A MATANÇA DOS JUDEUS DE 1391 E OS ANUSSIM
O ano de 5151 foi um ano catastrófico para toda Judiaria Espanhola. Já fazia muitos anos que o "zêlo" fanático de alguns frades dominicanos, mantinham olhos e ouvidos atentos dentro de todas as esferas da sociedade ibérica, e este "zêlo" nunca foi recriminado pelos reis e aos poucos foi ganhando forma e nome.
Desde 1378, o arcediano, como era chamado o diácono-maior, de Ecija, o andalus Ferrán Martinez, intentava contra os judeus e buscava sua expulsão da região de Sevilha. Os judeus de Sevilha em 11/02/1383 através de seu presidente, o comerciante de tecidos Judah Aben Abraham e outras autoridades denunciaram Ferrán Martinez aos Alcaides Maiores e foi proibido de exercer suas atividades eclesiásticas e proibido fazer qualquer julgamento sob pena de excomunhão.
Ferrán Martinez era confesor da rainha Leonor, esposa do rei Juan I de Castela, que veio a falecer em 1390. Assim, seu filho Henrique III de Castela, de onze anos de idade, passa a regência do reino para sua mãe. Três meses depois da morte do rei, Ferrán Martinez passa a arcebispo, fortalecido de tal maneira, emitiu em dezembro de 1390 uma ordem que destruissem todas as sinagogas existentes e enviasse a Sevilha todos os rolos da Torá, objetos rituais, Talmud e todos os livros em hebraico para serem queimados.
Em março de 1391 se deu o primeiro massacre em Sevilha. Infelizmente o pior estava por vir, no dia 4 de junho de 1391 uma multidão, encabeçada pelos dominicanos autodenominados "cães de cristo" ou "matadores de judeus", invade a juderia e destroem 23 sinagogas e assassinam mais de 4000 mil judeus, enquanto torturavam os demais por dias. Os sobreviventes correm para as igrejas, pois se batizando salvam suas vidas, família e o resto dos bens. O Tumulto se espalha para Córdoba onde assassinam 2000 judeus, depois em Toledo com mais de 1000 judeus mortos e daí, feito redemoinho se espalha por todo o reino de Castela, Aragão, Catalunha, até Perpignan, Majorca e o reino de Navarra. Cada cidade foi atacada, e somente pararam no fim de agosto de 1931. Segundo Cecil Roth, 70.000 judeus foram assassinados e não se sabe um número grande de convertidos se produziu terrivelmente.
Amador de los Rios chama a atenção para as desastrosas consequências destas violências para a vida econômica espanhola, dizendo que foram destruídas as indústrias artesanais judaicas de tecidos, ouriversaria, curtumes, sedas, tapetes e tantos artigos preciosos de Sevilha, Córdoba, Toledo, Cuenca, Montoro, Jaén, Baeza, Ciudade Real, Segóvia, Lérida, Girona, Barcelona, Valência, Teruel e Mallorca, empobrecendo os judeus e a Espanha.
Os reis de Castela e Aragão trataram muito benignamente aqueles que maltratam os judeus e os conversos, e a partir daí iniciam uma política de perseguição, proibindo atividades conquistadas há vários séculos como arrecadação de taxas e impostos, o empréstimo de dinheiro, as funções de juízes perdendo a autonomia judicial, alcaides, porteiros, carniceiros, médicos, cirurgiões, almoxarifes, carpinteiros, boticários, curtidores, sapateiros. Nem poderiam vender pão, vinho, farinha, manteiga, nada de alimentos aos cristãos, nem possuir lojas e vendas. Não podiam usar nada luxuoso, livram os cristãos de castigo e culpas por não cumprirem integralmente os acordos e emprestimos com os judeus. Obrigando-os a viver em bairros separados, proibem o uso de barbas e cabelo longo, coisa que os distinguia facilmente dos católicos, e os obriga ao uso de insígnias: um pedaço de tecido redondo fixado no ombro, de cor vermelha no reino de Castela, e de cor metade vermelha e amarela no reino de Aragão.
Os sermões dos "cães de cristo e os matadores de judeus" deram frutos abundantes no ano 5151, conhecidos como "meses negros de zêlo". Entre os judeus, através do valor de suas letras guemátricas, o ano 151 equivalente a קנא que em hebraico quer dizer "zêlo" e também "inveja". Os organizadores daquelas matanças, os mensageiros do demônio, que semearam fogo e sangue por toda Espanha, o frade Ferran Martinez com o aval da Rainha de Castela e o frei Pedro de Olligoyen em Sevilha e Vicent Ferrer em Valência, não receberam qualquer castigo, do contrário, um deles foi canonizado e venerado para que continuem seguindo seu exemplo! No sangue derramado, a Igreja e os Reis lavaram as mãos.
Em Majorca a repressão foi maior contra os agitadores, mas começou 3 dias depois e já haviam assassinado 1/3 dos judeus. E as multas fixadas pela Rainha Violant de Bar alcançaram 120.000 florins de ouro, repartidos entre o rei e a igreja!
A partir de agosto de 1391 fecham-se os portos aos judeus e conversos que já haviam estavam fugindo para o norte da áfrica e outros portos. Alguns conseguiram e tentaram resgatar seus familiares que permaneceram em Espanha, sem muito sucesso. Os que fugiam foram mortos nos barcos, arrancados as tripas, pois achavam que os judeus carregavam jóis e ouro engolindo-os. Por toda a Espanha os judeus procuram os bispos para receber o batismo. A Igreja fez nestes "meses negros de zêlo" dezenas de milhares de novos adeptos, que fugindo da "paella" caem no fogo!
A partir de agosto de 1391 fecham-se os portos aos judeus e conversos que já haviam estavam fugindo para o norte da áfrica e outros portos. Alguns conseguiram e tentaram resgatar seus familiares que permaneceram em Espanha, sem muito sucesso. Os que fugiam foram mortos nos barcos, arrancados as tripas, pois achavam que os judeus carregavam jóis e ouro engolindo-os. Por toda a Espanha os judeus procuram os bispos para receber o batismo. A Igreja fez nestes "meses negros de zêlo" dezenas de milhares de novos adeptos, que fugindo da "paella" caem no fogo!
Nestes terriveis meses apareceu o problema que deu motivo para a Inquisição durante 500 anos de Santo Ofício. As autoridades católicas lhes chamaram de diversos nomes: forçados, batizados em pé, coacionados, conversos, marranos, xuetas, cristãos-novos, gente da nação. Os Sábios de Israel, usaram em toda sua literatura rabínica um único termo: ANUSSIM.
Ao batizar-se receberam muitas vezes os sobrenomes dos padrinhos, quase sempre gente nobre e senhores que lhes "amparavam" e conduziam à igreja. Três anos mais tarde, 150 famílias portuguesas, solicitam ao governo maiorquino, construir com ajuda dos judeus sobreviventes que se esconderam no palácio real na cidade de Palma, durante a matança. Em pouco tempo conseguiram comprar duas sinagogas na antiga juderia em Palma, uma em Barcelona, uma em Girona e aos poucos a vida foi sendo retomada em todas as juderias destruídas. Mas a partir de agora, existiam duas classes de judeus em toda Espanha, os judeus que sobreviveram aos massacres ou não foram afetados e os convertidos, que oficialmente eram cristãos, mas em seu interior não haviam rompido seu laço com o judaísmo.
A partir de 1453 talmuds são queimados em praça pública, livros em hebraico proibidos de imprimir e possuir, sinagogas destruídas e confiscadas, e os judeus novamente as reconstroem em outros bairros e novamente são confiscadas, até que passam a rezar em lugares menores e escondidos principalmente na Catalunha e Aragão, levando a um verdadeiro êxodo dos judeus para Castela, Portugal, Sicília, Nápoles, Grécia e norte da África. Os conversos se tornam suspeitosos pelos dois costados. Nem uma coisa e nem outra. Os cristãos os veem com maus olhos, suspeitando que a conversão não era sincera. E os judeus, os via passeando com os cristãos e assitindo suas missas, e perdem a confiança aos "renegados".
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