assim podem conter em sua zona contrastante idéias, perspectivas e paradigmas. Esta pessoa pode estar fortemente convencida de que sua posição é verdadeira, enquanto a de seu oponente é falsa e talvez até destrutiva, porém ele ainda pode “ver” e entender aonde a outra pessoa quer chegar. Ele pode debater sua idéia ferozmente, mas não tem problemas em ouvir, revisar, examinar e sintonizar uma opinião muito diferente da sua sem assassinar o caráter do seu adversário. Ele avalia o fato de que a diversidade de perspectiva e opinião são indispensáveis à condição humana; que um D’us não definido criou possibilidades infinitas de pensamento e experiência, e cada uma deveria ser ouvida. Ele nunca se prende à noção de que a maneira pela qual vê as coisas é a única realidade.
D’us, esta pessoa acredita, transcende não apenas as propriedades físicas do homem, mas também as mentais e intelectuais de qualquer indivíduo. Às vezes isso significa que devo estar pronto a descobrir que pode haver duas respostas para a mesma questão, ambas legítimas e válidas. Às vezes, quando a opinião diferente mina as verdades morais transmitidas no documento de D’us, a Torá, eu não devo adotar a outra opinião como legítima, mas avaliar e entender a jornada da outra pessoa, e lembrar-me de não o rejeitar ou diminuir apenas por causa da sua posição diferente. Devo procurar entender de onde a outra pessoa vem e o que a levou a esta conclusão.
A Amplitude de Hilel
O neto de Rabi Shneur Zalman, Rabi Menachem Mendel, o Tsemach Tsedec (1789-1866), num comentário sobre as declarações do seu avô, sugere que Hilel incorporava este perfil por excelência. Hilel não se torturava para “apresentar um grande show”, e demonstra um comportamento gentil quando alguém inconveniente chega para incomodá-lo numa tarde de sexta-feira. Hilel não estava sendo politicamente correto quando disse ao homem que suas perguntas eram profundas. Hilel, devido à amplitude do seu objetivo e de sua consciência, criou espaço em sua alma para a autêntica diversidade. Hilel possuía a capacidade de “ver” as `coisas sob a perspectiva daquela pessoa.
Da mesma forma, quando convertidos em potencial o abordavam com pedidos ridículos, Hilel não comprometia os próprios ideais para render-se às exigências deles. Em vez disso, ele tentava entender o que havia por baixo dos seus pedidos, de onde vinham aquelas pessoas, e o que as fazia perguntar sobre questões estranhas. Assim, não havia necessidade de rejeitá-las. Ele poderia, em vez disso, demonstrar gradualmente a eles onde poderiam ter errado, e como deveriam aprender para amadurecer em sua busca espiritual.
Identificar-se com o Próximo
Este padrão no processo de raciocínio de Hilel pde ser observado em muitas posições diferentes que ele tomou em relação à Lei Judaica. Um dos mais famosos ditos de Hilel é: “Esteja entre os discípulos de Aharon, amando a paz e buscando a paz, amando as pessoas e aproximando-as da Torá” (Aharon, irmão de Moshê, era conhecido como pacificador). Isto, em uma linha, capta a filosofia de Hilel. Se você deseja aproximar as pessoas da Torá, deve primeiro amá-las, relacionar-se com elas e identificar-se com sua jornada individual.
E, obviamente, quem pode esquecer a descrição feita por Hilel de toda a Torá como sendo um comentário a este princípio: “Aquilo que você não gosta que seja feito a você, não o faça ao seu próximo.”
A vida de Hilel foi um comentário sobre esta instrução. Portanto, foi Hilel que envolveu a oferenda de cordeiro de Pêssach, a matsá e o maror e os comeu juntos. Hilel acreditava que os três perfis simbolizados por estes três alimentos podem e devem ser levados juntos. Hilel certa vez declarou: “Se eu não for por mim, quem será por mim? Porém se eu cuidar apenas de mim, o que sou eu?”
O judeu semelhante à carne deve sempre lembrar que sua libedade somente pode ser atingida se juntar seu coração com o judeu semelhante à matsá e o judeu semelhante ao maror, para embarcar no caminho que leva à libertação.
Imitando Hilel
Nos nossos sedarim tentamos imitar o exemplo de Hilel. É por isso que, antes de consumir o sanduíche, devemos declarar: “isto é o que Hilel fez, na época da existência do Templo. Ele envolveu um pedaço do cordeiro de Pêssach, um pedaço de matsá e um pouco de maror e os comeu juntos…”
Se não fizermos esta declaração, alguém poderia perguntar: “Como posso me aproximar deste judeu que está tão distante de minhas crenças e do meu estilo de vida? Como posso realmente amar e abraçar esta pessoa sem esquecer a identidade – minha identidade – que me é tão cara?
Esta é uma boa pergunta. E a resposta é: “Isso foi o que Hilel fez, na época em que o Templo existia!” Mesmo na época do Templo, quando havia muitos judeus semelhantes à carne, muitos tsadikim e indivíduos realmente íntegros, Hilel demonstrou a possibilidade de amor mútuo e dignidade. Certamente você e eu, vivendo em tempos distantes do Templo, quando tudo que nos resta são judeus do tipo matsá e maror, podemos nos tornar um sanduíche, e lembrar que todos nós somos indispensáveis ao plano Divino e à obra de libertar o mundo.
Um Hilel Moderno
Quatro dias antes de Pêssach, o 11 de Nissan, assinala o nascimento de um dos mais notáveis líderes e pensadores judeus dos nossos tempos, Rabi Menachem Mendel Schneerson (1902-1994).
Seria justo afirmar que o Rebe foi um Hilel dos tempos modernos. Ele ensinou centenas de milhares de discípulos, estudantes e admiradores a fazer o envoltório de Hilel, como juntar judeus e seres humanos de origens, educação, denominações e afiliações muito diferentes. Ele ensinou aos seus alunos como respeitar e abraçar pessoas muito diferentes deles sem esquecer a própria identidade e sistema de crenças. E o mais importante, o Rebe jamais deixou de pregar que o judeu semelhante à carne jamais poderá realmente apreciar a total libertação se o irmão semelhante ao maror for deixado para trás, e mostrava como até o judeu amargo como o maror estava inerentemente conectado a D’us e à Torá. A amargura era apenas um disfarce, eclipsando a genuína essência Divina deste judeu. Que cada um de nós mereça continuar a obra do Rebe e jamais cessar de “embrulhar” judeus juntos, de construir pontes entre os judeus no mundo inteiro.

A Abertura do Mar
Por Jeff Jacoby – colunista do Boston Globe
A Montanha e o Mar
Todos conhecemos a sensação: acordamos pela manhã com a percepção de que o mundo não é como gostaríamos que fosse.
Uma experiência comum, com certeza, mas muitas e diversas são as maneiras pelas quais uma pessoa poderia reagir. Um homem embarca em uma cruzada quixotesca para salvar o mundo. Um segundo dá o mundo por perdido e retira-se para dentro, sejam quais forem as muralhas protetoras que consegue erguer à volta de si e de seus entes queridos. Um terceiro toma uma atitude "pragmática", aceitando o mundo como é, e fazendo o melhor que pode sob as circunstâncias. Um quarto reconhece sua incapacidade de lidar com a situação e procura um poder mais alto para orientação e ajuda.
As Quatro Facções
Nossos antepassados vivenciaram este rude despertar no sétimo dia após sua libertação do Egito.
Dez pragas devastadoras haviam aniquilado os egípcios, e forçaram-os a liberar o povo judeu. Após dois séculos de exílio e escravidão, os filhos de Israel foram levados em direção ao Monte Sinai e a seu pacto com D’us. De fato, este foi o objetivo declarado do Êxodo; como disse D’us a Moshê: "Quando tirares esta nação do Egito, servirão a D’us nesta montanha."
Mas de repente o mar estava diante deles, e os exércitos do faraó estavam fechando o cerco atrás deles. O Egito estava vivo e bem; o mar, também, parecia alheio ao destino da nação recém-nascida.
Como eles reagiram?
O Midrash nos diz que o povo judeu foi dividido em quatro acampamentos. Havia aqueles que diziam: "Joguemo-nos ao mar." Um segundo grupo clamava: "Voltemos ao Egito." Uma terceira facção argumentava: "Façamos guerra contra os egípcios." Finalmente, um quarto acampamento advogava: "Rezemos a D’us." Moshê, porém, rejeitou todas as quatro opções, dizendo ao povo: "Não temam, permaneçam onde estão e vejam a salvação que o Eterno lhes fará hoje; porque os egípcios que vêem hoje não os verão nunca mais. O Eterno lutará por vocês, e vocês se calarão."
"Não temam, permaneçam onde estão e vejam a salvação que o Eterno lhes fará hoje " – explica o Midrash – é a reação de Moshê àqueles que tinham desanimado de poder superar a ameaça egípcia, e desejavam jogar-se ao mar.
"…porque os egípcios que vêem hoje não os verão nunca mais." é endereçado àqueles que advogavam a rendição e o retorno ao Egito.
"O Eterno lutará por vocês", é a resposta àqueles que desejavam enfrentar os egípcios. E "vocês se calarão" é a rejeição de Moshê àqueles que declararam: "Isto está além de nossas forças. Tudo que podemos fazer é rezar."
O que, então deve fazer o judeu quando é apanhado entre uma turba hostil e um mar resoluto? "Fala com os Filhos de Israel" – disse D’us a Moshê – "para que sigam em frente."
O Tsadic
A estrada para o Sinai estava coalhada de obstáculos e desafios. O mesmo acontecia na estrada que deixa o Sinai, nossa jornada de três mil anos devotada à implementação da ética e dos ideais da Torá no mundo.
Agora, como então, há diversas reações possíveis a um mundo adverso. Existe a atitude "Joguemo-nos ao mar", daqueles que desistiram de sua capacidade de atracar-se, muito menos causar impacto, ao mundo lá fora.
"Joguemo-nos ao mar" – dizem eles: o "mar do Talmud", em referência a isolar-se de todo o contato com um mundo promíscuo. "Vamos construir muros de santidade para proteger a nós e aos nossos dos ventos estranhos que rugem lá fora, para que possamos abrigar aqui dentro o legado do Sinai."
Um antigo dito chassídico refere-se a um indivíduo que age assim como "um homem santo em um casaco de pele". Há duas maneiras de se aquecer num dia frio de inverno: pode-se fazer uma fogueira ou agasalhar-se em peles.
Quando é perguntado ao tsadic isolacionista: "Por que pensa apenas em manter seu próprio aconchego? Por que não faz uma fogueira que aqueça também os outros?" – ele replica: "Para quê? Posso aquecer o mundo inteiro?"
Se a pessoa insiste, provando que um pequeno fogo pode descongelar vários indivíduos que, por sua vez, podem criar fogueiras suficientes para aquecer uma pequena parte do Universo, ele não entende o que se deseja dele. Ele é um tsadic, um indivíduo completamente justo. Não há espaço para soluções parciais na vida dele. "Não há esperança" – suspira ele com genuína tristeza, e retira-se a sua Atlântida espiritual.
O Escravo
Um segundo grupo diz: "Voltemos ao Egito." Jogar-se ao mar não é uma opção, argumenta o judeu submisso. Este é o mundo onde D’us nos colocou, e nossa missão é lidar com ele, não fugir. É preciso somente diminuir um pouco nossas expectativas."
A questão do Êxodo foi obviamente um castelo no ar. Como podemos ter a presunção de nos liberar das leis e restrições que aplicam-se a todos os outros? Ser "o povo eleito de D’us" é bom, mas não nos esqueçamos que somos uma minoria, dependendo da boa vontade dos faraós, que governam o mundo real aqui fora.
Certamente, é nosso dever influenciar o mundo. Porém, o judeu tem muitos deveres: é sua obrigação rezar três vezes ao dia, fazer tsedacá, e guardar o Shabat, entre tantas outras. Portanto, faremos o melhor possível nestas circunstâncias. Sim, é uma vida dura cumprir todas aquelas leis enquanto nos asseguramos de não antagonizar nossos vizinhos, mas quem disse que é fácil ser judeu?
O Guerreiro
Para um mundo que não coopera há a solução do judeu lutador. Ele entende que é errado escapar do mundo, e igualmente errado submeter-se a ele. Então segue em frente, fazendo o melhor possível.
O judeu lutador avança pela vida ajudando judeus sem judaísmo e os não-lutadores como também pessoas que desconhecem a existência do Criador. Para ele, não existe o escapismo do primeiro grupo, ou a subserviência do segundo – ele sabe que sua causa é justa, que D’us está a seu lado, que terminará por triunfar. Portanto, se o mundo não dá ouvidos à razão, ele martelará algum bom senso no mundo.
O Espiritualista
Finalmente, há o judeu que contempla o mundo, olha para os primeiros três acampamentos, balança a cabeça, e eleva os olhos aos céus. Ele sabe que voltar as costas ao mundo não é a solução, como também não o é submeter-se aos seus ditames e convenções. Mas ele também sabe que "toda a Torá foi outorgada somente para trazer paz ao mundo"; que "Suas veredas são caminhos agradáveis, e todas suas trilhas são paz."
"Você espera mudar o mundo de forma pacífica?!" – dizem os outros três acampamentos. "Quando foi a última vez que olhou pela janela? Seria mais fácil esvaziar os oceanos com uma colher de chá!"
"Estão completamente certos" – diz o judeu que reza. "Realisticamente, não há maneira de fazer isso. Mas não estamos sujeitos a esta ‘realidade’ com a qual vocês ficam tão impressionados. "Sabem qual é o denominador comum entre vocês três? Suas avaliações e estratégias são todas baseadas na realidade natural. Mas nós habitamos uma realidade mais elevada. A própria existência do povo judeu não é um milagre? O nosso mundo é aquele do espírito, o mundo da palavra."
"Portanto, basicamente sua atitude é não fazer nada" – replicam eles.
"Vocês estão empregando novamente os padrões do mundo material" – responde o judeu que reza – "um mundo que considera a prece como ‘fazer nada’. Mas uma única prece, nascida de um coração sincero, pode conseguir mais que a fortaleza mais segura, o diplomata mais habilidoso ou o exército mais poderoso."
O Rei…alista
E o que D’us diz?
"Fala com os Filhos de Israel, para que sigam em frente."
Sim, é importante salvaguardar e cultivar tudo que é puro e sagrado na alma do judeu, criar um santuário inviolável de santidade no próprio coração e na própria comunidade. Certo, há tempos em que devemos tratar com o mundo em seus próprios termos. Sim, devemos lutar contra o mal. E certamente devemos reconhecer que é impossível fazermos isso sozinhos.
De fato, cada uma das quatro atitudes tem sua hora e lugar. Mas nenhuma delas é a visão para orientar nossa vida e definir nosso relacionamento com o mundo em que vivemos.
Quando o judeu vai rumo ao Sinai e é confrontado com um mundo hostil ou indiferente, sua reação mais básica deve ser seguir adiante. Não para escapar da realidade, não para submeter-se a ela, não para guerrear contra ela, não para lidar com ela somente em nível espiritual, mas para seguir adiante.
Cumpra outra mitsvá, ilumine outra alma, dê mais um passo rumo a seu objetivo. Os súditos do faraó estão um passo atrás? Um mar frio e insondável barra o seu caminho? Não olhe para cima; olhe para a frente. Vê aquela montanha? Marche em direção a ela.
E quando seguir adiante, verá que barreiras intransponíveis cedem, e que a horrível ameaça se desvanece. Verá que apesar de toda a "evidência" do contrário, está em seu poder chegar lá. Mesmo se tiver que abrir alguns mares.

Este Ano em Jerusalém
Por Chaim Cunin – Farbrenguen
No último Pêssach, milhões de pessoas cantaram juntas. Pessoas de Los Angeles a New York, Paris a Bombaim, e até Jerusalém, todas estavam unidas em melodia. Quatro palavras – tão simples, tão poderosas – "No Próximo Ano em Jerusalém!"
O misticismo judaico ensina que Jerusalém é o barômetro do mundo. Não pode estar em paz se o mundo está em guerra, e aquilo que ocorre dentro de suas muralhas afeta toda a humanidade. Todas as preces viajam através de Jerusalém até os Céus; simultaneamente, D’us derrama bênçãos sobre Jerusalém, e de lá elas se irradiam para o mundo.
Ela é lembrada todos os dias em cada uma de nossas preces, em casamentos, funerais e em cada ocasião judaica. Todas as sinagogas do mundo estão voltadas em sua direção. Embora nossos ancestrais fossem exilados de Jerusalém há 2000 anos, ela jamais nos deixou. Não é tão significativo que o mundo inteiro esteja preocupado com aquilo no qual os judeus têm se concentrado por milhares de anos?
O Midrash conta a história de dois irmãos que moravam em lados separados de uma montanha. Um era abençoado com esposa e filhos, mas era pobre; o outro era abençoado com riqueza, mas não tinha família.
Eles se tornaram sócios numa fazenda, e repartiam irmãmente a produção. Como se amavam, cada um sentia o sofrimento do outro. O irmão rico pensava: "Meu irmão tem uma família grande. Precisa ganhar mais que eu, e durante a noite movia secretamente parte de sua produção para o setor pertencente ao irmão. O irmão com família pensou: "Meu irmão é tão solitário, não tem ninguém que olhe por ele. Precisa mais do que eu, e secretamente deslocava parte de sua produção para o setor do irmão.
Cada qual ficou surpreso ao ver que, não importa de quanto abrisse mão, sua produção não diminuía. Sabendo que D’us age de maneiras misteriosas, não questionavam muito. Então certa vez, já tarde da noite, deram de encontro um com o outro no alto da montanha. Ambos estavam carregando parte da produção. Caíram nos braços um do outro e choraram.
Suas ações, tão puras e altruístas, afetaram a própria montanha onde estavam. D’us prometeu que Sua presença jamais deixaria este local. A fazenda mais tarde tornou-se uma aldeia, depois uma cidade, e por fim a capital da nação judaica sob o Rei David. Seu nome: Jerusalém.
Estes atos de bondade que fizeram nascer Jerusalém a sustentam até o dia de hoje. Ao contrário de qualquer outra cidade, ela representa um estado de conscientização ao qual todos podemos aspirar. De fato, a Torá fala do dia em que Jerusalém se estenderá por todo o globo.
O Zohar ensina que o mundo está agora no limiar desta conscientização, e que as forças das trevas e desespero não se deterão ante nada, para impedir sua alvorada. Particularmente nessa época crítica, cada pensamento nosso, palavra e ação pode iluminar o mundo. Como ensina o Lubavitcher Rebe: "Tudo que é necessário é uma boa ação para mudar o mundo para melhor."
Neste Pêssach, o mundo inteiro está cantando pela segurança e bem-estar de Jerusalém. Não é à toa que terminamos nosso Sêder com quatro poderosas palavras da canção. Nós a temos dentro de nós mesmos, para tornar o mundo inteiro uma cidade de paz e bondade. A maior esperança da humanidade – este sonho, esta conscientização, esta cidade – está à distância apenas de nosso próximo ato de bondade.
"Este ano em Jerusalém!"

Abra a Porta
Por Rabino David Azulay
Jamais esquecerei de uma passagem nos tempos em que estudava na Yeshivá Chabad no Brooklyn. Era época de Chanucá. Nosso grupo de dez brasileiros foi para Queens, visitar apartamentos de judeus para difundir a alegre festa de Chanucá.
Havia dois tipos de residências. No primeiro, as luzes de Chanucá estavam acesas, a felicidade reluzia, éramos recebidos com alegria e convidados a entrar. O segundo era como uma prisão domiciliar com vários trincos e ferrolhos. Antes de abrir, perguntavam várias vezes "Quem é?". A porta aberta, dávamos de cara primeiro com um pastor alemão e depois com o dono. Não havia o clima alegre das crianças em torno das velas de Chanucá mas sim, medo.
Mas o que isto tem a ver com Pêssach? A ligação é simples. Liberdade é algo que todos almejam na vida: liberdade de pensar, falar, financeira, etc. As manchetes dos jornais mostram guerras por toda a parte, assaltos, sequestros. Dá pavor sair às ruas; há insegurança até mesmo dentro de nossos próprios lares. Hoje, mais do que nunca, liberdade e tranquilidade são muito cobiçadas. Porém, como conquistá-las?
Pêssach, como todos sabem, leva a mensagem de liberdade, pois é também chamada de zeman cherutênu, época de nossa liberdade. Liberdade de todas as preocupações e angústias.
A saída do Egito, (em hebraico, mitsráyim, limitações), teve como objetivo o recebimento da Torá. Não saímos como se fossemos para o Havaí surfar. No seu amplo sentido, foi a saída das limitações físicas e materiais para uma atmosfera espiritual.
Este Pêssach, mais do que nunca, devemos nos conscientizar que para nos libertar do pânico e delírio devemos levar uma vida mais rica de valores espirituais. Quando você abrir a porta para Eliyáhu Hanavi entrar ao término do sêder (como manda a Tradição) não o receba com um pastor alemão; abra a porta com alegria e tranquilidade.

Chamêts e Matsá
Em Pêssach celebramos o nascimento de nossa nacionalidade. É em virtude do singular ato de redenção que somos obrigados a servir D'us e cumprir Seus Mandamentos. Pois foi através da redenção que Ele nos garantiu e nos adotou como seu povo.
A questão é que sabemos que D'us tornou-se mais próximo de nós quando nos redimiu, mas como nos tornamos Sua nação por nossa iniciativa?
A resposta é "matsá", i.e., ao aceitar a idéia da matsá e ao nos livrarmos de todo nosso chamêts.
Quando analisamos as letras hebraicas de chamêts e matsá, percebemos que ambas têm 3 letras similares; as duas palavras têm a letra "mem", a letra "tsadik", e ambas têm uma letra consistindo de 3 linhas "chet" ou hey".
A diferença entre o "hey" e o "chet" é que a 3ª linha do "hey" é quebrada, simbolizando humildade e submissão. Esta é a diferença entre chamêts e matsá, pois ambos têm os mesmos ingredientes; farinha e água. Apenas diferem porque um eleva-se e completa-se com ar quente, um sentimento de orgulho. O outro (matsá) tem os mesmos ingredientes, a única diferença está na atitude, pois permanece plana, mostrando humildade e submissão.
Quando somos arrogantes, nos distanciamos de D'us e nos aproximamos da corrupção, achando que estamos no comando e que nosso pensamento e o que sentimos é o que importa. Se a pessoa elimina o "ar quente" tornando-se humilde, então torna-se próxima do seu Criador e permite a divindade brilhar dentro de si.
Ao comer matsá este ano, deixe escapar o "ar quente" e então você certamente atingirá um nível mais elevado.

Sentaremos Aqui Amanhã

Muitas festas em nosso calendário, quando comemoradas, são através do ato de reunir a família em torno de uma "mesa farta". Tudo estaria perfeito, não fosse o fato da celebração ficar só nisto.
É o caso de festas como Rosh Hashaná ou a quebra do jejum após Yom Kippur. O sêder entra nesta categoria, evento que deveria ser dedicado à compreensão do destino pessoal e histórico do povo judeu é visto, primeiramente, como reunião familiar. Reduzir esta experiência, potencialmente inspiradora, à mera reunião social é erro trágico, se não espiritualmente fatal.
Grandes líderes de todas gerações têm repetidamente advertido para não cumprirmos os preceitos da Torá mecanicamente. A desvantagem do comportamento repetitivo é a susceptibilidade às armadilhas do sem significado. Se os jovens ficarem sem respostas, as reuniões sem sentido, amanhã ele poderá já não estar mais aqui e a simples imagem de seu lugar vazio é motivo para reflexão.
Vejamos algumas das razões profundas que motivam a família a se reunir no sêder de Pêssach em torno de uma mesa repleta de símbolos que refletem diferentes mensagens.
O Significado de Família
O sêder como acontecimento familiar, remonta desde a época da primeira fonte de vida judaica, a Torá. No capítulo que descreve o primeiro mandamento ao povo judeu, a Torá introduz a mitsvá do Corbán Pêssach (cordeiro pascal). Deveria ser "um cordeiro, para cada família, um cordeiro para cada casa". O elemento de união explicitado por "casa" é requisito primeiro deste mandamento.
De acordo com algumas autoridades, mesmo sendo rico suficiente para comprar o próprio cordeiro e faminto o bastante para consumi-lo sozinho, deveria, mesmo assim, engajar-se na companhia de outra pessoa para cumprir o preceito.
Claramente a necessidade de união é básica para cumprir o mandamento do cordeiro pascal e também para toda a primeira noite de Pêssach, quando era ingerido. As palavras "um cordeiro para cada família" sugere unidade familiar ao redor da mesa. Qualquer um, pronto para dividir os custos da aquisição de um cordeiro, torna-se parte da família. No tocante à Pêssach, o conceito de parentesco é relativo. O vizinho que não possui parentesco, é um amigo espiritual e torna-se parte da família _ conceito este amplamente descrito e manifesto na declaração da abertura da Hagadá: "Quem quer que esteja faminto que venha e coma."
Nosso cuidado e preocupação não pode estar limitado à família de forma restrita, apenas aos parentes de sangue, mas sim, ensina a Hagadá, com a família em seu sentido profundo; com qualquer um que deseje compartilhar deste grupo e se beneficiar dele.
Recompensa
O trabalho árduo de limpar anualmente toda a casa para se livrar do chamêts resulta em uma forte tensão aliviada na noite de Pêssach. O intenso empenho destinado ao preparo dos elementos essenciais para Pêssach culmina num sentimento de liberação de trabalho.
Trata-se de instinto natural relaxar após esforço excessivo. Um aluno que acaba de passar por um difícil exame se sentirá aliviado assistindo a um vídeo. O trabalhador que armazena tensões reprimidas no trabalho diário procurará alívio em um jogo de futebol. A mensagem das leis de Pêssach é preencher nossos reservatórios de energia física positiva e útil.
O paradoxo de Pêssach é que estamos, ao mesmo tempo, cansados e repletos de vida. O cansaço é um fenômeno físico e a energia, espiritual. Neste quadro, quase contraditório nós, assim como nossos ancestrais do Egito, experimentamos uma responsabilidade imediata: cansados do passado, confiantes no futuro, compartilhamos de uma mesma experiência. Temos a liberdade de redescobrir e continuar a traçar nossa história.
Os Quatro Filhos
O sêder propriamente dito se concentra na nova geração. A Hagadá relata sobre quatro tipos de filhos: o sábio, o perverso, o simplório e aquele que não sabe perguntar.
A maneira do filho perverso perguntar sugere o equivalente ao adolescente rebelde moderno. Mas há uma diferença. O adolescente contemporâneo expressa seu desencantamento saindo de casa. O singular é que a Hagadá não se preocupa somente com a identificação das diversas personalidades, mas sim indica que o filho perverso também possui um lugar no sêder. Na verdade, o sêder estará incompleto sem ele.
O filho rebelde tem o mesmo direito de fazer perguntas. Mais ainda, o chefe de família deve criar uma atmosfera apropriada para despertá-las. Significa que o pai está pronto para ouvir o filho, compreendê-lo e esclarecer.
Enquanto o elo comunicativo não for rompido, a influência do lar permanecerá ativa na vida do jovem. Uma casa onde mesmo o filho desafiador sente-se acolhido é um lar de esperança. Além de tudo, o sêder nos alerta para a responsabilidade de nunca permitir que o desvio ultrapasse as fronteiras do lar. "Se a gravata está aqui, o nó nunca estará muito distante."
Respeito Mútuo
Um pai somente pode exigir respeito do filho se houver comunicação e se estiver sempre pronto a recebê-lo de braços abertos. O mandamento de honrar aos pais foi ordenado aos filhos, porém o Talmud deposita a responsabilidade de estimular essa consideração através do exemplo que deve vir dos pais. Devem tratar o filho com respeito, se também quiserem ser respeitados.
Os Anjos e a Comunicação
O segredo da habilidade de comunicação pode ser encontrado em uma interessante passagem talmúdica. A cobertura da Arca do Templo Sagrado era feita de ouro batido, com dois anjos um de cada lado.
O Talmud relata uma possível contradição sobre a posição dos dois anjos. A primeira opinião comenta que eles estavam de frente um para o outro e contemplavam-se; isto acontecia quando o povo de Israel obedecia a D'us.
A segunda afirma que estavam voltados para si; foi quando o povo não cumpria a vontade do Criador. A mensagem é clara. Se um homem está realmente voltado para realizar a vontade de D'us, haverá preocupação e comunicação com o próximo. Se desviar-se de sua responsabilidade espiritual, se voltará para si próprio, ficando distante dos amigos e mergulhando em seu próprio mundo. Os anjos simbolizam essa comunicação. Completam a cobertura da Arca que guarda a Torá, indicando o papel dela na adequação das relações humanas.
Segundo nossa herança, um adulto, aquele que aprendeu e alcançou tudo que é possível, é somente um conceito teórico. Somos na realidade crianças por termos ainda muitos mundos a conquistar.
Hierarquicamente, há pais e filhos, mas na comunicação verdadeira, devemos nos apoiar no exemplo dos anjos da Arca, a comunicação de pessoas se conscientizando que têm para receber, assim como para dar. Meramente a condição básica de sentar-se com o próximo, constitui-se metade da solução do problema, pois significa reconhecimento mútuo. Essa competência é a suposição básica da Hagadá e a fonte de esperança em cada família.
Pêssach e a família são inseparáveis, considerando-se que o motivo da ligação não é social, mas uma comunicação significativa, sobre nosso destino pessoal e histórico e que deve ser reforçado em nossos encontros diários.
Pais, ao tentar moldar filhos, freqüentemente exageram o poder da autoridade. Filhos, no processo de encontrar seu próprio espaço na vida, frustram-se com excesso de domínio. Mas quando a criança se torna genitor, vem a reconhecer a dificuldade da posição dos pais, transformando-se num filho melhor. Assim, tão logo nossos filhos tenham filhos, haverá maior união, integridade na família e admiração da criança pelo desafio de ser pai.
O sêder de Pêssach é mais do que um jantar em família; é o elo de comunicação que reforça os laços de três gerações e onde "uma corda tripla não é facilmente rompida".
O sêder solda nosso passado e nos arremessa a um futuro onde, o lance marcará pontos a favor do placar de todas as gerações. Nossos jovens se sentarão pela fome e sede de querer fazer e entender mais. Eles certamente estarão aqui amanhã.

Reflexões pós Pêssach
Por Rabino Jonathan Sacks
Acredito que cada um de nós tem seus próprios candidatos para os livros que nos mudaram e nos ensinaram a enxergar o mundo de modo um tanto diferente.
Minha própria escolha seria a história que os judeus em todo o mundo leram na noite de Pêssach, a história do Livro do Êxodo que conta como nossos ancestrais, há 33 séculos, foram libertados da escravidão e começaram aquilo que Nelson Mandela chamou de "a longa caminhada até a liberdade". Obviamente, nós não apenas o lemos, nós o revivemos, comendo matsá, o pão ázimo da aflição e saboreando as ervas amargas da opressão, e tudo começa com perguntas feitas por uma criança.
Embora pensemos nela como uma história judaica, ela foi adotada por outros como se também pertencesse a eles. Quando os americanos conquistaram sua liberdade após lutarem com os britânicos, Thomas Jefferson a comparou ao Êxodo. Quando os afro-americanos marcharam pela liberdade, cantaram as palavras de Moshê: :Deixe meu povo ir." Mais recentemente, inspirou a Teologia da Libertação na América do Sul. É uma das narrativas mais notáveis sobre esperança e realmente ajudou a mudar o mundo.
Por quê?
Porque foi a primeira vez que a religião entrou na situação humana como uma voz revolucionária. As religiões do mundo antigo, como seus substitutos seculares atuais, eram justificativas do status quo. Explicavam por que os ricos e poderosos tinham de ser ricos e poderosos. O Êxodo disse o contrário. O poder supremo entra na história para resgatar os indefesos. O D'us de toda a humanidade nos pede para garantirmos liberdade e dignidade a toda a raça humana. Acima de tudo, Ele nos ordena amar o estrangeiro porque nossos ancestrais certa vez foram estrangeiros numa terra que não lhes pertencia.
O que mais me abalou em minhas reflexões neste Pêssach é como a humanidade está indo mal no Século 21. Ainda hoje a religião é usada como uma desculpa para a violência e derramamento de sangue. Mesquitas, sinagogas, templos hindus e santuários budistas ainda são atacados. As pessoas ainda odeiam em nome do D'us do amor, matam em nome do D'us da vida, e praticam crueldade em nome do D'us da compaixão. Pergunto-me se o próprio D'us não chora ao ver os males cometidos em Seu Nome.
Pêssach começa com essas palavras: "Este é o pão da aflição que nossos ancestrais comeram no Egito. Deixe que todos os famintos venham e comam."
A liberdade começa quando partilhamos nosso pão com os outros. Uma história simples, porém ainda tem o poder de mudar o mundo.

Pós-Pêssach
A mensagem que nos acompanha o ano inteiro
Já passamos pelo Sêder e Chol Hamoed, "Dias Intermediários", e pelos dois últimos dias da comemoração de Pêssach, a festa de nossa liberdade, e fim: só ano que vem (que seja em Jerusalém, se D’us quiser!). O Sêder, no qual nos reunimos com nossa família e narramos a história do Êxodo: a escravidão dos israelitas no Egito e finalmente sua libertação é o ponto central desta festa única celebrada pela maioria dos judeus em todas as épocas. É um ritual que jamais perdeu seu poder de capturar a imaginação. Não se trata de um mero relato que acompanhamos na Hagadá, sobre os eventos e milagres ocorridos no Êxodo de nossa história, há muito tempo e num lugar distante. Trazemos a história à nossa mesa e contamos e explicamos a nossos filhos, em todas as gerações, colocando ingredientes simbólicos repletos de conteúdo e significado em nossa keará.
"Ma nishtana..", "porque esta noite é diferente de todas as outras noites", trazem lembranças de nossa infância quando podemos visualizar na memória nossos pais ou avós sentados com toda a família ao redor da mesa do Sêder de Pêssach.
Mas o Sêder é apenas o início. Provamos as ervas amargas da escravidão. Bebemos quatro copos do vinho da liberdade. É como se estivéssemos ali. Em lugar algum isso é mais dramaticamente focalizado do que nas palavras de abertura do serviço. "Este é o pão da aflição que nossos ancestrais comeram na terra do Egito." A esta altura, o passado e o presente se juntam num desafio às categorias normais do tempo. O serviço do Sêder não é só recordação, mas principalmente renovação.
Os judeus têm uma história mais longa e mais notável que a maioria. Foram os primeiros a encontrar D’us na história e a verem no fluxo do tempo não a mera seqüência de eventos, mas uma narrativa coerente. Uma fé baseada em fatos históricos. Nenhum povo jamais insistiu mais firmemente que os judeus de que a história tem um propósito e a humanidade um destino. A palavra história em hebraico foi adaptada, era inexistente, pois para o judaísmo história é memória. A história é aquilo que aconteceu com outra pessoa. A memória é aquilo que aconteceu para mim. A memória é a história interiorizada, o passado transformado em presente por aqueles que o revivem. Através da identificação pessoal com os momentos importantes do passado, eles se tornam parte daquilo que nos faz ser exatamente quem somos. Tornamo-nos personagens de uma história contínua que começou antes de nascermos e continuará depois de termos deixado de ser. Nesse sentido, Pêssach é a festa na qual a história se torna memória.
O resultado é que a história do Êxodo continuou, no decorrer de sucessivas gerações, a incentivar as pessoas na luta pela liberdade. A outorga da Torá, a chegada a Terra Prometida, o levante do Gueto de Varsóvia, o florescimento de Israel como povo e nação, nossa luta contra a assimilação através do fortalecimento de nossos valores são marcas vivas, passadas e atuais, de nossa liberdade, do direito de não esquecer e revitalizar a memória, manter a chama sempre acesa.
Se devemos prezar a liberdade e guardá-la, devemos lembrar à nova geração esta alternativa: o pão da aflição foi conseguido à base de luta e sofrimento: não com vingança ou ódio, mas simplesmente para saber o que é suficientemente importante para exigir constante vigilância.
Quem tem fome que venha! Junte-se a nós. Seja humilde como a matsá, mas importe-se: seja suficientemente ambicioso para refrescar sua memória. Busque na comunidade aulas de Torá, fale com seu rabino, reuna-se com grupos jovens judaicos e traga mais um amigo, estude em escolas judaicas ou coloque seu filho em uma. Esta é a lição de Pêssach após Pêssach: a memória é o nosso melhor guardião da liberdade.

Ninguém Está Sozinho
Baseado nos Ensinamentos do Rebe
O nome da leitura desta semana da Torá, Bô, significa "ir". Entre a sétima e a oitava das dez pragas, Moshê foi ordenado por D'us: "Vá ao Faraó." Mais especificamente, o termo "bô" é interpretado como "entrar" ou "penetrar". Como declara o Zohar, o texto fundamental do misticismo judaico, Moshê recebeu ordens de entrar sala após sala, penetrando no âmago do palácio do Faraó.
O Zohar prossegue, explicando que Moshê encolheu-se à ordem de abordar o Faraó. Estava temeroso pelo encargo de confrontar o mal em seu próprio âmago. Para acalmá-lo, D'us disse: "vai". "Vai," i.e., "venha Comigo," e não "vá sozinho." D'us prometeu que Ele iria acompanhar Moshê e enfrentar o Faraó ao seu lado.
Esta ordem, então, requer iniciativa pessoal e simultaneamente, promete que esta iniciativa será recompensada com a ajuda de D'us. Moshê foi solicitado a agir por si mesmo, mas não independentemente; D'us apoiaria seus esforços.
Esta dinâmica é repetida em microcosmo nos diversos conflitos espirituais que enfrentamos continuamente. Devemos confrontar o “Faraó” – os desafios ao envolvimento judaico que o mundo exterior parece apresentar. E isso inclui não apenas ver estes desafios de longe, mas penetrar em seu âmago e olhar para eles de perto.
A pessoa seria tola se não ficasse de certa forma assustada com esta tarefa. De fato, se não for assustadora, não será um desafio. E mesmo assim, a hesitação da pessoa deve ser apenas temporária. Temos o poder de persistir em nossa missão. Quando o fazemos, descobrimos que não estamos sozinhos, D'us está ao nosso lado, nos apoiando. De uma maneira mais simples, nós nos vemos falando e agindo com maior poder do que aquele que teríamos se contássemos apenas com nós mesmos.
Comportar-se dessa maneira transforma o mundo à nossa volta, incluindo as forças desafiadoras. Assim como o Faraó se tornou a força que instigou os judeus a saírem do Egito, assim também, todo elemento de nossa vida pode se tornar uma influência positiva e contribuir para ajudar em nosso envolvimento judaico.

Por Que Nunca Estou Contente?
Por Yosef Y. Jacobson
Torta de Maçã
O pequeno Johnny e sua família moravam no interior, e como resultado, quase nunca tinham convidados. Ele estava ansioso para ajudar a mãe depois que seu pai apareceu com dois convidados do escritório para o jantar.
Quando o jantar estava quase terminando, Johnny foi à cozinha e orgulhosamente trouxe o primeiro pedaço de torta de maçã, entregando-a ao pai que o passou a um convidado. O pequeno Johnny voltou com um segundo pedaço de torta e entregou-o ao pai, que mais uma vez o deu a um convidado.
Isso foi demais para o Pequeno Johnny, que disse: “Não adianta, Papai. Os pedaços são todos do mesmo tamanho.”
Culinária de Pêssach
Os hebreus tinham vivido no Egito durante 210 anos.Durante quase cem anos tinham sido brutalmente oprimidos. Os homens adultos eram sujeitados ao trabalho escravo, enquanto seus filhos eram afogados e abatidos. Por fim, após dez pragas que devastaram o Império Egípcio, chegou a noite da libertação.
Moshê, em nome de D'us, instrui o povo judeu sobre seu comportamento durante aquela noite memorável, quando eles descobririam a liberdade. Surpreendentemente, a natureza da culinária daquela noite ocupa um espaço importante na imaginação Divina:
“D'us disse a Moshê e Aharon… Eles comerão a carne naquela noite, tostada sobre o fogo, com matsot e ervas amargas. Não a comam assada numa panela, nem cozida, nem fervida em água; somente tostada ao fogo 1.”
Na verdade, essa se tornou a rotina anual de Pêssach. Quando o Templo Sagrado (Bet Hamicdash) estava de pé em Jerusalém, toda família judia (ou grupo de pequenas famílias) levava um cordeiro ou cabrito ao Templo no dia 14 do mês hebraico de Nissan, odia que antecede a Festa de Pêssach. O cordeiro seria oferecido no pátio do Templo, e algumas partes queimadas sobre o altar. Seria então tostado num espeto sobre o fogo. Naquela noite – a primeira noite de Pêssach – a carne seria comida com matsá e maror (ervas amargas), constituindo as três etapas do seder. Atualmente, na falta de um Templo, nossas mesas do seder são deixadas apenas com matsá e maror, sem a oferenda de Pêssach2.
Neste mandamento, encontramos novamente a versão judaica de religião. No Judaísmo, o Criador do Céu e da Terra não está preocupado somente com as verdades cósmicas e existenciais, mas também com os padrões da cozinha do povo. A maneira pela qual você prepara o jantar – num microondas, no forno, numa grelha ou diretamente sobre a fogueira – é importante aos olhos de D'us. Na fé judaica, D'us está intimamente envolvido com toda dimensão da experiência humana, incluindo sua dieta3.
Porém parece singularmente estranho que D'us escolhesse tostar e rejeitasse o refogado para a oferenda de Pêssach. D'us realmente Se importa se você cozinha, ferve ou refoga a oferenda de carne em Pêssach? Qual é a mensagem por trás dessa mitsvá peculiar4? O que deixa a oferenda de Pêssach à parte de todas as outras oferendas no Templo por ser a única que deve ser tostada sobre o fogo, e você nem mesmo teve permissão de assar na panela com os próprios sucos, sem qualquer outro líquido5?
Não me entenda mal. Não tenho preconceito contra um churrasco decente, especialmente aquele acompanhado por pãezinhos torrados (a versão moderna de maror). Apesar disso, eu ainda não transformaria o braai – como nossos amigos sul-africanos carinhosamente definem o churrasco – num mandamento moral e Divino!
A Cabalá de um Churrasco
Porém é exatamente aqui que encontramos a definição judaica de liberdade. A diferença entre cozinhar e grelhar é que ao cozinhar (e ferver ou refogar) o alimento é preparado através da combinação de fogo (ou calor) e água (ou outros líquidos), e grelhar usa apenas o fogo para aquecer a comida.
Ao grelhar – quando você não usa nenhum outro líquido – há duas categorias: tostar na panela e tostar ao fogo. Na panela ainda envolve uma separação entre o alimento e o fogo, ao passo que ne grelha, o alimento entra em contato direto com o fogo.
Qual é a diferença entre fogo e água? O fogo está sempre subindo, lambendo o ar, numa perpétua dança para cima. A chama tremulante nunca está “contente” em seu espaço; está sempre procurando se afastar de sua vasilha e elevar-se aos “céus”. A água, por outro lado, desce e pode ser contida tranquilamente para permanecer em um espaço.
Além disso, o fogo destrói e decompõe todo item com o qual entra em contato. A água possui a qualidade de conectar itens.
No misticismo judaico, o fogo representa o esforço ascendente, anseio, paixão,tensão e inquietude. A água, por outro lado, simboliza a saciedade, contentamento, tranquilidade, realização, calma e resolucão. O fogo decompõe, quebra e divide; você coloca um objeto no fogo e ele é literalmente desafiado até seu âmago. A água conecta, une e integra6. O fogo representa a parte em nós que desafia o status quo, procurando destruir a convenção; a água incorpora nossa capacidade de fazer as pazes com a vida, de entrar em acordo com a realidade; abraçar aquilo que é.
Sobre a Essência da Liberdade
A vida humana deve sintetizar “fogo” e “água”. Se desenvolvermos apenas nossa dimensão do fogo, a tensão resultante pode ser prejudicial. Pessoas que nunca estão satisfeitas tendem a fazer elas mesmas e aos outros infelizes. Por outro lado, se formos apenas criaturas como a água, podemos ficar paralisados e imóveis, presunçosos e limitados. Uma vida saudável e produtiva é aquela que ensina como equilibrar e até integrar os elementos “fogo” e “água” dentro da personalidade humana.
Mas como? Como podemos funcionar nos dois níveis de consciência? Ou ansiamos por uma jornada de ambição e fervor incessantes, ou por uma existência de tranquilidade e gratificação? Somos ambiciosos o tempo todo, ou apenas nos entregamos ao status quo?
Vamos fazer a pergunta de maneira diferente: qual qualidade dentro de nós é mais libertadora, a água ou o fogo?Alguém poderia imaginar que a liberdade significa atingir aquele estado na qual a psique é purificada de toda a tensão e anseio que somente serve para transformar a vida num campo de batalha de ideias e emoções. “Mostre-me o coração não abalado por sonhos tolos e eu mostrarei um homem feliz.”
Vem a Torá e nos diz que na mesma noite em que Israel abraçou o milagre da liberdade, simultaneamente aprendeu que a oferenda da liberdade de Pêssach não poderia ser preparada nem sequer com uma gota de água, apenas através do contato direto com o fogo. Por quê?
Liberdade é a capacidade de ser verdadeira e plenamente humano. E ser humano é ser inquieto. Ser humano é ser movido pelo chamado do infinito, pelo mistério interminável, pela visão ilimitada. Criado à imagem do Divino, a essência infinita da realidade, os horizontes do homem estão sempre se expandindo. A infame falta de saciedade humana não reflete sua natureza inferior; pelo contrário, reflete sua grandeza. Um ser humano sempre sente que há muito mais na vida, na realidade, na verdade, e anseia por isso.
Levar uma vida livre, livre para expressar sua plena humanidade e Divindade, significa jamais ser complacentee satisfeito com seu crescimento pessoal e suas conquistas morais; não permitir sequer que uma gota de água sacie a sua sede e silencie a sua busca; nem mesmo permitir que uma “panela” contenha e limite seu fervor íntimo e paixão para atingir a verdade. Sua perpétua luta em busca de algo maior e mais profundo que si mesmo não deveria resultar em tensão e raiva, mas sim em celebração pela oportunidade de espelhar a Divina infinidade. Você deve aprender a prezar a inquietude dentro de seu coração, fazer as pazes com sua impaciência, abraçar sua má vontade de abraçar o convencional.
Um história
Um estudante, em visita ao Rebe em seu escritório no Brooklyn, viu o Rebe apagar algumas palavras que tinha escrito antes.
“Por que apaga palavras que escreveu?” perguntou o estudante ao Rebe. “Estou certo que se uma mente tão notável como a sua concebeu originalmente essas palavras, elas contêm gemas preciosas de verdade; por que destruí-las?”
“Quando escrevi essas palavras,” respondeu o Rebe, “elas poderiam ter refletido a verdade daquele momento. Mas à medida que o tempo passa, a verdade do passado deve ser descartada em prol de uma luz mais profunda que acaba de emergir.”
(Este ensaio é baseado numa anotação feita num diário particular e não datado do Rebe7.
NOTAS
Shemot 12:8-9. Essa tradução segue Rashbam. Cf. Rashi e Ibn Ezra para outras traduções da palavra hebraica Nah.
Atualmente, a carne da oferenda de Pêssach é representada no seder pelo aficoman, um pedaço de matsá comido ao final da refeição.
Veja Tanya cap. 41.
Três respostas a essa pergunta são apresentadas em sefer Hachenuch Mitsvá n– 7 e Daat Zekanim Mebaalei Hatesfot sobre Shemot ibid. A resposta apresentada neste ensaio é extraída da literatura do misticismo judaico e está baseada no axioma de que toda mitsvá e lei na Torá contêm uma mensagem espiritual e psicológica (veja Rambam, final de Hilchot Temurah).
Rashbam ibid; Rashi e Tosafot sobre Talmud, Pessachim 41 a.
Os cabalistas falam de um “amor como água”, incorporado por irmão e irmã, vs. “um amor como fogo” personificado por marido e mulher. O primeiro é plácido e estável; o último é frequentemente sujeito a tensão, vicissitude e intensa paixão (Veja Tanya, caps. 3e 44; Likutei Torah Behar).
Publicado em Reshimot nº 37.


O Domínio Sobre Nosso Caráter
A porção da Torá desta semana, Bô, fala das últimas três pragas que caíram sobre o Egito, e do Êxodo do povo judeu. Começa com D’us ordenando a Moshê que este vá ao faraó para adverti-lo da próxima praga de gafanhotos. D’us, no entanto, declara que o faraó não dará atenção ao aviso: "Pois Eu endureci seu coração… para que vocês digam nos ouvidos de seu filho e dos filhos de seu filho aquilo que Eu fiz no Egito."
Disso aprendemos que os gafanhotos não vieram como punição pela recusa do faraó em considerar o aviso: D’us tinha endurecido seu coração para que ele fosse incapaz de concordar com a libertação dos judeus. Mas se é este o caso, não é injusto D’us punir o faraó com uma praga, quando o Próprio D’us impediu que ele acedesse ao pedido de Moshê?
Os comentaristas explicam que durante as cinco primeiras pragas, o faraó tinha livre arbítrio; ele poderia ter permitido que os judeus partissem. Foi somente depois que o faraó se rebelou contra D’us – "Quem é D’us, para que eu deva ouvir Sua voz?" – que seu livre arbítrio lhe foi tirado. Esta punição claramente se apropria ao crime: o faraó questionou a autoridade de D’us e vangloriou-se de seu próprio poder, portanto foi demonstrado a ele que ele não tinha o poder de tomar suas próprias decisões. O faraó foi então totalmente subjugado à vontade de D’us.
Além disso, o comportamento do faraó durante a praga de gafanhotos sublinhou sua impotência. Quando até seus servos imploraram para que ele libertasse os judeus – "Deixe o povo ir… Não sabe ainda que o Egito está perdido?" – o faraó concordou imediatamente e disse a Moshê e Aharon: "Vão adorar o seu D’us."
Mas naquele mesmo instante D’us endureceu seu coração e o faraó foi forçado a renegar sua promessa.
Mesmo com estas explicações, ficamos ainda com um problema de ordem filosófica. Por que Moshê e Aharon tiveram de passar pelas etapas de emitir uma advertência formal se eles sabiam que não havia chance de que o faraó concordasse com o pedido deles?
Está explicado no Tanya, a obra primordial da filosofia Chabad, que mesmo uma pessoa tão mergulhada no mal que "não dispõe dos meios para se arrepender" – mesmo esta pessoa pode superar e encontrar seu caminho de volta à integridade. Até o mais corrupto e abominável pecador pode retornar a D’us.
Se o faraó, totalmente egoísta, perverso e privado de seu livre arbítrio, pudesse ter impedido as pragas finais de cair sobre seu país, fazendo um supremo esforço para superar o endurecimento de seu coração, muito mais ainda é possível para cada judeu dominar os traços negativos de seu caráter.
Uma alma judaica Divina é chamada "uma verdadeira parte de D’us", e está sempre em sua posse; a alma permanece fiel a D’us, mesmo se o corpo comete um pecado. Um judeu sempre tem o poder de fazer teshuvá, de retornar a D’us e viver em harmonia com sua verdadeira essência. D’us aguarda o retorno de cada e todo judeu, pois ele pode pecar apenas externamente, mas sua natureza íntima é intocada e sagrada.
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BO
Ex 10:1 - 13:16
Ex 10
1 Disse o ETERNO a Moisés: Vai ter com Faraó, porque lhe endureci o coração e o coração de seus oficiais, para que eu faça estes meus sinais no meio deles,
2 e para que contes a teus filhos e aos filhos de teus filhos como zombei dos egípcios e quantos prodígios fiz no meio deles, e para que saibais que eu sou o ETERNO.
3 Apresentaram-se, pois, Moisés e Arão perante Faraó e lhe disseram: Assim diz o ETERNO, o D-us dos hebreus: Até quando recusarás humilhar-te perante mim? Deixa ir o meu povo, para que me sirva.
4 Do contrário, se recusares deixar ir o meu povo, eis que amanhã trarei gafanhotos ao teu território;
5 eles cobrirão de tal maneira a face da terra, que dela nada aparecerá; eles comerão o restante que escapou, o que vos resta da chuva de pedras, e comerão toda árvore que vos cresce no campo;
6 e encherão as tuas casas, e as casas de todos os teus oficiais, e as casas de todos os egípcios, como nunca viram teus pais, nem os teus antepassados desde o dia em que se acharam na terra até ao dia de hoje. Virou-se e saiu da presença de Faraó.
7 Então, os oficiais de Faraó lhe disseram: Até quando nos será por cilada este homem? Deixa ir os homens, para que sirvam ao ETERNO, seu D-us. Acaso, não sabes ainda que o Egito está arruinado?
8 Então, Moisés e Arão foram conduzidos à presença de Faraó; e este lhes disse: Ide, servi ao ETERNO, vosso D-us; porém quais são os que hão de ir?
9 Respondeu-lhe Moisés: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, e com os filhos, e com as filhas, e com os nossos rebanhos, e com os nossos gados; havemos de ir, porque temos de celebrar festa ao ETERNO.
10 Replicou-lhes Faraó: Seja o ETERNO convosco, caso eu vos deixe ir e as crianças. Vede, pois tendes conosco más intenções.
11 Não há de ser assim; ide somente vós, os homens, e servi ao ETERNO; pois isso é o que pedistes. E os expulsaram da presença de Faraó.
12 Então, disse o ETERNO a Moisés: Estende a mão sobre a terra do Egito, para que venham os gafanhotos sobre a terra do Egito e comam toda a erva da terra, tudo o que deixou a chuva de pedras.
13 Estendeu, pois, Moisés o seu bordão sobre a terra do Egito, e o ETERNO trouxe sobre a terra um vento oriental todo aquele dia e toda aquela noite; quando amanheceu, o vento oriental tinha trazido os gafanhotos.
14 E subiram os gafanhotos por toda a terra do Egito e pousaram sobre todo o seu território; eram mui numerosos; antes destes, nunca houve tais gafanhotos, nem depois deles virão outros assim.
15 Porque cobriram a superfície de toda a terra, de modo que a terra se escureceu; devoraram toda a erva da terra e todo fruto das árvores que deixara a chuva de pedras; e não restou nada verde nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito.
16 Então, se apressou Faraó em chamar a Moisés e a Arão e lhes disse: Pequei contra o ETERNO, vosso D-us, e contra vós outros.
17 Agora, pois, peço-vos que me perdoeis o pecado esta vez ainda e que oreis ao ETERNO, vosso D-us, que tire de mim esta morte.
18 E Moisés, tendo saído da presença de Faraó, orou ao ETERNO.
19 Então, o ETERNO fez soprar fortíssimo vento ocidental, o qual levantou os gafanhotos e os lançou no mar Vermelho; nem ainda um só gafanhoto restou em todo o território do Egito.
20 O ETERNO, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não deixou ir os filhos de Israel.
21 Então, disse o ETERNO a Moisés: Estende a mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se possam apalpar.
22 Estendeu, pois, Moisés a mão para o céu, e houve trevas espessas sobre toda a terra do Egito por três dias;
23 não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações.
24 Então, Faraó chamou a Moisés e lhe disse: Ide, servi ao ETERNO. Fiquem somente os vossos rebanhos e o vosso gado; as vossas crianças irão também convosco.
25 Respondeu Moisés: Também tu nos tens de dar em nossas mãos sacrifícios e holocaustos, que ofereçamos ao ETERNO, nosso D-us.
26 E também os nossos rebanhos irão conosco, nem uma unha ficará; porque deles havemos de tomar, para servir ao ETERNO, nosso D-us, e não sabemos com que havemos de servir ao ETERNO, até que cheguemos lá.
27 O ETERNO, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não quis deixá-los ir.
28 Disse, pois, Faraó a Moisés: Retira-te de mim e guarda-te que não mais vejas o meu rosto; porque, no dia em que vires o meu rosto, morrerás.
29 Respondeu-lhe Moisés: Bem disseste; nunca mais tornarei eu a ver o teu rosto.
Ex 11
1 Disse o ETERNO a Moisés: Ainda mais uma praga trarei sobre Faraó e sobre o Egito. Então, vos deixará ir daqui; quando vos deixar, é certo que vos expulsará totalmente.
2 Fala, agora, aos ouvidos do povo que todo homem peça ao seu vizinho, e toda mulher, à sua vizinha objetos de prata e de ouro.
3 E o ETERNO fez que o seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios; também o homem Moisés era mui famoso na terra do Egito, aos olhos dos oficiais de Faraó e aos olhos do povo.
4 Moisés disse: Assim diz o ETERNO: Cerca da meia-noite passarei pelo meio do Egito.
5 E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao primogênito da serva que está junto à mó, e todo primogênito dos animais.
6 Haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais;
7 porém contra nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um cão rosnará, para que saibais que o ETERNO fez distinção entre os egípcios e os israelitas.
8 Então, todos estes teus oficiais descerão a mim e se inclinarão perante mim, dizendo: Sai tu e todo o povo que te segue. E, depois disto, sairei. E, ardendo em ira, se retirou da presença de Faraó.
9 Então, disse o ETERNO a Moisés: Faraó não vos ouvirá, para que as minhas maravilhas se multipliquem na terra do Egito.
10 Moisés e Arão fizeram todas essas maravilhas perante Faraó; mas o ETERNO endureceu o coração de Faraó, que não permitiu saíssem da sua terra os filhos de Israel.
Ex 12
1 Disse o ETERNO a Moisés e a Arão na terra do Egito:
2 Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano.
3 Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família.
4 Mas, se a família for pequena para um cordeiro, então, convidará ele o seu vizinho mais próximo, conforme o número das almas; conforme o que cada um puder comer, por aí calculareis quantos bastem para o cordeiro.
5 O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito;
6 e o guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da congregação de Israel o imolará no crepúsculo da tarde.
7 Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem;
8 naquela noite, comerão a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão.
9 Não comereis do animal nada cru, nem cozido em água, porém assado ao fogo: a cabeça, as pernas e a fressura.
10 Nada deixareis dele até pela manhã; o que, porém, ficar até pela manhã, queimá-lo-eis.
11 Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do ETERNO.
12 Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o ETERNO.
13 O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.
14 Este dia vos será por memorial, e o celebrareis como solenidade ao ETERNO; nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo.
15 Sete dias comereis pães asmos. Logo ao primeiro dia, tirareis o fermento das vossas casas, pois qualquer que comer coisa levedada, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa pessoa será eliminada de Israel.
16 Ao primeiro dia, haverá para vós outros santa assembléia; também, ao sétimo dia, tereis santa assembléia; nenhuma obra se fará nele, exceto o que diz respeito ao comer; somente isso podereis fazer.
17 Guardai, pois, a Festa dos Pães Asmos, porque, nesse mesmo dia, tirei vossas hostes da terra do Egito; portanto, guardareis este dia nas vossas gerações por estatuto perpétuo.
18 Desde o dia catorze do primeiro mês, à tarde, comereis pães asmos até à tarde do dia vinte e um do mesmo mês.
19 Por sete dias, não se ache nenhum fermento nas vossas casas; porque qualquer que comer pão levedado será eliminado da congregação de Israel, tanto o peregrino como o natural da terra.
20 Nenhuma coisa levedada comereis; em todas as vossas habitações, comereis pães asmos.
21 Chamou, pois, Moisés todos os anciãos de Israel e lhes disse: Escolhei, e tomai cordeiros segundo as vossas famílias, e imolai a Páscoa.
22 Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã.
23 Porque o ETERNO passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o ETERNO aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir.
24 Guardai, pois, isto por estatuto para vós outros e para vossos filhos, para sempre.
25 E, uma vez dentro na terra que o ETERNO vos dará, como tem dito, observai este rito.
26 Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este?
27 Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao ETERNO, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.
28 E foram os filhos de Israel e fizeram isso; como o ETERNO ordenara a Moisés e a Arão, assim fizeram.
29 Aconteceu que, à meia-noite, feriu o ETERNO todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até ao primogênito do cativo que estava na enxovia, e todos os primogênitos dos animais.
30 Levantou-se Faraó de noite, ele, todos os seus oficiais e todos os egípcios; e fez-se grande clamor no Egito, pois não havia casa em que não houvesse morto.
31 Então, naquela mesma noite, Faraó chamou a Moisés e a Arão e lhes disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; ide, servi ao ETERNO, como tendes dito.
32 Levai também convosco vossas ovelhas e vosso gado, como tendes dito; ide-vos embora e abençoai-me também a mim.
33 Os egípcios apertavam com o povo, apressando-se em lançá-los fora da terra, pois diziam: Todos morreremos.
34 O povo tomou a sua massa, antes que levedasse, e as suas amassadeiras atadas em trouxas com seus vestidos, sobre os ombros.
35 Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés e pediram aos egípcios objetos de prata, e objetos de ouro, e roupas.
36 E o ETERNO fez que seu povo encontrasse favor da parte dos egípcios, de maneira que estes lhes davam o que pediam. E despojaram os egípcios.
37 Assim, partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar mulheres e crianças.
38 Subiu também com eles um misto de gente, ovelhas, gado, muitíssimos animais.
39 E cozeram bolos asmos da massa que levaram do Egito; pois não se tinha levedado, porque foram lançados fora do Egito; não puderam deter-se e não haviam preparado para si provisões.
40 Ora, o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos.
41 Aconteceu que, ao cabo dos quatrocentos e trinta anos, nesse mesmo dia, todas as hostes do ETERNO saíram da terra do Egito.
42 Esta noite se observará ao ETERNO, porque, nela, os tirou da terra do Egito; esta é a noite do ETERNO, que devem todos os filhos de Israel comemorar nas suas gerações.
43 Disse mais o ETERNO a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da Páscoa: nenhum estrangeiro comerá dela.
44 Porém todo escravo comprado por dinheiro, depois de o teres circuncidado, comerá dela.
45 O estrangeiro e o assalariado não comerão dela.
46 O cordeiro há de ser comido numa só casa; da sua carne não levareis fora da casa, nem lhe quebrareis osso nenhum.
47 Toda a congregação de Israel o fará.
48 Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a Páscoa do ETERNO, seja-lhe circuncidado todo macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela.
49 A mesma lei haja para o natural e para o forasteiro que peregrinar entre vós.
50 Assim fizeram todos os filhos de Israel; como o ETERNO ordenara a Moisés e a Arão, assim fizeram.
51 Naquele mesmo dia, tirou o ETERNO os filhos de Israel do Egito, segundo as suas turmas.
Ex 13
1 Disse o ETERNO a Moisés:
2 Consagra-me todo primogênito; todo que abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu.
3 Disse Moisés ao povo: Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão; pois com mão forte o ETERNO vos tirou de lá; portanto, não comereis pão levedado.
4 Hoje, mês de abibe, estais saindo.
5 Quando o ETERNO te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais te dar, terra que mana leite e mel, guardarás este rito neste mês.
6 Sete dias comerás pães asmos; e, ao sétimo dia, haverá solenidade ao ETERNO.
7 Sete dias se comerão pães asmos, e o levedado não se encontrará contigo, nem ainda fermento será encontrado em todo o teu território.
8 Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que o ETERNO me fez, quando saí do Egito.
9 E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para que a lei do ETERNO esteja na tua boca; pois com mão forte o ETERNO te tirou do Egito.
10 Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano.
11 Quando o ETERNO te houver introduzido na terra dos cananeus, como te jurou a ti e a teus pais, quando ta houver dado,
12 apartarás para o ETERNO todo que abrir a madre e todo primogênito dos animais que tiveres; os machos serão do ETERNO.
13 Porém todo primogênito da jumenta resgatarás com cordeiro; se o não resgatares, será desnucado; mas todo primogênito do homem entre teus filhos resgatarás.
14 Quando teu filho amanhã te perguntar: Que é isso? Responder-lhe-ás: O ETERNO com mão forte nos tirou da casa da servidão.
15 Pois sucedeu que, endurecendo-se Faraó para não nos deixar sair, o ETERNO matou todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito do homem até ao primogênito dos animais; por isso, eu sacrifico ao ETERNO todos os machos que abrem a madre; porém a todo primogênito de meus filhos eu resgato.
16 E isto será como sinal na tua mão e por frontais entre os teus olhos; porque o ETERNO com mão forte nos tirou do Egito.

HAFTARAH DE BO
Jr 46:13-28


13 Palavra que falou o ETERNO a Jeremias, o profeta, acerca da vinda de Nabucodonosor, rei da Babilônia, para ferir a terra do Egito:
14 Anunciai no Egito e fazei ouvir isto em Migdol; fazei também ouvi-lo em Mênfis e em Tafnes; dizei: Apresenta-te e prepara-te; porque a espada já devorou o que está ao redor de ti.
15 Por que foi derribado o teu Touro? Não se pôde ter de pé, porque o ETERNO o abateu.
16 O ETERNO multiplicou os que tropeçavam; também caíram uns sobre os outros e disseram: Levanta-te, e voltemos ao nosso povo e à terra do nosso nascimento, por causa da espada que oprime.
17 Ali, apelidarão a Faraó, rei do Egito, de Espalhafatoso, porque deixou passar o tempo adequado.
18 Tão certo como vivo eu, diz o Rei, cujo nome é ETERNO dos Exércitos, certamente, como o Tabor é entre os montes e o Carmelo junto ao mar, assim ele virá.
19 Prepara a tua bagagem para o exílio, ó moradora, filha do Egito; porque Mênfis se tornará em desolação e ficará arruinada e sem moradores.
20 Novilha mui formosa é o Egito; mas mutuca do Norte já lhe vem, sim, vem.
21 Até os seus soldados mercenários no meio dele, bezerros cevados, viraram as costas e fugiram juntos; não resistiram, porque veio sobre eles o dia da sua ruína e o tempo do seu castigo.
22 Faz o Egito um ruído como o da serpente que foge, porque os seus inimigos vêm contra ele, com machados, quais derribadores de árvores.
23 Cortarão o seu bosque, diz o ETERNO, ainda que impenetrável; porque se multiplicaram mais do que os gafanhotos; são inumeráveis.
24 A filha do Egito está envergonhada; foi entregue nas mãos do povo do Norte.
25 Diz o ETERNO dos Exércitos, o D-us de Israel: Eis que eu castigarei a Amom de Nô, a Faraó, ao Egito, aos deuses e aos seus reis, ao próprio Faraó e aos que confiam nele.
26 Entregá-los-ei nas mãos dos que lhes procuram a morte, nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, e nas mãos dos seus servos; mas depois será habitada, como nos dias antigos, diz o ETERNO.
27 Não temas, pois, tu, servo meu, Jacó, nem te espantes, ó Israel; porque eu te livrarei do país remoto e a tua descendência, da terra do seu cativeiro; Jacó voltará e ficará tranqüilo e confiante; não haverá quem o atemorize.
28 Não temas, servo meu, Jacó, diz o ETERNO, porque estou contigo; darei cabo de todas as nações para as quais eu te arrojei; mas de ti não darei cabo; castigar-te-ei, mas em justa medida; não te inocentarei de todo.

BO
Sl 77

1 Elevo a D-us a minha voz e clamo, elevo a D-us a minha voz, para que me atenda.
2 No dia da minha angústia, procuro o ETERNO; erguem-se as minhas mãos durante a noite e não se cansam; a minha alma recusa consolar-se.
3 Lembro-me de D-us e passo a gemer; medito, e me desfalece o espírito.
4 Não me deixas pregar os olhos; tão perturbado estou, que nem posso falar.
5 Penso nos dias de outrora, trago à lembrança os anos de passados tempos.
6 De noite indago o meu íntimo, e o meu espírito perscruta.
7 Rejeita o ETERNO para sempre? Acaso, não torna a ser propício?
8 Cessou perpetuamente a sua graça? Caducou a sua promessa para todas as gerações?
9 Esqueceu-se D-us de ser benigno? Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias?
10 Então, disse eu: isto é a minha aflição; mudou-se a destra do Altíssimo.
11 Recordo os feitos do ETERNO, pois me lembro das tuas maravilhas da antiguidade.
12 Considero também nas tuas obras todas e cogito dos teus prodígios.
13 O teu caminho, ó D-us, é de santidade. Que D-us é tão grande como o nosso D-us?
14 Tu és o D-us que operas maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o teu poder.
15 Com o teu braço remiste o teu povo, os filhos de Jacó e de José.
16 Viram-te as águas, ó D-us; as águas te viram e temeram, até os abismos se abalaram.
17 Grossas nuvens se desfizeram em água; houve trovões nos espaços; também as suas setas cruzaram de uma parte para outra.
18 O ribombar do teu trovão ecoou na redondeza; os relâmpagos alumiaram o mundo; a terra se abalou e tremeu.
19 Pelo mar foi o teu caminho; as tuas veredas, pelas grandes águas; e não se descobrem os teus vestígios.
20 O teu povo, tu o conduziste, como rebanho, pelas mãos de Moisés e de Arão.
 Ricardo de Albuquerque Crasto
    ricardocrasto@globo.com

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Shema - Hebraico - Transliterado - Português Devarim (Deuteronômio) 6:4-9; 11:13-21 שְׁמַע יִשְׂרָאֵל ; יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד׃ וְאָהַבְתָּ, אֵת יְהוָה אֱלֹהֶיךָ; בְּכָל־לְבָבְךָ וּבְכָל־נַפְשְׁךָ וּבְכָל־מְאֹדֶךָ׃ וְהָיוּ הַדְּבָרִים הָאֵלֶּה, אֲשֶׁר אָנֹכִי מְצַוְּךָ הַיּוֹם עַל־לְבָבֶךָ׃ וְשִׁנַּנְתָּם לְבָנֶיךָ, וְדִבַּרְתָּ בָּם; בְּשִׁבְתְּךָ בְּבֵיתֶךָ וּבְלֶכְתְּךָ בַדֶּרֶךְ, וּבְשָׁכְבְּךָ וּבְקוּמֶךָ׃ וּקְשַׁרְתָּם לְאוֹת עַל־יָדֶךָ; וְהָיוּ לְטֹטָפֹת בֵּין עֵי נֶיךָ׃ וּכְתַבְתָּם עַל־מְזוּזֹת בֵּיתֶךָ וּבִשְׁעָרֶיךָ׃ וְהָיָה, אִם־שָׁמֹעַ תִּשְׁמְעוּ אֶל־מִצְוֹתַי, אֲשֶׁר אָנֹכִי מְצַוֶּה אֶתְכֶם הַיּוֹם; לְאַהֲבָה אֶת־יְהוָה אֱלֹהֵיכֶם וּלְעָבְדוֹ, ְּכָל־לְבַבְכֶם וּבְכָל־נַפְשְׁכֶם׃ וְנָתַתִּי מְטַר־אַרְצְכֶם בְּעִתּוֹ יוֹרֶה וּמַלְקוֹשׁ; וְאָסַפְתָּ דְגָנֶךָ, וְתִירֹשְׁךָ וְיִצְהָרֶךָ׃ וְנָתַתִּי עֵשֶׂב בְּשָׂדְךָ לִבְהֶמְתֶּךָ; וְאָכַלְתָּ וְשָׂבָעְתָּ׃ הִשָּׁמְרוּ לָכֶם, פֶּן יִפְתֶּה לְבַבְכֶם; וְסַרְתֶּם, וַעֲבַדְתֶּם אֱלֹהִים אֲחֵרִים, וְהִשְׁתַּחֲוִיתֶם ...

A Tanach fala de anjos caídos? Diabo é conceito judaico?

A Tanach fala de anjos caídos? Diabo é conceito judaico? Por que coloco esta página aos meus amigos e interessados? Eu sempre digo aos meus ouvintes, que antes de querer seguir qualquer coisa que dizem estar na ‘Bíblia’, devem notar na História, se o fato é real. Tudo que aconteceu com o povo de Israel, foi anotado nos livros de História, se não na Mundial, pelo menos em livros de História de Israel. Quanto tempo dura um mito? O tempo em que você acredita nele, até descobrir a realidade.   Pelo fato de que muitos acreditam que a ‘doutrina ‘ de demônios e seu grande chefe Lúcifer é um conceito judaico. Isso é o que veremos a seguir, não só pela história pagã deste ser mitológico, mas como pelas próprias ESCRITURAS Hebraicas, o TANAKH.   Bem, antes de qualquer coisa, confesso que eu mesmo já acreditei neste mito, crendo da mesma forma que muitos de vocês crêem, ou criam: Ele era um anjo de D”s, que um dia se rebelou, e foi destituído de seu poder, vindo a ser...