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A Verdade sobre o Bezerro de Ouro

A Verdade sobre o Bezerro de Ouro

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“Ele os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro. Então disseram: “Eis aí o seu deus, ó Israel, que te tirou do Egito!” (Êxodo 32:4)

Desde o Êxodo, a Bíblia Hebraica faz inúmeras referências aos israelitas cultuando bezerros de ouro.
Não apenas durante o êxodo, mas também depois, durante a época dos reis, o bezerro de ouro era amplamente cultuado, especialmente no Reino do Norte, depois de Israel se dividir em duas partes:
“Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teu deus, ó Israel, que te fez subir da terra do Egito. E pôs um em Betel, e colocou o outro em Dã.” (1 Reis 12:28-29)
O que poucos sabem é que existe comprovação arqueológica de que o relato bíblico sobre o culto ao bezerro de ouro é verdadeiro.
Desde a década de 60, arqueólogos têm encontrado diversas imagens de bezerros dourados em Israel, em várias regiões.
Centenas delas encontradas em uma das regiões mais importantes dos tempos bíblicos, Samaria, capital do Reino do Norte, frequentemente acusada pelos profetas justamente quanto à idolatria a esse culto.
Ao lado, imagem do bezerro dourado – feito de bronze e prata – encontrado em 1990, numa escavação em Ashkelon, datando de cerca de 1550 a.e.c.
Mas, a dúvida é: Por que o bezerro e o que ele representava?
Para a cultura cananéia, a imagem do bezerro de ouro remetia a Baal, mas também principalmente à principal divindade do panteão cananeu, a quem os textos ugaríticos chamam de Toru-El – literalmente, no português – “El, o touro” ou ainda “o deus touro”.
A Jewish Study Bible, no seu comentário de Oséias 8:4-6 melhor explica o sentido: “o bezerro, um jovem touro, geralmente representante de força e fertilidade.”
Os touros eram os maiores dentre os animais domésticos, muito usados como animais de tração, especialmente na lavoura. E os bezerros, em virtude de sua jovialidade e sua conexão com o leite, eram vistos como símbolos de fertilidade.
Para os cananeus, o bezerro continha dentro de si toda a vitalidade de um adulto, ainda por despontar. Razão pela qual não era raro que fossem utilizados em rituais de fertilidade, algo que será tratado noutra ocasião.
Considerando que o clima da antiga Canaã era semi-árido (e assim o é até hoje), o culto à fertilidade tinha grande importância para os moradores da região.
Uma vez que o Egito tinha grande influência sobre a região, é possível que o culto a Toru-El tenha sofrido influência do culto egípcio a Apis – ou Hapis – uma divindade que era tida como filho de Hator, deusa egípcia da fertilidade.
Apis, um filho de deus, era tido como uma espécie de mediador entre as divindade e o ser humano, o que explicaria sua popularidade.
Ao lado, detalhe de uma estela dedicada a Apis, datando de cerca de 644 a.e.c., hoje parte do Louvre, em Paris.
Embora não se possa dizer isso com certeza, é possível que a popularidade do culto a touros explique Salomão ter adornado o lavatório do Templo, chamado mar de bronze, com doze touros (vide 1 Reis 7:44), numa tentativa de mostrá-los como criaturas a submissas ao poder do Eterno. (Concepção artística do mar de bronze ao lado)
Fato é que o sincretismo religioso era bastante comum no antigo Oriente Médio, razão pela qual os israelitas por diversas vezes tentaram igualar YHWH a Toru-El dos cananeus, o que foi sempre duramente repreendido nos textos bíblicos.
Até porque, o culto cananeu a Toru-El e Baal era extremamente sanguinário e envolvia, entre outras coisas, prostituição ritual e sacrifício de crianças, o que será explorado noutro texto.
Entendendo a cultura semita, fica bem mais fácil de compreender a mensagem da Bíblia Hebraica, sua história e as advertências dos profetas.
Fontes:
BARTON, John (Ed.); MUDDIMAN, John (Ed.). The Oxford Bible Commentary. Oxford: Oxford University Press, 2007.
BERLIN, Adele (Ed.); BRETTLER, Marc Z. (Ed.). The Jewish Study Bible. Nova Iorque: Oxford University Press, 2004.
BRINKLEY, Joel. Archeologists Unearth ‘Golden Calf’ in Israel. The New York Times, Nova Iorque, 25 de julho de 1990.
Stele dedicated by King Amasis to the Apis bull that died during his reign. Paris: Louvre – Department of Near Eastern Antiquities: Levant. Disponível em: <https://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/stele-dedicated-king-amasis-apis-bull-died-during-his-reign>. Acesso em 10/08/2018.
Gilded bullock known as the Golden Calf. Paris: Louvre – Department of Near Eastern Antiquities: Levant. Disponível em: <https://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/gilded-bullock-known-golden-calf>. Acesso em 10/08/2018

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